Segundo especialistas, atualmente o mundo enfrenta um déficit de governança global onde é apresentado um cenário em que os EUA e muitos países da União Europeia (UE) querem manter certo nível de rivalidade com a…
Em 26 de março (2020), foi realizado um encontro virtual extraordinário pelo grupo das vinte maiores economias do mundo (G20) para coordenar uma resposta à pandemia do Coronavírus, uma vez que a crise sanitária ameaça a economia mundial de uma recessão prolongada. Conjuntamente, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) reitera medidas de contenção cada vez mais rigorosas, necessárias para retardar a propagação do Covid-19, mas adverte que ocorrerão cenários que, necessariamente, levarão a declínios significativos no PIB (Produto Interno Bruto) de curto prazo para muitas das principais economias, de acordo com suas novas projeções.
A Federação Russa será uma das nações que terão sua perspectiva de crescimento econômico para 2020 afetada pelo desbalanceamento econômico global. A OCDE, através de seu relatório intitulado “Coronavirus: The World Economy at Risk” (tradução – Coronavírus: A Economia Mundial em Risco), cortou drasticamente sua previsão para a economia russa em torno de 25%, onde espera agora que o crescimento anual do PIB da Rússia chegue a apenas 1,2% em 2020 — abaixo dos 1,6% previstos no final de 2019.
Índice russo RTS
O relatório vem depois de uma semana histórica nos mercados financeiros, que viram bilhões de dólares serem dizimados à medida que os mercados de ações caíam. Na Rússia, o índice RTS* caiu 21% nas últimas semanas, pressionado para baixo à medida que os preços do petróleo caíam para US$ 24,63 (cotação do barril Brent em 27/03/20 – cerca de R$ 125,78**), menor valor nos últimos 17 anos. Preços mais baixos do petróleo pressionam o orçamento estatal russo, que ainda depende das exportações do óleo para uma parcela significativa de sua renda.
Reunião com Primeiro Ministro Mikhail Mishustin
A redução de 0,4 ponto percentual na previsão para 2020 para a Rússia foi proporcionalmente melhor do que a economia mundial como um todo, já que os economistas reduziram sua previsão para o crescimento global este ano de 2,9% para 2,4%. Apesar das quedas consecutivas da sua performance econômica, a Rússia se mantém otimista devido acontecimentos mundiais que consequentemente ajudarão na retomada da estabilidade econômica. Na última semana, a Organização Mundial da Saúde (OMS) disse que havia sinais de alguma estabilização no surto da Europa, com os bloqueios europeus começando a dar frutos. Enquanto isso, as autoridades monetárias e fiscais globais continuaram intensificando as medidas de alívio econômico.
A expectativa para a retomada da valorização do rublo (moeda nacional) em relação ao dólar americano é bastante esperada pelo Governo russo, depois de vários dias de negociações após seu dramático colapso assim que o país saiu do acordo de aliança petrolífera da OPEP+, no início de março.
Na última sexta feira, 3 de abril (2020), mercados financeiros do mundo, principalmente o russo, foram alimentados com a esperança de um novo acordo entre Arábia Saudita, Rússia e possivelmente EUA, a ser realizado em reunião que decidirá sobre cortes na produção de petróleo e na restauração do equilíbrio no mercado. O mercado de petróleo continua sob pressão de uma demanda em queda devido a restrições no transporte de pessoas e bens, impostas pelos governos para impedir a propagação da pandemia de COVID-19. Ao mesmo tempo, há um excesso de oferta devido à guerra de preços entre Riad e Moscou.
* O RTS Index (RTSI) é um índice sobre ações das 50 maiores empresas russas (à data de 17 de março de 2017) que são negociadas na Bolsa de Valores de Moscou (RTS Stock Exchange). A lista de ações que compõem o índice é revista trimestralmente pelo Comité de Informação do RTS. O índice foi criado com uma base 100, correspondente à capitalização das suas componentes no dia 1o de setembro de 1995. O mínimo histórico foi de 37,74 pontos no dia 5 de outubro de 1998 e o máximo histórico foi de 2.498,10 no dia 19 de maio de 2008.
** Cotação do dólar do mesmo dia – 1US$ = R$ 5,1066.
Estigmatizado, segundo biógrafos,
como detentor de um exacerbado conservadorismo contra a degeneração moral do Ocidente,
estruturando a defesa de um “caminho
russo” em face das supostas manobras hostis do exterior e defendendo a
afirmação de uma potência eurasiana como contrapeso à esfera atlântica, aceita-se,
no entanto, que Vladimir Vladimirovitch Putin, atual Presidente da Rússia,
desenhou por mais de duas décadas uma colcha de retalhos ideológica,
apresentando, de um lado, um toque de pragmatismo político onde a objetividade,
a praticidade e a sustentabilidade eram, na sua visão, a essência da bandeira
russa, ao mesmo tempo em que, do outro lado, defendia, com a mão pesada do
Estado, ações ideológicas antiocidentais, com o objetivo de estabilizar um país
seriamente afetado pela gigantesca crise econômica e social que a abalaram em
tempos recentes, tentando erradicar as feridas de um passado tenebroso,
paralelamente à tomada de ações que garantam a defesa da soberania do país.
Em 16 de fevereiro
(2020), após a assinatura de uma vasta reforma constitucional, a Federação
Russa se prepara para novos desígnios de governança que estão se alinhando no
cenário político do país. Putin, que desde 1999 vem exercendo na maior parte do
período o comando absoluto como Chefe de Estado, poderá, através de uma Emenda
Constitucional acrescentada à reforma proposta, estender seu papel como líder
da nação eslava por mais doze anos (até 2036), após o término do seu mandato
constitucional, que se encerrará em 2024.
Para esses críticos, os
principais perdedores deste jogo político serão os “liberais do sistema” que ainda esperavam uma mudança política
incremental de cima para baixo na Rússia, começando com um sistema político
mais competitivo em 2024. Agora, muitos desses “liberais do sistema” podem estar inclinados a acreditar que têm
mais em comum com a oposição do que com o Kremlin.
Tribunal Constitucional da Federação Russa
Considerada como uma
revolução legal, as reformas propostas também sugerem Emendas Constitucionais
para ampliar as garantias sociais, como a introdução da indexação anual das
pensões entre outros benefícios socioeconômicos. A mensagem para o eleitor
russo médio parece ser que uma ordem sociopolítica mais paternalista está a
caminho, principalmente em questões ideológicas que trouxeram Deus, as crianças
e a soberania à baila das discussões, que, segundo especialistas políticos, são
uma tentativa de transformar o Putinismo* em uma instituição estatal.
As declarações
constitucionais vêm na esteira de acontecimentos globais, tais como retirada da
Rússia de um acordo com a OPEP (Organização dos Países Exportadores de
Petróleo) para limitar a produção petrolífera, desencadeando uma queda
acentuada nos preços da commodity e,
crucialmente para a Rússia, na taxa de câmbio do rublo (moeda local), além do
enfrentamento nacional contra a pandemia do COVID-19. Esses dois eventos
poderiam abalar o status quo do atual
Governo, mas, segundo apoiadores de Putin, serão parte de um episódio que
fortalecerá o convencimento de que ele deve permanecer no comando para orientar
a Rússia ainda mais através da turbulência global.
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Nota:
* Segundo estudos
políticos, é a ideologia, as prioridades e políticas do regime de governo
praticado pelo presidente Vladimir Putin. O termo é utilizado na imprensa
ocidental muitas vezes com uma conotação negativa para descrever o sistema
político da Rússia sob Vladimir Putin como Presidente (2000-2008) e (2012-atual),
e como Primeiro-Ministro (2008-2012), em que grande parte da política e poderes
financeiros são controlados por grupos de pessoas pertencentes ao círculo de
confiança de Putin.
No último dia 5 de março (2020), em meio a uma desaceleração de acusações diplomáticas, a Rússia e a Turquia proclamaram um novo acordo de cessar-fogo para encerrar semanas de combate em Idlib, província da…
Pela
primeira vez, desde junho de 2018, a taxa de inflação anual da Federação Russa
caiu abaixo dos 3%. Segundo o Serviço Federal de Estatística Estadual
(Rosstat), nos últimos 12 meses, os preços ao consumidor no país aumentaram
apenas 2,4% (patamar atingido em janeiro de 2020) expondo uma dinâmica de
notável valorização da moeda russa (Rublo) ao longo do último ano.
Segundo
especialistas, o fortalecimento da unidade monetária russa em 2019 teve um
importante papel na desaceleração da inflação, levando a uma redução no custo
de bens importados para as empresas comerciais russas. Como resultado, o
crescimento dos preços dos produtos estrangeiros para cidadãos comuns está
desacelerando, embora atualmente exista uma certa pressão sobre o rublo
exercida pelo temor do mercado em torno do evento mundial do coronavírus
(Covid-19) e pelo baixo preço do barril de petróleo no mercado mundial.
Moeda de um rublo da Rússia
Sob
aspectos analíticos, a inflação recorde baixa na Rússia é uma vantagem clara
para a economia do país, devido ao fato de que um aumento de preços tão contido
poderá fornecer um ambiente muito mais previsível para fazer negócios, e também
permite que as famílias planejem melhor suas despesas. Vale ressaltar que entre
os principais fatores na desaceleração da inflação, segundo especialistas
econômicos, está o enfraquecimento da demanda dos consumidores na Rússia.
Conforme estimativas da Rosstat, em 2019, o crescimento da renda real
disponível da população acelerou de 0,1% para 0,8%, demonstrando que, nas
condições atuais, os russos até agora preferem economizar dinheiro em vez de
gastar, gerando, como resultado, a problematização do aumento dos preços de
venda pelos varejistas.
Histórico da taxa de juros da Rússia
Em
decorrência deste cenário, o Banco Central da Rússia cortou sua taxa de
referência sobre juros em 25 bps (basis
points*) para 6,00% durante sua reunião de fevereiro (2020) e sinalizou que
mais cortes nas taxas poderão ser efetivados em suas próximas reuniões, dizendo
que as expectativas de inflação permanecem estáveis no geral, enquanto os
riscos de uma substancial ameaça à desaceleração econômica global persistem.
Ainda assim, os formuladores de políticas observaram que a recente
flexibilização da política monetária pode ter um efeito ascendente mais forte
sobre a inflação do que se pensava anteriormente, enquanto o surto de
coronavírus será um fator de incerteza adicional nos próximos trimestres.
Note-se que, em 2019, o Banco Central russo reduziu sua taxa-chave cinco vezes
e reduziu-a de 7,75% para 6,25% ao ano, tornando seu valor o menor desde março
de 2014. Especialistas acreditam que as ações do Banco Central serão capazes de
fortalecer a demanda dos consumidores na Rússia. Em condições de inflação
baixa, o regulador pode reduzir ainda mais sua taxa-chave. No longo prazo, a
política das autoridades monetárias deve levar a empréstimos mais baratos, um
aumento na demanda interna e no investimento. Assim, o Banco Central da Rússia
será capaz de estimular a atividade empresarial e o crescimento econômico.
Logotipo do Banco Central da Rússia
Segundo
analistas, com essa política regulatória, o mercado financeiro russo espera uma
redução mais ativa das taxas de hipotecas. De acordo com os últimos dados do
Banco Central, em 2019, a taxa média de hipotecas na Rússia caiu para 9% ao
ano. O valor tornou-se o menor em todo o tempo de observação desse índice e, de
acordo com os resultados de 2020, a taxa média do financiamento imobiliário
poderá cair para os patamares entre 7-8%. Para comparação, há apenas um ano
esse número estava próximo de 10%.
Outro
ponto observado por esses analistas é que, com a redução da taxa de juros,
poderá ser afetado principalmente o mercado de títulos do governo russo. A
redução da taxa do Banco Central ao longo do tempo reduz o rendimento dos
títulos federais de empréstimos OFZ (do russo: Облигации Федерального Займа –
Títulos Federais de Empréstimo), de modo que os investidores estão tentando
pré-comprar títulos a um preço de pechincha. Ao mesmo tempo, a corrida do fluxo
de dinheiro para os OFZs russos pode apoiar a moeda nacional, pois, do ponto de
vista dos investimentos, os OFZs permanecem mais atraentes do que os títulos
governamentais dos países desenvolvidos. Além disso, os juros dos ativos russos
são apoiados por fatores macroeconômicos: redução da inflação e da dívida
pública, altas reservas internacionais e orçamento excedente. Tudo isso apoia
a demanda por títulos e moedas russos.
A próxima
reunião do Conselho de Administração do Banco Central está marcada para 20 de março
de 2020 e, de acordo com as expectativas do mercado, a alta gestão do Banco
Central russo poderá novamente reduzir a taxa, chegando aos 5,5% ao ano.
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Nota:
* Os pontos-base (bps) referem-se a uma
unidade comum de medida para taxas de juros e outros percentuais em finanças.
Um ponto-base é igual a 1/100 de 1%, ou 0,01%, e é usado para denotar a
variação percentual em um instrumento financeiro. A relação entre mudanças
percentuais e pontos-base pode ser resumida da seguinte forma: variação de 1% =
100 pontos-base e 0,01% = 1 ponto base.
À medida que
as nações buscam a diversificação de seus ativos e menos dependência do dólar,
o desejo de comprar ouro foi impulsionado, também nos últimos anos, pela incerteza econômica causada por tensões
comerciais, crescimento econômico mundial lento e um ambiente de baixa taxa de
juros.
O motivo para
essa corrida entre as nações do mundo pelo aumento de suas reservas de ouro em
seus Bancos Centrais é baseado principalmente pelas características específicas
que o nobre metal apresenta. O ouro é um ativo altamente líquido, mas escasso.
É comprado como um bem de luxo, tanto quanto um investimento, e, como tal, pode
desempenhar quatro papéis fundamentais em uma carteira:
• Uma fonte de retornos de longo prazo;
• Um diversificador que pode mitigar perdas em
tempos de estresse de mercado;
• Um ativo líquido sem risco de crédito, que
superou moedas fiduciárias;
• Um meio de melhorar o portfólio global da
performance econômica de um país.
Logotipo do World Gold Council
Desde 2001,
a demanda de investimentos por ouro mundial cresceu, em média, 15% ao ano, de
acordo com dados do World Gold Council (WGC). Isso tem sido impulsionado, em
parte, pelo advento de novas formas de acesso ao mercado, como fundos
negociados em bolsa (ETFs – Exchanged Trade Funds*) apoiados por ouro físico,
mas, também, pela expansão da classe média na Ásia e um foco renovado na gestão
efetiva de riscos após os ETFs de 2008-2009 (crise financeira nos EUA e na
Europa).
Histórico das reservas de ouro da Rússia – em toneladas
Hoje, o ouro
é mais relevante do que nunca para investidores institucionais atraídos pelo
papel do metal como diversificador, devido à sua baixa correlação com a maioria
dos ativos tradicionais (principalmente moedas fiduciárias que não apresentam
lastro), e como um hedge contra o
risco sistêmico e fortes recuos do mercado de ações. Como ativo estratégico,
historicamente melhorou o retorno ajustado ao risco das carteiras,
proporcionando retornos ao mesmo tempo em que reduz perdas e fornece liquidez
para atender passivos em tempos de estresse no mercado.
Ranking dos países produtores de ouro
Posto isso,
ao longo da última década, o aumento das incertezas econômica e geopolítica têm
sido as forças motrizes que impulsionaram a compra de ouro pelos principais
Bancos Centrais do planeta, particularmente a dos mercados emergentes. A década
foi cercada por políticas monetárias não convencionais (como taxas de juros
baixas ou negativas), a fim de restaurar a estabilidade econômica e o
crescimento, bem como o aumento do nacionalismo/populismo, guerras comerciais e
riscos de conflitos armados. Em resposta, os Bancos Centrais aumentaram sua
alocação para o ouro, como foi o caso da Federação Russa que, em 2019, comprou
159 toneladas, elevando as reservas do metal a 2.271,2 toneladas. Graças a esse
volume, o país eslavo se tornou o maior comprador de ouro monetário do ano,
acumulando 20% das transações globais, além da terceira posição mundial como
produtor.
Ranking dos países com maiores reservas de ouro
A Rússia
superou a China ainda em 2018, e a diferença entre os dois países só cresce.
Pequim adquiriu cerca de 100 toneladas de ouro em 2019, atingindo 1.948
toneladas. O ranking global de reservas de ouro é liderado pelos EUA (8.133,5
toneladas), Alemanha (3.366,5), Itália (2.451,8) e França (2.436,0); em quinto
lugar vem a Rússia.
Como as
reservas dos países líderes permanecem inalteradas há anos, não se pode
descartar que a Federação Russa venha a subir novas posições a partir de 2020.
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Nota:
* Exchange-Traded
Fund (ETF) é um fundo de investimento negociado na Bolsa de Valores como se
fosse uma ação. Um ETF detém ativos como ações, commodities ou títulos e,
geralmente, opera com um mecanismo de arbitragem projetado para mantê-lo
negociando próximo do seu valor patrimonial líquido, embora ocasionalmente
possam ocorrer desvios. A maioria dos ETFs acompanham um índice, como um índice
de ações ou índice de títulos, como, por exemplo, o Ibovespa Fundo de Índice
(BOVA11). Neste caso, se o Ibovespa subir 10% em um mês, o ETF do Ibovespa vai
ter um desempenho muito parecido, já descontando a taxa de administração. Caso
o índice se desvalorize, o mesmo vai acontecer com a cota do ETF. Os ETFs podem ser atraentes como investimentos por causa de
seus baixos custos, eficiência tributária e recursos semelhantes a ações.
Considerada um marco sem precedentes na história da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), a Declaração de Cooperação entre as nações do grupo, que tem por objetivo o esforço conjunto para acelerar a estabilização…
O ano de 2020 teve
início com um desbalanceamento geopolítico e econômico de proporção global,
devido a um bombardeio cirúrgico e fatal perpetrado no dia 3 de janeiro pelo
Governo norte-americano, no aeroporto internacional de Bagdá, capital do
Iraque.
Qassem Soleimani (esquerda) e Abu Mehdi al-Muhandis (direita)
O ataque causou a morte
do major-general iraniano Qassem Soleimani, responsável pelo Corpo da Guarda
Revolucionária Islâmica (IRGC) e comandante da Força Quds, uma divisão
responsável por operações militares extraterritoriais, e de seu braço direito,
Abu Mehdi al-Muhandis, um dos principais líderes das Forças de Mobilização
Popular, ou Hashd al-Shaabi, uma coalizão paramilitar pró-Teerã integrada ao
Estado iraquiano.
Declarações
provindas do Pentágono deixaram claro que o principal objetivo desse ataque
foi “eliminar” uma liderança
ideológica com pretensões terroristas, e que representava uma ameaça aos EUA e ao
mundo civilizado.
As reações ao bombardeio
foram quase imediatas. China, União Europeia, Grã-Bretanha, França e Alemanha pediram
calma e prudência, ao mesmo tempo em que o Irã e seus movimentos satélites,
como o Hezbollah* libanês, o Hamas** palestino e os Houthis iemenitas clamaram por
vingança.
De certo, o
questionamento da comunidade internacional é grande em determinar quais serão
os próximos movimentos a serem executados pelos EUA e Irã, mas, outro grande e
importante ponto de interrogação é qual será o comportamento da Rússia em meio
a um possível confronto entre as duas nações, e porque especificamente a Rússia
e não outra nação.
Historicamente, a Rússia
lutou contra a Turquia, a Inglaterra e a França pelo acesso ao Mediterrâneo em
tempos passados para proteger os cristãos do domínio otomano, e para garantir
uma posição na Terra Santa. Durante a maior parte da era pós-Segunda Guerra
Mundial, a União Soviética foi uma força importante no Oriente Médio. Moscou
apoiou a Organização de Libertação da Palestina (OLP) em sua luta contra a denominada
“entidade sionista”. Egito e Síria
travaram guerras contra Israel com armas soviéticas, ajuda de conselheiros
militares soviéticos e, ocasionalmente, até mesmo pilotos soviéticos foram
utilizados no conflito, segundo fontes históricas. Engenheiros e muito dinheiro
soviético ajudaram a construir obras de infraestrutura no Egito. Então, no
final dos anos 1980, a União Soviética caiu em tempos difíceis e rapidamente se
retirou da região, deixando o legado hegemônico local para seu inimigo
ideológico à época, os EUA.
Atualmente, segundo
especialistas, a Federação Russa vem agindo como um rolo compressor no Oriente
Médio. O poder aéreo russo salvou o regime de Bashar al Assad de uma certa
derrota não só contra grupos rebeldes, mas, também, contra o Estado Islâmico. A
Turquia e Israel têm agora de aceitar a presença de tropas russas nas suas
fronteiras. A Arábia Saudita deu ao Presidente russo, Vladimir Putin, o
tratamento do tapete vermelho por ser um grande parceiro estratégico dentro da
OPEP+ (Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados). Em todo o
Oriente Médio, do norte da África ao Golfo Pérsico, a Rússia é onipresente, com
seus visitantes de alto escalão, suas armas, seus soldados e seus acordos para
construir usinas nucleares.
O ressurgimento da
Rússia como um grande agente de poder no Oriente Médio está operando não só em
contraste com a postura errática dos Estados Unidos na região, mas, porque, por
um quarto de século após a Guerra Fria, a Rússia esteve localmente ausente e
essa ausência, e não o seu regresso, é que seria a verdadeira anomalia
geopolítica, deixando claro seu verdadeiro papel dentro da região e porque sua
atuação em desbalanceamentos sistêmicos é tão importante não só para a
localidade, mas, também, globalmente.
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, com o presidente do Irã, Hassan Rouhani
Apesar de Moscou ter
proferido críticas ao governo Trump por assassinar Soleimani, até agora a
Rússia permaneceu em silêncio em relação ao que irá fazer sobre o assunto, mas,
de certo, qualquer ajuda por parte dela ao Irã, caso haja um conflito direto
com os EUA, seria especificamente para proteger seus próprios interesses
regionais, principalmente o de âmbito econômico, pois, segundo analistas, a relação
entre os dois países seria apenas de parceiros táticos e não de aliados
estratégicos, por conta de seus diferentes objetivos globais.
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Notas:
* O Hezbollah, que em árabe significa ‘Partido de Deus’, é uma força islâmica xiita com estrutura similar
à do Exército e, ao mesmo tempo, um grupo político com sede no Líbano. Ele
nasceu em 1982, durante a Guerra Civil
Libanesa, a princípio como uma milícia, ou seja, constituída por
cidadãos libaneses portadores de armas e de um suposto poder policial.
** Hamas é a sigla de Ḥarakat
al-Muqāwamat al-Islāmiyyah (em português, Movimento de Resistência Islâmica). O
grupo tem origem palestina e baseia-se nos princípios sunitas. A organização
divide-se entre as brigadas Izz ad-Din al-Qassam (braço armado), um partido
político e uma estrutura de cunho filantrópico. Com essa formação, o Hamas é
considerado um dos movimentos islâmicos e fundamentalistas mais importantes da
Palestina. A origem do Hamas remete ao ano de 1987, quando o grupo foi
instituído a partir da Primeira Intifada, manifestação da população da Palestina contra a
ocupação de Israel.
No último
dia 2 de dezembro (2019), um dos mais ambiciosos projetos na área energética,
que a Federação Russa vinha estruturando através de sua empresa estatal
Gazprom, tomou corpo com a entrega do gasoduto “Poder da Sibéria”, o qual será uma via de fornecimento de gás para
o maior consumidor de energia do planeta, a China.
Estrutura em zona costeira do gasoduto ‘Poder da Sibéria
O acordo
de fornecimento energético através da rota oriental, que leva o nome do
gasoduto, havia sido assinado em maio de 2014, após dez anos de negociações, por
duas das maiores empresas mundiais do setor, a russa Gazprom e a China National
Petroleum Corporation (CNPC), e prevê o fornecimento durante um prazo de 30
anos de um montante estimado em 38 bilhões de metros cúbicos anuais de gás.
Segundo especialistas, tal negociação já foi batizada de “o acordo do século”, onde a importância do evento não só será
benéfica para as duas nações, como também para o mercado energético global.
O valor
total do contrato foi, à época da assinatura, de US$ 400 bilhões
(aproximadamente R$ 1,652 trilhão*), segundo o CEO (Chief
Executive Office) da Gazprom, Aleksey Miller, deixando claro que o preço de fornecimento
da commodity ainda seria um “segredo comercial”, com o valor de
entrega para contrato vinculado aos preços do petróleo no mercado mundial. Supondo
que o preço global do contrato inclui
apenas o custo do fornecimento de gás russo, poderia se chegar numa conta
básica, onde a China supostamente iria pagar cerca de US$ 0,35 por metro cúbico
(aproximadamente R$ 1,445*).
Em termos de
investimento em infraestrutura, o montante foi de US$ 77 bilhões (aproximadamente
R$ 318 bilhões*), sendo o maior projeto de construção do mundo e o maior
contrato da Gazprom até a data, com a Rússia fornecendo US$ 55 bilhões
(aproximadamente R$ 227 bilhões*) e a China US$ 22 bilhões (aproximadamente R$
91 bilhões*) para oleodutos em seus respectivos territórios.
Rotas do gasoduto ‘Poder da Sibéria’
Em seus mais de 3 mil
quilômetros de extensão, o “Poder da
Sibéria” atingiu níveis elevados de tecnologia em sistemas de transmissão
de gás, com instalações totalmente fabricadas em território russo e que estão
capacitadas a enfrentar qualquer tipo de terreno e temperatura. A rota do
oleoduto passa por áreas pantanosas, montanhosas, sismicamente ativas,
permafrost** e rochosas com condições ambientais extremas. As temperaturas do
ar mais baixas absolutas ao longo dessa rota variam de 41 graus Celsius
negativos (-41º C), na região de Amur, a 62 graus Celsius negativos (-62º C),
na República de Sakha (Yakutia).
Instalação do gasoduto ‘Poder da Sibéria
Economicamente, o
projeto ultrapassou certas expectativas, pois permitirá à China assegurar um
abastecimento fixo no meio de uma escassez de produção interna e das exigências
de ser a segunda economia do mundo. Também permitirá a Pequim ficar
parcialmente independente do consumo de carvão e petróleo como principais
fontes de energia e trocá-las pelo gás, que é menos poluente e deixa uma menor pegada
de CO2 (gás carbônico).
Pelo lado da Rússia, foi
demonstrada uma excelente administração político-econômica, devido à construção
do gasoduto transcorrer em meio a um período de extremas incertezas por conta
das imposições de sanções provindas dos EUA e da União Europeia, além de
conseguir ser um parceiro comercial de peso ao lado da China, abrindo portas
para conquistas muito maiores.
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Notas:
* Cotação do dólar em 08/12/19 >> US$ 1,00 = R$ 4,13.
** O permafrost ou pergelissolo (em português) é o tipo de solo encontrado
nas regiões do Ártico e da Sibéria. É constituído por terra, gelo e rochas
permanentemente congelados (do inglês perma = permanente, e frost = congelado,
ou seja: solo permanentemente congelado). Esta camada é recoberta por uma
camada de gelo e neve que no inverno chega a atingir 300 metros de profundidade
em alguns locais. Ao derreter-se no verão, reduz-se entre 0,5 a 2 metros,
tornando a superfície do solo pantanosa, uma vez que as águas não são
absorvidas pelo solo congelado.
No mês de novembro de 2019, o preço do barril de petróleo Brent* demonstrou uma acentuada volatilidade no mercado mundial, com picos que chegaram aos 5,64% na alta (US$ 64,05 p/ barril**) e 5,15% na…