De acordo com a Organização Internacional para as Migrações (OIM), o número de refugiados e imigrantes ilegais que chegaram por terra e mar à Grécia, Bulgária, Itália, Espanha, Malta e Chipre ultrapassou a marca de 1 milhão em 2015. Foi registrado um crescimento de 365% no número de refugiados ou imigrantes ilegais que entraram na Europa, em relação ao mesmo período no ano passado. Do total de 1.005.504 pessoas que chegaram ao continente até 21 de dezembro, 821.008, ou 82%, desembarcaram na Grécia por mar e por terra, consolidando este país como principal ponto de entrada à Europa – posto antes ocupado pela Itália, que este ano (2015) contou com 105.317 refugiados.
Quase todos aqueles que chegaram à Europa vieram pelo mar Mediterrâneo ou Egeu, e metade era de sírios fugindo da guerra. O segundo maior contingente era oriundo do Afeganistão, com 186 mil (18,5%), seguido por Iraque (8%) e Eritreia (4%), de acordo com declaração conjunta da OIM e da Acnur, agência de refugiados da ONU. No Afeganistão, a população foge do aumento da ingerência do Talebã, enquanto na Eritreia fogem dos altos índices de repressão e da precária qualidade de vida nos campos de refugiados. A organização contabiliza 3.695 pessoas que morreram tentando chegar ao continente europeu por mar. Das mortes, 2.889 eram pessoas que viajavam do norte da África para a Itália, 706 morreram afogados ao tentar atravessar o Mar Egeu para a Grécia e outros 72 morreram tentando chegar à Espanha.
O porta-voz da OIM, Joel Millman, ressaltou que o total de pessoas que entraram no continente europeu neste ano pode ser ainda maior, uma vez que alguns dos países citados têm dificuldades para registrar todas as chegadas. Em nota, o chefe da OIM, William Lacy Swing, pediu ação das autoridades no sentido de receberem número maior de imigrantes e refugiados, especialmente considerando o número de mortes durante a travessia.
De acordo com o relatório de 18 de dezembro do Alto Comissariado para Refugiados das Nações Unidas (UNHCR), o número de refugiados e deslocados internos superou o recorde de 60 milhões de pessoas. O Relatório considera todos os indivíduos que foram forçosamente deslocados em todo o mundo como resultado de perseguição, conflito, violência generalizada, ou violações de direitos humanos. Estima-se que 34 milhões de pessoas tenham sido deslocadas internamente desde meados de 2015, cerca de 2 milhões a mais que o mesmo período em 2014. O Iêmen, onde uma guerra civil eclodiu em março, registrou o maior número de pessoas recentemente deslocadas em significativos 933.500.
A Síria, desde 2011, tem sido o principal impulsionador do deslocamento em massa, com mais de 4,2 milhões de refugiados sírios tendo fugido para o estrangeiro e 7,6 milhões de deslocados internos no país, desde meados daquele ano, informou a ACNUR. Juntos, os nacionais da Síria e da Ucrânia, onde uma rebelião separatista no leste eclodiu em abril de 2014, são responsáveis por metade das 839.000 pessoas que se tornaram refugiados no primeiro semestre de 2015. A violência no Afeganistão, Somália e Sudão do Sul provocou grandes movimentos de refugiados, bem como conflitos no Burundi, República Centro Africana, República Democrática do Congo e Iraque.
O enorme afluxo de imigrantes causou divergências políticas significativas dentro da União Europeia, com alguns Estados dentro da zona livre de fronteiras de Schengen implementando cercas e reinstituindo controles nas fronteiras. Hungria e a Eslováquia, por exemplo, atualmente tomam medidas legais no Tribunal Europeu de Justiça em desafio aos planos da União Europeia de partilhar os requerentes de asilo entre os Estados da organização. Enquanto isso, os milhares de imigrantes ilegais e refugiados pressionam para obterem autorização de estabelecerem-se em países mais ricos do norte, como Alemanha e Suécia. A Alemanha registrou a entrada de cerca de 1 milhão de migrantes este ano, mas esse número inclui um grande percentual de pessoas vindas de países da Europa do Leste como dos Balcãs.
O Diretor Geral da Organização Internacional para as Migrações, William Lacy Swing, afirmou que não era suficiente apenas contar os números. “Também devemos agir”, declarou. “A migração deve ser legal, segura e assegurada para todos – tanto para os próprios migrantes como para os países que se tornarão seu novo lar”. A diretora da campanha Save the Children, Kirsty McNeill, declarou à BBC londrina: “Esta é a prova de nosso ideal europeu. Quando crianças estão morrendo à nossa porta temos de tomar medidas mais ousadas. Não pode haver maior prioridade”. O chefe da ONU para refugiados, Antonio Guterres, pediu aos países europeus que reconhecessem as contribuições positivas feitas por refugiados e migrantes e honrassem o que chamou de “valores europeus fundamentais: proteção de vidas, defesa dos direitos humanos e promoção da tolerância e diversidade”.
O fluxo migratório europeu é, contudo, muito mais manejável do que o do Oriente Médio, onde 2.291.900 milhões de refugiados sírios vivem somente na Turquia. No Líbano, 1.070.189 milhões de sírios formam cerca de um quinto da população total do país, enquanto 633.466 de sírios registrados da Jordânia compõem cerca de 15% do total de 4.390.439 refugiados sírios.
A negação de direitos básicos aos refugiados nesses países, onde quase todos os sírios não têm o direito de trabalhar, é uma das causas da crise migratória em direção a Europa. Os refugiados que viveram durante vários anos no limbo legal vão agora em direção ao continente europeu para reivindicarem os direitos a eles concedidos pela Convenção para refugiados da ONU de 1951. Como consequência da Segunda Guerra Mundial, estimadas 12 a 14 milhões de pessoas teriam sido deslocadas, um quinto do total registrado atualmente.
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Imagem “Sírios e iraquianos desembarcam em Lesbos, na Grécia, depois de chegarem ao país em um barco de madeira da Turquia em 26 de outubro de 2015” (Fonte – Santi Palacios/Associated Press):
http://www.huffingtonpost.com/entry/1-million-refugees-europe_56795c63e4b06fa6887e9522