Na sexta-feira, dia 16 de outubro, a França e a comunidade internacional se comoveram diante de mais um crime bárbaro provocado pelo extremismo religioso. O corpo do professor francês Samuel Paty foi encontrado decapitado, na…
Azerbaijão e Armênia são duas pequenas nações no leste europeu, já no limite do continente e no começo da área geográfica da Ásia, situados em pleno Cáucaso. A região, ao longo da história, serviu de passo para diversas culturas, sendo a mesma habitada desde o começo do neolítico e disputada centímetro a centímetro. Atualmente, é dívida principalmente por Geórgia, Azerbaijão e Armênia, os quais atuam como um tapume para o mundo asiático e fronteira entre o mundo ocidental e oriental, embora amplamente influenciadas por ambos e se decantando ora por um ora pelo outro. Ressalte-se que, além desses três países, fazem parte da região: Inguchétia, Adiguésia, Cabárdia-Balcária, Carachai-Circássia, Ossétia do Norte, Krai de Krasnodar e Krai de Stavropol – repúblicas russas.
As disputas de poder marcaram de forma diferente cada um dos três Estados. A expansão da União Soviética, as pressões da Turquia e do Irã fizeram da região um ponto de tensão constante, que embora mantivesse nos últimos anos uma certa calma, jamais deixou a latente pressão característica da região.
Assim mesmo, seus valiosos recursos e oleodutos, uma fonte de riqueza, principalmente para o Azerbaijão, sempre foram cobiçados pela expansão do Bloco europeu, que já negociava com cada uma das nações sua futura adesão. Porém, divergências culturais, históricas e políticas sempre dificultaram a adesão desses Estados ao cenário internacional sem permanecer na sombra dos interesses das potências da região.
Conflito de Nagorno-Karabakh: 1988–1994 (Guerra de Nagorno-Karabakh);
1994–presente (violência esporádica, especialmente confrontos fronteiriços)
A tensão entre Armênia e Azerbaijão, cuja disputas territoriais foram sempre complexas, chegaram ao seu auge no domingo passado, dia 27 de setembro de 2020, quando ambos países declararam lei marcial e entraram em conflito direto, havendo acusações dos dois lados em relação a quem começou a contenda.
A Rússia, principal player regional, decretou o cessar imediato das agressões, já a União Europeia instou à convocação do grupo de Minsk (Rússia, Estados Unidos, França e OSCE – Organização para a Segurança e Cooperação na Europa*) a instaurar o diálogo. A Turquia, cuja tensa relação com a Armênia ficou conhecida no mundo inteiro devido ao holocausto por ela realizado, decretou total apoio ao Azerbaijão.
Embora longe dos centros de decisão da União Europeia e mais próximos a Moscou, uma guerra na região poderia se alastrar facilmente a outras áreas tensas no espaço de influência russo e colidentes com o Bloco europeu, tais como Belarus, cujo presidente Lukashenko não foi reconhecido por Bruxelas.
Imagens da Guerra de Nagorno-Karabakh (1988–1994)
Os atritos nessa região, na atual conjuntura que enfrenta a Europa, pode reacender ou fortalecer a instabilidade em toda periferia leste, fazendo com que seja mais difícil uma recuperação do Bloco. Assim, mesmo para a Rússia o conflito supõe uma nova amostra de que sua influência na região, embora importante, pode se ver sobressaltada à cada momento, ou levar indiretamente a uma escalada de tensões entre as grandes potências.
Além disso, o começo do inverno no hemisfério norte aumenta o eco de qualquer evento nessa área, pela forte dependência das grandes nações, lembrando que Azerbaijão é um grande produtor de gás, entre outros recursos energéticos.
Com relação ao embate entre Armênia e Azerbaijão, o território disputado é o passo fronteiriço de Nagorno Karabaj, uma região foco de tensões contínuas entre os dois países. Ao problema gerado pelo conflito na área se acrescentam outros, tais como a instabilidade em outros países da Europa do Leste, os fluxos migratórios de inverno, a tensão entre Grécia e Turquia, fora a Covid-19 que avança com força por todo o Bloco europeu, que já atua em sua segunda onda.
Acrescente-se ainda que as eleições em novembro, nos Estados Unidos, podem produzir um vácuo de poder, cujo impacto, caso se produza, resultaria em uma tempestade perfeita em plena periferia europeia, por isso, mostra-se como fundamental controlar as tensões o quanto antes possível. Ao que tudo indica, 2020 definitivamente pode ainda demorar a se encerrar, apesar de já estarmos em outubro.
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Nota:
* A OSCE é formada nos dias atuais por 57 países, em sua totalidade da Europa (inclui a Federação Russa e os Estados da União Europeia), da Ásia Central e da América do Norte (Canadá e Estados Unidos). É um organismo regional, disposto de acordo com o Capítulo VIII da Carta das Nações Unidas.
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Fontes das Imagens:
Imagem 1 “Localização da área em conflito” (Fonte):
Após um verão atípico marcado pelas medidas de prevenção contra a Covid19 e um aumento do número de contágios nos principais destinos turísticos do continente, apesar de uma forte redução no setor e do número de visitantes, a União Europeia se prepara para a volta às aulas e para sua nova realidade.
Na Europa, bem como nos demais países do hemisfério norte, o ano acadêmico começa após o final de agosto e começo de setembro, acompanhando as estações. Dessa forma, o mês de setembro representa a volta às aulas, assim como o fim dos recessos das atividades do governo e das férias de milhares de trabalhadores, entre eles os funcionários públicos. O mês de agosto no continente Europeu é algo semelhante ao mês de janeiro no hemisfério sul, sendo marcado por uma baixa atividade, salvo pelo turismo que registra sua temporada mais alta. Porém, sem dúvidas, este foi o pior ano para o setor turístico europeu, que é um dos principais pilares da economia de países como Portugal, Espanha, Itália e Grécia.
Embora a circulação entre os países do Bloco tenha sido restabelecida em junho, muitos europeus preferiram permanecer em suas regiões ou ir a suas segundas residências sem sair dos respectivos países, reduzindo drasticamente a demanda em diversas nações nos setores de hotelaria e restaurantes, pois as restrições para passageiros de fora da União Europeia reduziu o fluxo de turismo internacional à sua mínima histórica.
Restrições como o limite de pessoas nas praias, bares e piscinas, cancelamento de diversos eventos e proibições como fumar na rua ou circular sem máscara, desestimularam grande parte dos turistas. As empresas do setor já pressionam os governos de diversos países diante de um ano marcado por prejuízos. Na Espanha, onde o turismo representa 11% do PIB, estima-se que 20% das empresas do setor devem fechar suas portas. Conforme avançava o verão, o número de novos contágios não parava de aumentar e com eles as restrições.
Símbolo popular para designar o termo ‘turismo
Com o final das férias e o aumento dos infectados, a volta às aulas foi tema de discussão em diversos países do Bloco europeu, havendo uma demora em realizar protocolos capazes de garantir a segurança dos alunos e dos profissionais de educação, que finalmente devem retornar aos centros de forma escalada, embora alguns países tenham decidido manter suas restrições.
Por outro lado, o reinício das atividades governamentais foi marcado pelas negociações da União Europeia e do Brexit, além das tensões entre a Grécia e a Turquia, que elevam as pressões na área de segurança europeia, e dos projetos a longo tempo paralisados, tais como o Exército europeu em contraponto com a dependência de muitos países com a OTAN.
Os resultados da pandemia na sociedade são cada vez mais perceptíveis, à medida que aumenta a morosidade na distribuição e alocação dos recursos cedidos pela União Europeia, diante de um crescente aumento do desemprego e dos gastos públicos, além do impacto da quarentena em diversos cultivos nos principais países produtores.
No cenário internacional, as tensões crescentes entre os Estados Unidos e China, agregados à influência da Rússia nos países da Europa do Leste, cuja região é considerada área de expansão do Bloco, mantém grande parte da diplomacia europeia concentrada nas questões internas, no intuito de reduzir ao máximo os atritos internacionais em um cenário complexo e crítico.
No aspecto do relacionamento do Bloco com os países latino-americanos, aumentam as pressões para impedir o acordo entre a União Europeia e o Mercosul, devido à política ambiental do Brasil, além da crescente instabilidade local e volatilidade econômica da região, que impacta diretamente na demanda de produtos europeus e na oferta de produtos importados mais competitivos que os produzidos localmente.
Jovens participantes do Programa Erasmus em Portugal
Pela primeira vez na história, a Europa se concentra quase que exclusivamente em sua região e área de influência e, ainda que exista um crescente vácuo de poder no cenário internacional, a mesma parece não estar preparada para ocupar esse lugar devido à própria necessidade de estabilizar seu panorama interno, sendo suas ações internacionais focadas na cooperação internacional em regiões de influência histórica.
A recuperação esperada para o ano de 2021 está em perigo após a suspensão dos testes da vacina desenvolvida pela empresa AstraZeneca, que era uma das maiores apostas da Europa, levando a mesma a reservar um grande número de doses da vacina que está sendo desenvolvida pela farmacêutica Pfizer. Embora os resultados obtidos pelas vacinas desenvolvidas pela Rússia e pela China pareçam lançar boas cifras, o Bloco europeu parece ponderar em optar por uma delas, usando como justificativa a falta de cumprimento dos protocolos sanitários internacionais, ainda que, talvez, tenha receio de que sua opção acabe refletindo um determinado posicionamento em um mundo cada vez mais polarizado.
Embora a União Europeia já não seja o foco principal da pandemia de Covid19 desde junho de 2020, os efeitos econômicos, novos surtos e a escalada das tensões regionais estão longe de ser algo do…
Após uma intensa jornada de quatro dias de negociações em Bruxelas, os países da União Europeia finalmente alcançaram um acordo em relação ao uso e distribuição dos recursos do Plano Europeu de Recuperação Econômica Pós-Convid19, de mais de 750 bilhões de Euros, dos quais 390 bilhões serão destinados a ajudas diretas e subvenções e outros 390 destinados a créditos que deverão ser pagos posteriormente.
As subvenções da União Europeia foram o pomo da discórdia durante as negociações que reuniram os líderes dos 27 países que formam atualmente o Bloco. Novamente, a polarização entre as nações do mediterrâneo (Espanha, França, Itália, Portugal) e do norte da Europa (principalmente com a objeção da Holanda) evidenciou as assimetrias internas, sem embargo o apoio da Alemanha a favor do plano econômico, pois, sendo a principal economia da Europa, foi decisivo para alcançar um acordo.
A resolução foi celebrada pelo Presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, e outros líderes, tais como o francês Emmanuel Macron e o espanhol Pedro Sanchéz, que consideram o dia como um marco na história do Bloco e uma mensagem de união e solidariedade estatal entre os membros, diante de um momento de extrema dificuldade e crise.
A União Europeia (UE) já vinha sofrendo com pressões internas crescentes desde a Cúpula de Bratislava, devido principalmente às desigualdades entre os membros e à competição dentro do grupo. Os Efeitos do Brexit e as tensões comerciais entre EUA e China agregaram maior dificuldade em alcançar um equilíbrio político necessário para dar continuidade aos projetos comuns do marco europeu e ao avanço de diversos partidos nacionalistas e eurocéticos, e debilitaram o discurso de integração, promovendo uma crescente desfragmentação, que, segundo os líderes atuais, ficaram já no passado.
Líderes Europeus
O acordo é somente um dos diversos passos que deve dar a UE em seu projeto de recuperação econômica, ainda mais quando a pandemia parece estar ganhando força em importantes países parceiros e a atividade e demanda global estão longe de se recuperar em relação aos patamares prévios aos da Crise da Covid19.
Nas principais nações europeias, o Estado retomou o controle de diversos aspectos mercadológicos com o objetivo de reduzir o impacto das oscilações do mercado financeiro e na tentativa de gerenciar uma melhor distribuição dos recursos, tentando proteger setores considerados fundamentais nas economias individuais de cada país e as parcelas mais vulneráveis da população.
Sem embargo, nem todas as notícias são ruins. A crise da Covid19 acelerou o processo de renovação tecnológica e transformação energética do continente, assim mesmo, diversos países estão trabalhando em programas para a manutenção das indústrias em seu território, reduzindo, assim, a dependência de grandes polos produtores, como a China, e aproximando o produto do consumidor, gerando uma valorização da fabricação local.
A mobilidade entre os países foi recuperada, embora alguns pontos ainda sejam controlados e a lista de Estados extracomunitários em ter acesso ao território europeu ainda limitado.
Neste ano (2020), embora tenha batido recordes de temperatura, houve uma redução nos índices de incêndios florestais e poluição em decorrência da redução das atividades. O mercado de trabalho também está em pleno processo de transformação com a geração de legislações específicas para o home office, que podem promover uma reocupação de pequenas e médias cidades além de zonas rurais, gerando uma melhor distribuição da população.
A lição mais importante na qual podemos estar de acordo é que é necessário nutrir governos e gestões resilientes, inovadoras e capazes de superar as dificuldades, adaptando-se às transformações do mundo, sendo algumas provocadas e planejadas e outras simplesmente incontroláveis, como é o caso de uma pandemia.
“Depois de um longo período de quarentena, a Europa volta aos poucos a retomar suas atividades. A chamada ‘nova normalidade’ se estabelece em um cenário econômico e contexto social adverso, com 500 mil habitantes a menos, vítimas da doença, e seu impacto no cotidiano do continente”.
Foram mais de 60 dias de quarentena na maioria dos países europeus, que, neste mês (junho), voltam à normalidade, de forma gradual e controlada. Porém, muita coisa mudou no dia a dia dos europeus. O desemprego retorna a assolar as economias e antigos problemas de alinhamento político, migração e circulação de pessoas adquirem novas expressões.
Cartaz para entrar em local comercial em Madri – Canal: RTVE.es
Se, por um lado, a Europa luta por estabelecer um determinado patamar de normalidade, por outro, os efeitos colaterais da pandemia são cada vez mais visíveis. Diversos setores econômicos afetados pela crise instam as autoridades a buscar soluções. Grandes multinacionais abandonam o espaço europeu ou reduzem ao máximo sua produção, assim mesmo, setores como o agrícola e o turismo sofrem com a oscilação de oferta e demanda, buscando novas vias de financiamento sem alternativas internacionais, devido à situação em muitos países emergentes e no próprio Estados Unidos.
O gasto público ultrapassou os limites impostos pela União Europeia, e países tais como a Espanha, França e até mesmo a Alemanha buscam auxiliar uma população ameaçada pela pobreza e afetada pelo desemprego.
O medo de uma nova onda de contágios no final do ano é conhecido, porém minimizado pelas autoridades em uma tentativa de restabelecer o funcionamento das instituições e da sociedade. Assim mesmo, as dúvidas em relação ao conturbado cenário internacional diminuíram a circulação de investimentos e fluxos externos.
A “nova normalidade”, como é chamada em diversos países da Europa, de fato reflete que a realidade já não é a mesma que existia antes da pandemia e que será necessário um sobre-esforço, tanto das autoridades como da população, em se adaptar a este novo mundo.
A ocupação do espaço urbano, o uso dos serviços públicos, as relações laborais, a circulação de pessoas e todos os aspectos da cidadania foram moldados nos últimos dias. Assim como o papel do Estado na alocação e distribuição de recursos e como ele atua perante as evoluções do mercado.
Conceitos pós-capitalistas, tais como a economia circular, economia verde ou pós-capitalismo global, ganham força e até mesmo exemplos reais, a exemplo da mudança estrutural que vem acontecendo na Holanda.
Temas externos ao Bloco, tais como as manifestações raciais ou o aumento do conservadorismo, ressoam nessa nova Europa, pese as restrições ainda vigentes, adquirindo tonalidades locais e regionais, sendo a questão da imigração e o avanço dos grupos extremistas uma preocupação paralela a esse estado de anomia que se expande pelo globo.
Não se pode desprezar aspectos em relação às mudanças que ocorrem na Europa e posicionar a mesma dentro de um espectro político ou ideológico, mas, sim, entender o processo como o fruto de uma reflexão e experiência sobre o sistema internacional e o capitalismo que não é exclusivo do bloco europeu, mas defendido por diversos economistas, políticos e especialistas em relação a um novo capitalismo ou reformulação do sistema financeiro internacional, cuja semente surgiu após a disseminação da Crise Financeira de 2008 por todo o globo.
O cidadão europeu aos poucos recupera sua rotina, volta às ruas e revê sua família e amigos, porém, sabe que o mundo já não é o mesmo e que “a nova realidade” não é apenas uma nomenclatura citada pelo governo, mas uma realidade cristalizada em seu dia a dia.
Quase 4 meses depois do primeiro caso de Covid-19 diagnosticado em Paris, no dia 25 de janeiro de 2020, e após uma rápida expansão pelos países do Bloco, especialmente Itália e Espanha, a União Europeia…
Até o momento, a Europa é o continente mais castigado pela pandemia causada pelo Covid–19, com mais de 1,2 milhão de infectados e milhares de falecidos. Aos poucos, os países vão se preparando para retomar à normalidade, porém, o panorama econômico configura um novo desafio que expõe as assimetrias dentro do Bloco, que já prepara o maior plano de recuperação econômica da história do continentedesde o Plano Marshall, após o final da II Guerra Mundial.
O Banco Central Europeu alerta que “A recessão econômica na Europa pode ser de até15% do PIB da região”, embora existam países cujos efeitos podem superar essa cifra, devido ao impacto sofrido durante a pandemia e aos efeitos do cenário internacional que são imprevisíveis, pois um agravamento da epidemia nos Estados Unidos e uma expansão da mesma nos países emergentes, além da queda do preço das commodities, podem dificultar mais ainda a recuperação do Bloco.
Setores como o turismo e a construção civil são uns dos mais impactados e que representam uma inestimável fonte de geração de emprego e renda, principalmente em países como Espanha, França e Itália, que dificilmente vão conseguir regressar aos índices prévios à pandemia, o que gera incertezas em diversas nações.
Até mesmo o Reino Unido, após sair da União Europeia (UE), se mostra disposto em colaborar com o Bloco, uma vez que os reflexos no mercado financeiro sem dúvidas sobrepassaram os limites fronteiriços da UE.
Uma crise maior que a enfrentada em 2008, e para muitos analistas equiparável à Crise de 29, pode decretar uma mudança substancial no destino da Europa, que já vinha enfrentando diversas fragmentações oriundas de temas polêmicos, tais como a migração, a expansão do grupo, o aquecimento global e os investimentos e subvenções internas.
Neste cenário caótico e de poucas esperanças, o Banco Central Europeu aprovou a compra de dívida dos países integrantes do Bloco, assim como bônus de alto risco, com o objetivo de gerar certa estabilidade, mas que, porém, pode derivar em longo prazo em um ônus para a região, onde muitos países acumulam dívidas públicas superiores a 90% do PIB.
Banco Central Europeo
Manter o emprego e reativar a economia interna são as principais metas da Europa, levando diversos Estados a atuarem diretamente no mercado, obtendo o controle temporário de empresas, subvencionando até 80% dos salários e distribuindo renda com programas semelhantes ao auxílio emergencial existente no Brasil.
Fortalecer o mercado interno é uma prioridade para manter flutuando a economia até obter uma recuperação do cenário internacional, uma aposta arriscada, porém sem outra alternativa capaz de reduzir o resultado da crise.
A Comissão Europeia ainda deve determinar os valores e os critérios usados no programa de recuperação econômica, enquanto isso, cada país adota uma série de medidas internas segundo sua própria realidade e necessidades.
A suspensão da circulação de pessoas dentro do Bloco, com o objetivo de controlar o avanço das infecções, também afeta os ciclos de produção e a paralisação temporária de algumas economias cobra hoje seus resultados.
Um remédio amargo, porém, necessário, em um continente onde grande parte da população está no grupo de risco e que não teve outra opção que a de ceder frente ao incremento dos contágios e parar quase por completo. É uma opção entre a vida e a economia, que, agora, mostra seus efeitos e que depende da mesma capacidade de resposta.
Os países mais afetados pela pandemia, Itália e Espanha, começam a registrar uma redução do número de contágios e falecidos diários, no entanto, o medo de um novo pico de infecções faz com que as autoridades sejam cautelosas em relação às políticas de quarentena e ao estado de emergência decretado em diversos países do Bloco europeu.
Reativar a economia europeia resultará em um esforço titânico, seja pela situação financeira dos países do Bloco, seja pelo impacto da pandemia na economia mundial, com a redução de demanda de grandes economias como a dos EUA e da China, ou com a redução dos fluxos de investimentos realizados nos países emergentes da América Latina.
Bandeira para o Brexit
O Brexit, que antes ocupava todas as capas dos principais jornais europeus, foi praticamente esquecido, porém, seus efeitos financeiros não podem ser negligenciados. E mesmo que diversos processos eleitorais tenham sido cancelados ou postergados, grandes players, como a Alemanha, estão em plena corrida presidencial, se preparando para o próximo ano (2021), da mesma forma que o eco da corrida eleitoral americana deste ano (2020) afeta diretamente ao Bloco europeu.
A solidariedade estatal, que é um princípio básico para a manutenção da União Europeia, cada dia encontra maiores barreiras e uma competição eterna ecoa e ganha força. Interesses conflitantes tanto dentro do grupo como entre os membros da OTAN fragilizam a União Europeia. E as medidas financeiras anunciadas parecem não serem suficientes para conter uma forte retração da economia.
O Estado ganhou uma nova importância ao pactuar com o setor produtivo para a manutenção do sistema econômico, porém, existem fortes limitações devido à própria condição dos países europeus e à falta de grandes reservas internacionais, que a Europa não poupou.
A Gran Vía de Madri em 22 de março – o vazio na rua esboça o efeito do isolamento
O único consenso que existe de fato é que, se atualmente o Convid-19 castiga a Europa, amanhã será a crise econômica, o desemprego e o endividamento público. Em alguns países, como no caso de Portugal, o Presidente fez um apelo ao setor financeiro, solicitou a este o mesmo apoio que lhe foi concedido durante a Crise Financeira Internacional. Espanha, França e Itália atuam na mesma linha, pois a grande dúvida que paira é como socializar os prejuízos com uma população inativa ou parcialmente paralisada. O acúmulo do capital na Europa nunca foi tão questionado, e os Estados, independentemente de sua identidade partidária, voltam a abraçar o keynesianismo que fundamentou o continente.
Aqui, da Espanha, a situação, que antes parecia irremediável, aos poucos parece mostrar uma luz no fim do túnel, e todos os esforços do governo para salvaguardar a economia serão colocados à prova após o dia 26 de abril, data limite do Decreto Presidencial do Estado de Alarme, quando, aos poucos, tentarão reativar a atividade.
O governo aprovou a renda mínima, postergou as cobranças, eliminou temporariamente os impostos para as pequenas e médias empresas, porém, a pergunta que paira é se isso foi o bastante. Da mesma forma, questiona-se quais serão os resultados desta pandemia que já contabiliza mais de 16 mil falecidos, em um país que estava aos poucos se recuperando dos efeitos da Crise Internacional, considerada até antes como a maior crise do Bloco. A vida transcorre e as pessoas tentam se adaptar com muitas dúvidas, mas a maior delas é aquela não pronunciada, porém tácita: como sair dessa situação.
A pandemia causada pelo Covid-19 já soma mais de 1 milhão de contagiados e milhares de falecidos em todo o planeta. Um episódio trágico na história da humanidade que sem dúvidas marcará as próximas décadas,…