Uma tentativa de prolongar o mandato presidencial por mais cinco anos fez eclodir temores de uma nova guerra civil no Burundi. Após o anúncio do presidente Pierre Nkurunziza das suas intenções de um possível terceiro mandato, significativa parcela da população foi às ruas posicionar-se contra o seu governante[1][2].
Também o Exército, insatisfeito com essas intenções, aproveitou-se da ausência momentânea do atual Presidente na semana passada, o qual viajava para um encontro com líderes regionais na Tanzânia, para tentar depô-lo do cargo[1][2].
Impedidos por forças leais à Presidência, o Exército não conseguiu tomar o poder e Nkurunziza pode retornar ao Burundi ainda como o atual governante. Contudo, os combates entre os militares e as forças leais deixaram, ao menos, 20 mortos e incentivaram mais de 50 mil pessoas a fugirem aos países vizinhos, temendo que o país retorne ao caos vivido durante a guerra civil[2].
Líderes regionais posicionaram-se ao lado do presidente Nkurunziza, alegando que a iniciativa dos militares trata-se de um verdadeiro golpe. Por outro lado, opositores a Nkurunziza afirmam que as intenções de concorrer a um terceiro mandato são inconstitucionais, uma vez que a Constituição nacional permite somente dois mandatos.
Na Presidência desde 2005, Nkurunziza conduziu o Burundi após intenso período de guerra étnica com a missão de recuperar a ordem social e a economia em frangalhos. Ainda que o país tenha presenciado um crescimento médio de 4,2% no Produto Interno Bruto desde o início de seu governo, o Global Hunger Index, em 2013, constatou que o Burundi é o país no mundo com o maior número de famintos em relação à população total[3].
Em meio a um cenário político geral de convergência às práticas democráticas na África Subsaariana, analistas acreditam que os recentes atos do presidente Nkurunziza vão na contramão da tendência geral presenciada no continente, o que tende a reduzir a sua aprovação tanto dentro do Burundi como no cenário internacional. Recentes investidas contra veículos de mídia e declarações de ser um “enviado de Deus” são exemplos de práticas não democráticas que reduzem a sua popularidade[4].
No entanto, as investidas militares tampouco representam um avanço maior rumo à democracia plena, dado o histórico de governos autoritários liderados por militares nesse país. Assim, o Burundi enfrenta sérios desafios à sua incipiente democracia, tendo em vista que ambos os lados envolvidos no atual cenário político não oferecem verdadeiras alternativas democráticas.
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Imagem (Fonte – My Joy Online):
http://www.myjoyonline.com/world/2015/May-15th/burundi-coup-bid-some-coup-leaders-arrested.php
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Fontes Consultadas:
[1] Ver “The Washington Post”:
[2] Ver “The New York Times”:
[3] Ver “Banco Mundial”:
http://data.worldbank.org/indicator/NY.GDP.MKTP.KD.ZG?page=1
[4] Ver “The Guardian”: