Durante relevante espaço de tempo, a Tunísia se posicionou no cenário dos países da “Primavera Árabe” como o caso de maior estabilidade política, fato invertido com o assassinato do líder da oposição, Mohamed Brahmim, segundo político liberal assassinado em cinco meses, sendo o primeiro Chokri Belaid, morto em fevereiro[1][2].
Tendo a Democracia pluralista como centro dos principais debates, vários setores da sociedade, desde jovens, sindicalistas até a oposição ao governo do Ennahda, tomam à frente de protestos nos quais surgem questionamentos quanto à legitimidade e até a legalidade do partido no poder. Apesar de terem se comprometido a garantir a igualdade em direitos para as mulheres, além da liberdade de expressão e religião, e serem considerados, entre os partidos que assumiram o poder em países árabe no pós-revolução, eficientes em administração pública e políticas inclusivas, a demora para que a Constituição seja aprovada e para que haja novas eleições terminou por colocar em xeque a legitimidade do grupo que está a exercer o poder, abalada, também, pela concordância “branca” a atos de grupos islâmicos radicais e pelos assassinatos de líderes oposicionistas.
Numa tentativa de minimizar a crise, Lotfi Ben Jeddou, “Ministro do Interior”, informou que o assassino fora preso e também o identificou como sendo o assassino de Belaid, além de vinculá-lo a grupos terroristas com possíveis ligações com a Al-Qaeda[3]. Dentro desta delicada situação, o mais preocupante é a fragilidade do processo da “Assembleia Constituinte”, chegando ao ponto de Mustapha Ben Jaafar, presidente da Assembleia, apelar para que os esforços dos legisladores persistam diante da crise, na busca da conclusão dos trabalhos, propondo, inclusive, o dia 23 de outubro como possível data das eleições[4].
Dias depois, o “Primeiro-Ministro” anunciou 17 de dezembro como data das eleições nacionais[5]. Manobra política por ambas as partes para tentar reaver a posição de 65 legisladores que se afastaram das atividades da Constituinte, o que seria um primeiro passo para o abandono definitivo dos trabalhos. Além disso, seria uma tentativa de se de buscar conter as manifestações e crescentes ciclos de violência nas ruas de Tunis[4], fato não alcançado diante da renúncia de Salem Labyedh ao cargo de “Ministro da Educação”[6].
Em meio à crise, a ativista da Femen, Amina Sboui, presa há meses, foi libertada no dia 1o de agosto, apesar de continuar a ser processada por profanação de sepultura[7]. O chefe do partido no poder se nega a remover o “Primeiro-Ministro”, mesmo afirmando estar aberto a novos acordos[8]. E, para tornar a situação mais delicada, oito militares tunisianos foram barbaramente mortos no “Monte Chaambi”, supostamente pelo grupo “Phalange Okba Ibn Nafaâ”, que também possui ligações com a Al-Qaeda[9][10].
Uma razoável operação foi montada para se fazer uma “limpeza” na área, que sendo ou não mais uma tentativa de desfocar os problemas urbanos, termina por coincidir com uma manifestação no sábado passado, 4 de agosto, em apoio ao grupo que esta no poder, sendo esta manifestação considerada, até o momento, como a maior desde a “Revolução de Jasmim”[9][10]. Com o aumento gradativo da violência nas ruas de Túnis, neste domingo ocorreram prisões e a morte de um militante islâmico em meio a uma manifestação contra o atual governo[11][12][13].
A instabilidade é um fato, mas, conforme apontam observadores, não está muito claro o que está por trás da morte de Brahmim. Identificar executores de tarefas não é tão difícil, difícil é identificar o objetivo de quem planejou a execução do líder. Hoje, a Tunísia é um pavio de pólvora rodeado de fogo, o qual, se vier a se alastrar um pouco mais, pode levar a perda do longo processo de redemocratização do país.
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Imagem (Fonte):
http://s2.glbimg.com/zBGo5sVsuggyigEOPU7QFUrTKow=/s.glbimg.com/jo/g1/f/original/2013/08/04/tunisia.jpg
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Fontes consultadas:
[1] Ver:
http://www.nytimes.com/2013/07/26/world/middleeast/second-opposition-leader-killed-in-tunisia.html
[2] Ver:
http://www.nytimes.com/reuters/2013/08/04/world/africa/04reuters-tunisia-islamists.html?_r=0
[3] Ver:
http://www.nytimes.com/2013/07/27/world/middleeast/tunisia-assassination.html
[4] Ver:
http://www.nytimes.com/2013/07/29/world/africa/protesters-press-tunisian-government-to-resign-as-ruling-party-supporters-rally.html
[5] Ver:
http://www.nytimes.com/2013/07/30/world/africa/tunisia-prime-minister-calls-for-december-elections.html
[6] Ver:
http://g1.globo.com/revolta-arabe/noticia/2013/07/ministro-da-educacao-sai-e-cresce-pressao-sobre-governo-na-tunisia.html
[7] Ver:
http://g1.globo.com/revolta-arabe/noticia/2013/08/justica-da-tunisia-manda-libertar-amina-ativista-do-femen.html
[8] Ver:
http://g1.globo.com/revolta-arabe/noticia/2013/08/pressionado-partido-governista-se-nega-remover-premie-da-tunisia.html
[9] Ver:
http://g1.globo.com/revolta-arabe/noticia/2013/08/milhares-fazem-manifestacoes-noturnas-pro-governo-na-tunisia.html
[10] Ver:
http://www.bbc.co.uk/news/world-africa-23564875
[11] Ver:
http://g1.globo.com/revolta-arabe/noticia/2013/08/policia-da-tunisia-mata-militante-islamico-em-meio-crise-politica.html
[12] Ver:
http://www.bbc.co.uk/news/world-middle-east-23567401
[13] Ver:
http://www.foxnews.com/world/2013/08/04/tunisia-terror-suspect-killed-in-dawn-raid/