A “Organização das Nações Unidas” (ONU) alertou a Síria nesta terça-feira, 8 de abril, quanto ao risco de escassez de alimentos devido à seca iminente no país. A ONU alarmou que uma seca na Síria pode levar à um record na quebra da safra de trigo e colocar milhões de habitantes em risco, já que o índice pluviométrico sírio desde setembro está inferior à metade da média para o período[1].
De acordo com o “Programa para Alimentação Mundial” (WFP, na sigla em inglês) da ONU, em março de 2014 foi fornecida alimentação para inéditos 4,1 milhões de sírios. Contudo, a ajuda alimentar internacional à Síria foi reduzida em um quinto, devido à falta de fundos dos doadores internacionais[2].
A “Porta-Voz do Programa da ONU para Alimentação Mundial”, Elisabeth Byrs, anunciou estar preocupada com o impacto que uma seca iminente possa ter no noroeste do país, principalmente nas cidades de Aleppo, Idlib e Hamah[1], assim como em “Al Raqqah”, “Al Hasakah” e “Deir el Zour” no nordeste[3]. O relatório da WFP informou que as áreas mais afetadas pela seca, as localizadas no noroeste, são tradicionalmente responsáveis por metade da produção de trigo síria. Além da falta de chuvas, muitas destas províncias presenciaram alguns dos piores combates nos últimos dois anos[3].
Segundo Byrs, até 6,5 milhões de sírios poderão precisar de ajuda alimentar de emergência, acima das cifras de 4,2 milhões atuais[1]. De acordo com o relatório da WFP, como resultado da seca, a Síria pode ser obrigada a importar mais do que os 5,1 milhões de toneladas de trigo que precisou no ano passado[1]. A agência da ONU estima que a produção de trigo no país será de somente 1,7 milhões à 2 milhões de toneladas este ano – um recorde de baixa[3]. Com a menor área plantada de trigo em 15 anos, a quebra de produção do cereal prevista é de 29% em relação à safra do ano passado e a colheita estimada em cerca de metade dos níveis pré-guerra, disse a WFP[4]. A produção de cevada e a agropecuária também têm sido atingidas.
Byrs relatou que o número de pessoas que necessitam de assistência alimentar deve aumentar nos próximos meses, uma vez que as condições de seca, agravadas pelos impactos da guerra civil, resultarão no colapso do setor agrícola[3]. Desde o início da guerra, o país vem sofrendo maciças faltas de abastecimento porque a luta tem se concentrado em áreas rurais – dominadas pela oposição – em torno de grandes cidades da Síria, incluindo a capital, e ao longo da fronteira com o Líbano, onde a maioria das terras agrícolas está localizada[3].
Além da pior seca desde 2008, estes três anos de guerra civil devastaram a infraestrutura do país, deixando danos de longo prazo para irrigação devido a danificação de bombas e canais, falhas no fornecimento de energia e falta de peças de reposição. De acordo com a agência, estes danos terão efeitos duradouros sobre a produção agrícola da Síria, mesmo depois que a paz for restaurada[4].
Na segunda-feira, 7 de abril, o “Programa para Alimentação Mundial da ONU” informou que em março foi forçado à reduzir o tamanho das suas cestas de alimento às famílias sírias em 20%[1]. A redução teria sido forçada pelos atrasos no recebimento de fundos dos doadores internacionais. A cesta básica familiar para cinco pessoas inclui arroz, trigo para quibe, macarrão, grãos, óleo vegetal, açúcar, sal e farinha de trigo. De acordo com a WFP, somente 22% dos recursos necessários para suas operações na Síria foram recebidos[1]. A WFP afirmou que sua operação na Síria é a maior e mais complexa do mundo, lhes custando mais de US$ 40 milhões por semana, incluindo a alimentação de 1,5 milhão dos 2,6 milhões de sírios refugiados registrados oficialmente que migraram para países vizinhos, principalmente Turquia, Líbano, Jordânia e Iraque[4].
Ao todo, a “Organização das Nações Unidas” recebeu apenas 16% dos US$ 2,2 bilhões necessários para as suas operações de ajuda no interior da Síria este ano. Os “Estados Unidos” são o maior doador com 108 milhões dólares, seguido pela “União Europeia”, com US$ 53,7 milhões, e os “Emirados Árabes Unidos”, com US$ 50 milhões[4]. A mídia estatal iraniana informou também neste dia 8 de abril que o Irã enviou um extra de 30 mil toneladas em alimentos para auxiliar o Governo vizinho à lidar com a escassez de alimentos devido à guerra civil[5][1].
A fome, em virtude da iminente seca no noroeste do país, pode exacerbar a crise humanitária de refugiados e deslocados internos. De acordo com a ONG “Observatório Sírio dos Direitos Humanos” (OSDH), mais de 150.000 pessoas foram mortas desde que os combates começaram na Síria há três anos[6] e o país sofre com a maior crise de refugiados e deslocamentos internos, cujo êxodo para países vizinhos totaliza estimados 3 milhões de pessoas, de acordo com o alto comissário da ONU para refugiados Antonio Guterres.
O número de refugiados sírios oficiais registrados nos países vizinhos é de 2,6 milhões, embora centena de milhares mais já tenham cruzado as fronteiras sem solicitar assistência internacional[2]. No Líbano, por exemplo, mais de um milhão de refugiados registrados totalizam quase um quarto da população total do país[2]. Os refugiados sírios em países vizinhos, somados aos 6,5 milhões de deslocados internos, indicam que metade da população síria[7] já seja constituída de deslocados e de refugiados[2].
Ainda de acordo com Guterres, a tensão é iminente em em vizinhos como Líbano e Jordânia, onde vem sendo registrado o aumento no número de desempregados, decréscimos nos salários e aumento nos preços de produtos e dos alugueis, de modo que a crise síria tem registrado um impacto dramático também na economia e na sociedade dos países ao seu redor[2].
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Imagem (Fonte):
http://www.bbc.com/news/world-middle-east
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Fontes consultadas:
[1] Ver:
http://www.bbc.com/news/world-middle-east-26943503
[2] Ver:
http://www.aljazeera.com/news/middleeast/2014/04/fund-crunch-forces-un-cut-syria-food-aid-20144851120732617.html
[3] Ver:
http://www.haaretz.com/news/middle-east/1.584566
[4] Ver:
http://www.dailystar.com.lb/News/Middle-East/2014/Apr-08/252681-syrians-face-drought-wheat-production-seen-at-record-low-wfp.ashx#axzz2yK7CcoAf
[5] Ver:
http://www.dailystar.com.lb/News/Middle-East/2014/Apr-08/252695-syria-iran-sends-30000-tons-of-food-supplies.ashx#axzz2yK7CcoAf
[6] Ver:
http://g1.globo.com/mundo/siria/noticia/2014/04/guerra-na-siria-provocou-mais-de-150-mil-mortes-diz-ong.html
[7] De acordo com os dados da “Central de Inteligência Americana” (CIA), em 2008, a população síria era estimada em 22,5 milhões de habitantes. Ver
https://www.cia.gov/library/publications/the-world-factbook/rankorder/2119rank.html?countryName=Vietnam&countryCode=vm®ionCode=eas&rank=14#vm