A Organização Mundial da Saúde declarou a Europa como novo epicentro da pandemia causada pelo Covid-19. Ruas, museus, escolas, aeroportos e demais serviços foram paralisados e esvaziados diante do pânico crescente da população, atônita com…
Após a separação oficial do Reino Unido
da União Europeia, celebrada por parte da população britânica e lamentada pela
outra metade, além de diversos cidadãos do Bloco europeu que moram no Reino Unido
e empresas que mantém negócios em ambas regiões, marcou-se um hiato no ano de
2020 e um novo ritmo para o continente.
A União Europeia precisa se reestruturar
e consolidar o projeto europeu em pleno começo da corrida
eleitoral da Alemanha, com eleições marcadas para 2021, e mudança de poder
nos Estados Unidos, assim como diluir a sombra projetada pelo Brexit nos países
da União Europeia e no discurso crescente da extrema direita na região.
Acrescente-se ainda o ambiente político
conturbado em diversos países, devido à polarização cada vez mais perceptível e
presente na dificuldade de muitas nações em constituir governo, como ocorre na
Bélgica, e que manteve a Espanha durante 4 anos em um ciclo contínuo de múltiplas
eleições. Além desses fatores e dos
impactos das políticas de austeridade aplicadas após a Crise Financeira
Internacional e seus reflexos na área mediterrânea, somam-se aos
efeitos do Brexit as novas políticas migratórias do Reino Unido e a
desaceleração da economia mundial, com uma temível redução da demanda de
produtos europeus em diversos países, principalmente nas economias emergentes. Tais
elementos fazem de 2020 um ano definitivo para a União Europeia.
A redução progressiva do poder de compra
e a volatilidade do mercado laboral fizeram com que o mercado interno seja
incapaz de absorver e manter o crescimento econômico em diversos países da
União Europeia, e a desvalorização das moedas em países emergentes como o
Brasil e a Argentina dificultam a venda de produtos para o mercado externo. Acrescente-se
mais ainda que a incapacidade de controlar os gastos públicos, mas manter o
estado de bem estar, faz com que os
discursos nacionalistas e eurocéticos ganhem cada vez mais força,
debilitando o projeto europeu.
Merkel nas últimas eleições
Porém, uma dissolução da União Europeia
resultaria em uma catástrofe econômica a nível mundial, abalando à
interdependência política, econômica, jurídica e social, à diferença do que
acontecia com o Reino Unido, provocando um efeito em cadeia que afetaria todo o
globo, já que a configuração do mercado europeu responde como único, e são as
dinâmicas internas que dificultam o progresso do projeto europeu, gerando
enormes assimetrias e uma crescente desigualdade entre os integrantes que, em
lugar de conferir competitividade ao Bloco, minam internamente suas bases.
Entre as possíveis soluções que a União
Europeia pode adotar existem diversos conflitos de interesse que deveriam ser
esclarecidos. A criação de um sistema europeu de previdência social reduziria o
impacto das movimentações na mão de obra entre países do grupo, estabelecer um
salário mínimo comum também poderia reduzir a movimentação de empresas e
deslocamento de ofertas de emprego e, por último, e como medida mais drástica,
permitir que os países com maiores dificuldades voltem a adotar suas moedas,
utilizando o Euro somente como moeda de troca internacional, isso debilitaria a
moeda europeia, mas aumentaria a competitividade do produto europeu.
Sem embargo, a estratégia adotada pela
União Europeia foi a adotada desde sua fundação: o endividamento dos Estados, a
manutenção das subvenções, a expansão do Bloco e a diversificar exportações, sendo
cada vez mais difícil aprovar orçamentos. Isso coloca todo o Bloco à mercê
da evolução do mercado internacional, ainda que conferindo maior força ao
conjunto de países, sem dar espaço às individualidades que existem.
Dessa forma, o ano de 2020 se apresenta
como um ano definitivo para a reestruturação europeia, sendo o único
questionamento se a mesma será liberal e conduzida pelo mercado e suas
evoluções ou se o Bloco irá tratar de controlar o processo. Mas, sem dúvidas,
será um momento que representará um marco, com um antes e um depois na história
da organização supranacional.
O conceito de
cidade inteligente (conhecido popularmente pela nomenclatura em inglês: Smart City) começou a se desenvolver nos
anos 90, sendo hoje em dia uma poderosa ferramenta para o planejamento e
execução das políticas e planos de desenvolvimento em diversas cidades, de
diferentes dimensões, no mundo inteiro.
Embora não
exista um modelo padrão de cidade inteligente, ou de projeto de smartcity, há
um conjunto de questões inerentes ao desenvolvimento e gestão das dinâmicas e
processos urbanos, dentro das especificidades de cada cidade, com a
possibilidade de implementar projetos diferentes conforme a realidade local.
Sendo assim, um
projeto implementado na Ásia dificilmente poderá ser reproduzido da mesma forma
na América Latina, já que cada cidade possui suas próprias características e
seu próprio modo de funcionar, o que configura a base do conceito de Smartcity,
que é uma racionalização das dinâmicas intrínsecas dos espaços urbanos e a
aplicação de tecnologia e processos para o bom funcionamento da cidade e
aumento da qualidade de vida dos seus habitantes.
Certo é que
existem cidades tais como Barcelona, Londres, Cingapura, Vancouver ou Dubai que
servem como exemplo de cidades inteligentes, porém, é um erro acreditar que
basta copiar os processos e as políticas aplicados nesses contextos urbanos
para resolver os problemas locais, ou que os projetos de cidades inteligentes
requerem grandes intervenções urbanas e investimentos tecnológicos.
Diversas
questões impossibilitam que exista um modelo global para tanto. Fatores
geográficos, sociais, culturais, políticos, econômicos e tecnológicos
influenciam nas dinâmicas e dimensões de um espaço urbano, e mesmo dentro de um
país, com um mesmo contexto jurídico e econômico, ainda restam fortes
assimetrias entre as suas cidades.
Dessa forma,
podemos dizer que não somente não existe um modelo de Smartcity, ou projeto
global, como também não há uma meta ou conceito estático, pois a realidade dos
espaços urbanos e aglomerações populacionais muda constantemente, gerando novas
dinâmicas e novas demandas, fazendo com que o projeto de cidade inteligente
seja um processo em contínua construção.
Certo é que
existem dimensões que devem ser consideradas nos projetos de smartcities que
são comuns a todos os projetos existentes no mundo, tais como a tecnologia, a sustentabilidade, as interações sociais e
relações de poder, a produção, o consumo e os serviços. Sem embargo, a
disposição e papel de cada uma dessas dimensões nas dinâmicas das cidades varia
conforme a sua composição.
Dimensões das cidades inteligentes
Na última
década houve uma proliferação de projetos de cidades inteligentes em todos
países do mundo, embora alguns sejam apenas fruto da propaganda, ou discurso
político, ou formas de nomear uma política de desenvolvimento público primária,
onde, de fato, não existe a consolidação das dinâmicas urbanas e nem um projeto
“inteligente”. No entanto, as
tentativas de gerar Smartcities se transformou em uma tendência local e
internacional, gerando um desgaste do termo.
Para que uma
cidade possa implementar um projeto dessa natureza é necessário realizar um
estudo criterioso dos fatores que compõem sua realidade e as interações
inerentes dos atores que participam nos mesmos (dinâmica urbana), sendo a
cidade o ponto focal para o planejamento eficiente.
Depois de
conhecer as dinâmicas de uma dada localidade, as disposições dos atores e as
forças endógenas e externas podemos de fato gerar um projeto eficiente e
eficaz, levando em consideração as dimensões que fazem ou promovem a geração de
inteligência.
Conceitos tais
como Smart Governance (governança inteligente), Smart Health (Saúde inteligente),
Smart Mobility (mobilidade inteligente), Smart Industry (Indústria
inteligente), entre outros, somente são viáveis após profundo conhecimento da
cidade e avaliação da mesma, havendo atualmente ferramentas capazes de avaliar
essas dimensões, como as recolhidas no livro Intelligent City Evaluation System, de Zhiaqiang Wu, e até mesmo o índice coeficiente de inteligência da cidade.
Sendo assim,
ocorre um uso inadequado do conceito de Smartcity, já que nem todos os projetos
são de fato inteligentes (mesmo quando aplicada uma tecnologia de ponta), sendo
mais uma forma de iludir os atores locais implementando algo que não irá
produzir uma melhoria substancial, ou mudança em uma dinâmica urbana, mas
apenas um gasto desnecessário e um ônus para a cidade.
Embora isso não
signifique que todos os projetos em andamento de Smartcity estejam fadados ao
fracasso, ou que não possa haver uma conversão entre uma política de
desenvolvimento local para um projeto de Cidade Inteligente, é necessário
implicar a sociedade nesses processos, gerar impacto real no espaço urbano e em suas
dinâmicas, sem centralizar
os resultados ou concentrar os mesmos, caso contrário teremos polos de
concentração tecnológica e desenvolvimento frente a regiões degradadas ou
afetadas pela gentrificação* e segregação social. Ter um condomínio ou bairro
Smart não necessariamente implica em uma cidade inteligente.
Na atualidade,
praticamente todas as capitais do Brasil possuem algum projeto ou iniciativa de
Smartcity, assim como nos demais países da América Latina, ressaltando-se que o
último continente a aderir a essa tendência foi à África, porém, a mesma já
conta com diversos projetos, como o novo departamento urbano sendo construído no
Cairo (Egito), o polo
tecnológico de Nairóbi (Quênia), passando pelos projetos aplicados na Cidade do
Cabo (África do Sul), dentre muitos outros.
Segundo informe
da Smartcities World, o
setor aumentou significativamente em países emergentes, embora muitos projetos
estejam ainda longe de se concretizar como um espaço inteligente.
Cartilha publicada pelo BNDES, que recolhe boas práticas e projetos de Smartcity no Brasil
No Brasil, o BNDES
(Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) lançou uma cartilha para
as cidades inteligentes, além de existirem diversos projetos nas
diferentes esferas de poder com a implicação de atores privados, tais como a
empresa IBM, além de outras.
O que marcará a
diferença entre os projetos não será o capital aplicado, nem o excesso de
tecnologia, mas, sim, o impacto real nos espaços urbanos e no dia a dia de seus
habitantes, bem como a capacidade dos atores implicados de interpretar as
dinâmicas de suas próprias cidades. Afinal, um processo só é smart quando gera soluções inteligentes
para problemas reais da cidadania.
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Nota:
* Gentrificação é um processo de transformação de centros
urbanos através da mudança dos grupos sociais ali existentes, onde sai a
comunidade de baixa renda e entram moradores das camadas mais ricas.
O ano de 2019 chega ao seu fim marcado pela instabilidade política e tensões sociais em todo o planeta. Embora em termos de segurança e defesa este seja um ano de relativa paz, uma vez…
Após uma tensa
negociação, e reflexos no mercado financeiro, ambos os players chegaram ao acerto sobre a separação, cuja adesão britânica
ao Bloco já gerou controvérsias por não se alinhar ao espaço monetário europeu,
nem incorporar grande parte das políticas adotadas pelos países da União Europeia.
Nos próximos
meses, deve-se proceder a separação de modo a gerar o mínimo de impacto
possível. A União Europeia segue em sua expansão e consolidação e o Reino Unido,
aliado dos Estados Unidos, permanece à deriva das tendências globais.
No dia 27 de outubro de 2017, o
Parlamento da Comunidade Autónoma da Catalunha (Espanha) declarou de forma
unilateral a independência da região, após uma votação liderada pela
coligação de partidos nacionalistas catalães, que foi apoiada por grande parte
da população, em uma jornada histórica.
“Após 10 anos da maior crise econômica enfrentada pela União Europeia desde a fundação do bloco , a sombra de uma nova recessão se faz cada vez mais forte”. A União Europeia foi uma das…
O CEIRI NEWS que já
conta com a colaboração de especialistas de todo o mundo, agora conta com a
colaboração do correspondente Wesley Sá Teles Guerra, localizado na Europa, que
será responsável por elaborar este boletim sobre a situação da União Europeia
vista desde dentro.
O cenário político Europeu aos poucos busca estabilidade após a eleição da ex-ministra alemã Ursula
Von der Leyen como presidente da Comissão Europeia. Embora sejam muitos os desafios que o bloco
europeu deve enfrentar para cumprir com a agenda estabelecida pelo programa
Horizonte 2020 e as tentativas de fortalecer a União Europeia após o avanço de
diversos partidos eurocéticos em países como Itália, Espanha, Hungria e na
própria Alemanha.
Durante o conselho de ministros exteriores em Bruxelas, realizada a
princípios de julho, assuntos como o avanço da exploração turca em águas cipriotas
e as tentativas do bloco para salvar o acordo nuclear do Irã evidenciou a
vontade da União Europeia em participar ativamente na política internacional e
ganhar maior protagonismo após o encontro do G20.
Dentro do bloco, a Espanha entrou em recesso parlamentar sem conseguir
empossar ao atual presidente interino, Pedro Sanchéz, depois do fracasso das
negociações em formar um bloco de esquerda com o partido PODEMOS.
Em Portugal as altas temperaturas provocaram diversos incêndios e a onda
de calor que sofreu o continente fez com que nações como a Bélgica decretassem
estado de alerta pelas altas temperaturas. A situação climática ganhou
repercussão na eurocâmara e no cenário político de diversos países, aumentando
a atuação do bloco que multou a cidade de Madri por não cumprir com as
políticas de combate a contaminação atmosférica e reforçou o discurso de sua
nova presidente que prometeu uma Europa mais verde e social.
Além do acordo com o Mercosul, a União Europeia estabeleceu um acordo
com o Vietnã e continua negociando com nações da Europa do leste em seu projeto
de expansão territorial, mantendo as tensões com a Rússia (que considera a
região sua área de influência) e aumenta o ceticismo de países enfraquecidos
economicamente após a crise que abalou o bloco.
Outra pauta presente no cenário Europeu ainda que menos discutida são os
temores gerados pela rápida evolução da tecnologia 5G onde a presença asiática
e dominante e coloca em perigo a autonomia digital da região.
As tensões entre a região da Catalunha e
o governo central de Madri foram aumentando desde o início da Crise Financeira
Internacional, que afetou o país desde 2008 a 2014, alimentando o nacionalismo
existente na região desde o século XIX e que se intensificou no final do século
XX, sob a crista do movimento plurinacional gerado pela consolidação do Bloco
europeu.
A região tentou por diversas vezes
promover uma cisão com o governo espanhol, realizando uma série de eleições e
referendos que jamais foram reconhecidos pela Espanha e até mesmo declarou sua
independência após votação no Parlamento da Catalunha, no dia 27 de outubro
de 2017, sendo rapidamente interditada pelo Governo espanhol, que destituiu
todos os membros do Governo local e decretou a prisão dos principais mentores
do movimento separatista.
Presidente da Catalunha e Presidente da Espanha
A Catalunha foi diretamente controlada
por Madri até a posse do atual presidente Pedro Sanchez (PSOE – Partido
Socialista Operário Espanhol), no dia 2 de junho de 2018, após a destituição do
presidente eleito Mariano Rajoy (PP – Partido Popular), devido ao seu
envolvimento em diversos escândalos políticos e suspeitas de corrupção.
A administração de Pedro Sanchez voltou a
restituir o governo da Catalunha e propôs um canal de diálogo com a região.
Embora o movimento tenha sido bem visto dentro da comunidade internacional, na
Espanha gerou uma grande rejeição, pois a questão territorial tem sido o maior
tema de discussão e polarização no país.
As negociações entre Catalunha e Espanha
praticamente não avançaram, embora essa aproximação entre ambas administrações tenha
gerado um crescimento dos partidos de extrema direita que defendem a unidade
territorial e atacam o atual partido na Presidência.
Segundo o
Centro de Investigaciones Sociologicas (CIS), os resultados das eleições em
Andaluzia refletem esse aumento do apoio da população a novas forças políticas
de extrema direita; efeito este que não foi negligenciado pelo antigo partido
da Presidência, o PP, que propôs uma aliança com o partido de extrema direita
VOX para “Varrer
aos socialistas do mapa”, conforme palavras do próprio porta-voz do
partido.
Líderes de extrema direita da Europa
A relação do governo central com a região da Catalunha, antes centralizada no aspecto econômico e nas reivindicações locais, agora se concentra no ambiente político e dita, por sua vez, a situação de todo o país e também da delicada posição do governo espanhol, que, por um lado, deve enfrentar a questão nacionalista e, por outro lado, deve encarar o discurso eurocético e ultranacionalista, contrários aos interesses da própria União Europeia. Dessa forma, gerou-se uma espécie de simbioses entre ambas as forças políticas opostas, porém dependentes, que levam aos nacionalistas catalães a apelar aos seus eleitores para o apoio do próprio Presidente da Espanha.
As tensões políticas e o avanço do discurso eurocético e conservador não são uma exclusividade da Espanha, dentro do Bloco europeu existem novos movimentos políticos que se contrapõe não somente aos interesses da União Europeia como de suas próprias origens, sendo curioso como, neste caso, a região geradora das principais tensões políticas locais se transformou em um importante ponto de equilíbrio para a própria Espanha.
A Espanha era a última das grandes democracias da União Europeia onde não havia um partido representante do crescente discurso de extrema direita, presente em países como França, Itália, Áustria, Hungria, Polônia, entre outros, que…