Que política e futebol caminham juntos e são indissociáveis, a utilização deste esporte como uma ferramenta de poder nas relações internacionais corrobora plenamente esta suposição. Que os interesses políticos e econômicos sempre foram por demasiado importantes para a indústria do futebol, as elevadas cifras movimentadas e os contratos de publicidade, marketing e exploração dos direitos televisivos das competições futebolísticas endossam completamente esta afirmação. Outrossim, que a política internacional e os negócios são os mais importantes fatores a serem considerados na avaliação de candidaturas para sediar a Copa do Mundo FIFA de Futebol, a escolha de África do Sul (2010), Brasil (2014) e Rússia (2018) como países-sede, constata uma lógica bastante perspicaz: os três são países emergentes, com mercados lucrativos, e buscam inserir-se de forma positiva no cenário internacional.
Entretanto, o tão apregoado fair play futebolístico, que demanda, acima de tudo, um comportamento ético dos agentes, parece, segundo as mais diversas opiniões e análises, não ser uma característica presente na política levada a cabo pela FIFA, entidade máxima do universo do futebol. Segundo Andrew Jennings, jornalista escocês que desde 1998 investiga as relações entre os dirigentes da FIFA e inúmeras empresas multinacionais, a Entidade tem por costume adotar práticas como manipulação de resultados de jogos, eleições fraudulentas e negociatas no processo de escolha dos países-sede da Copa. E este é apenas um dos inúmeros aspectos negativos retratados por Jennings, que, inclusive, já publicou dois livros com suas análises sobre a FIFA.
Assim, envolta em inúmeros escândalos e denúncias de corrupção, poder-se-ia supor a existência de certo padrão na política internacional engendrada pela FIFA, o qual, segundo os mais diversos analistas internacionais, careceria de ética e estaria eivado de suspeitas de corrupção. Não por acaso, há menos de dez dias do início da Copa 2014, notícias dão conta de mais um escândalo no seio da Entidade: a suspeita de que o pleito para escolha da Copa do Mundo de 2022, a ser realizada no Qatar, foi inteiramente fraudado.
De acordo com o The Sunday Times, jornal inglês de grande credibilidade, Mohamed Bin Hammam, ex-integrante do Comitê Executivo da FIFA e ex-representante do Qatar na Entidade, teria repassado U$5 milhões a dirigentes da FIFA para que estes votassem a favor da escolha do Qatar para país-sede da Copa 2022. Ainda segundo Jennings, Bin Hammam teria pago a dirigentes do futebol africano, a Reynald Temarii, ex-membro do Comitê Executivo da FIFA para Oceania, e a Jack Warner, da Confederação de Futebol da América do Norte, Central e Caribe (CONCACAF), no intuito de que estes endossassem a candidatura do Qatar para país-sede da Copa 2022, o que, alega o jornal, tem provas concretas sobre tais pagamentos.
Por outro lado, agora, segundo o jornal inglês The Telegraph, em 2010, um mês antes da eleição em que se decidiria pela escolha do Qatar como país-sede da Copa 2022, houve uma reunião entre Michel Platini, ex-presidente da Federação Francesa de Futebol e atual presidente da UEFA, Bin Hammame o à época presidente francês Nicolas Sarkozy, evidência esta que faz da Federação Francesa a primeira federação europeia envolvida nesta denúncia de corrupção.
Curiosamente, aponta o The Telegraph que, em 2011, o Paris Saint-Germain, clube pelo qual Sarkozy torce, foi comprado pela Qatar Sports Investiments, uma empresa estatal do Qatar, e Laurent Platini, filho de Michel Platini, tornou-se CEO da Burrda, uma empresa esportiva qatari. Em adição, afirma o jornal que documentos mostram que Bin Hammam negociou inúmeros acordos comerciais com países nos quais as federações de futebol estavam habilitadas a votar na eleição do país-sede da Copa 2022.
Diante de tais fatos, foi organizada, pela própria FIFA, uma comissão de investigação para apurar as denúncias de corrupção relacionadas a exitosa escolha do Qatar como país-sede da Copa 2022. Cabe ressaltar que, anteriormente acusada de subornar representantes da FIFA para garantir votos favoráveis, a Associação de Futebol do Qatar e os integrantes do Comitê de Candidatura negaram existir quaisquer vínculos com Bin Hammam, que teria deixado o cargo no comitê executivo da FIFA em 2011, após ter seu nome envolvido em um escândalo de corrupção em sua própria campanha para ocupar a presidência da Associação Qatari.
Caso sejam comprovadas irregularidades no pleito, Theo Zwanziger, membro do conselho executivo da FIFA, aponta como medida a realização de um novo pleito para escolha do país-sede de 2002. Neste sentido, os Estados Unidos (EUA), que foram preteridos em prol do Qatar como país-sede para 2022, já se preparam para relançar sua candidatura para sediar a Copa do Mundo 2022.
Isto posto, torna-se cada vez mais visível a preponderância de fatores políticos em detrimento dos especificamente voltados ao futebol no seio da FIFA, bem como a existência de práticas reprováveis no que tange ao processo de escolha dos países-sede da Copa do Mundo, que de tão importantes e vantajosas se tornaram empreitadas de grande apelo diplomático e econômico para os países que compõe o universo futebolístico.
——————————————-
Imagem “Seguindo o Padrão FIFA” (Fonte):
http://rabi-rabix.blogspot.com.br/2012_07_01_archive.html
——————————————-
Fontes Consultadas:
Ver:
http://www.dw.de/escolha-do-catar-para-sede-da-copa-de-2022-foi-negociada-diz-jornal-inglês/a-17675504
Ver:
http://www.telegraph.co.uk/sport/football/world-cup/10871065/Qatar-World-Cup-2022-France-embroiled-in-corruption-scandal.html
Ver:
http://www.thesundaytimes.co.uk/sto/news/uk_news/fifa/article1417325.ece