A morte de 28 cidadãos quenianos na cidade de Mandera, no Quênia, e a resposta imediata do Governo queniano são fatos que aumentam a tensão no Chifre da África[1][2]. A mídia internacional e as autoridades políticas viram seus olhos momentaneamente para a região e o que se observa é um crescente esforço do Governo queniano em combater o grupo terrorista islâmico Al-Shabaab.
Situado na região oriental, entre o Mar Vermelho e o Rio Nilo, o Chifre da África é morada de significativa parcela dos mulçumanos que habitam o continente africano. Segundo o acadêmico inglês Albert Hourani, as origens mulçumanas nesta região datam do século VII, quando refugiados da primeira Hijarah abandonaram a península arábica em resposta à perseguição da tribo dominante Qurashy[3].
Estrategicamente, as regiões de maioria mulçumana tem ocupado posição central dentro da política internacional americana e europeia, principalmente após os ataques terroristas às torres gêmeas em 2001. No que diz respeito ao Continente Africano, não somente o norte da África tem presenciado maciças intervenções, mas, assim como o Chifre da África, também é alvo de empreitadas internacionais.
Atualmente, a região é morada de um dos principais grupos ligados a Al-Qaeda: o grupo extremista Al-Shabaab, atuante na Somália, que traduzido para o português significa “a juventude”. Além disso, em 1998, as embaixadas norte-americanas no Quênia e na Tanzânia foram alvos de ataques[4]. Tendo isto em vista, ambos os fatos despertam o interesse, principalmente por parte dos Estados Unidos, em intervir na região, a fim de mitigar os riscos de futuros ataques terroristas.
A aliança entre o Governo queniano e o Governo norte-americano é um dos principais exemplos do crescente interesse internacional no combate ao terrorismo na área[4]. Os programas State Department East Africa Regional Strategic Initiative (EARSI) e US Africa Command (AFRICOM)[5] são programas onde se evidenciam que um dos principiais objetivos desta união é capacitar forças africanas na luta contra o Al-Shabaab[6].
Nos últimos anos, o Exército queniano se reforçou e intensificou a luta contra o grupo extremista a fim de garantir a segurança de seus cidadãos e a estabilidade em suas fronteiras. Em 2011, tropas quenianas invadiram a Somália com o intuito de capturar membros importantes do grupo terrorista. Em resposta, o Al-Shabaab levou a cabo ataques terroristas dentro do Quênia, como o caso do ataque ao shopping Westgate, em Nairóbi, no ano passado.
O aumento da tensão na região pode ser evidenciado nas continuas excursões da polícia queniana às mesquitas, em busca de armas e possíveis membros do Al-Shabaab. No início da semana passada, a polícia de Mombassa prendeu cerca de 150 pessoas e inúmeras armas de fogo após invadir três mesquitas na cidade. Segundo declarações de membros do grupo terrorista, as mortes ocorridas em Mandera na semana passada foram uma resposta às invasões nas mesquitas em Mombassa[7].
Assim, em respostas posteriores de contínuas réplicas de ambos os lados, presenciar-se-á nos próximos anos o desenrolar de uma situação delicada: a luta entre uma nação que tenta se afirmar como a principal potência africana oriental e um grupo terrorista que assombra a execução este projeto; uma situação que será vigiada atentamente pelos Estados Unidos e pela União Europeia.
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Imagem (Fonte – Global Research):
http://www.globalresearch.ca/the-horns-of-africa-neo-colonialism-oil-wars-and-terror-games/5355993
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Fontes Consultadas:
[1] Ver “Agência Reuters”:
http://www.reuters.com/article/2014/11/22/us-kenya-attacks-idUSKCN0J604W20141122
[2] Ver “The Guardian”:
[3] HOURANI, A. Uma História dos povos árabes. São Paulo: Companhia de Bolso, 1° Ed., 2006.
[4] Ver “Foreign Affairs”:
http://www.foreignaffairs.com/articles/136670/daniel-branch/why-kenya-invaded-somalia
[5] Ver “Congressional Research Service”:
http://www.fas.org/sgp/crs/terror/R41473.pdf
[6] Ver “The East African”:
[7] Ver “Al Jazeera”: