O ano de 2019 chega ao seu fim marcado pela instabilidade política e tensões sociais em todo o planeta. Embora em termos de segurança e defesa este seja um ano de relativa paz, uma vez que são poucos os conflitos armados oficiais. Por outro lado, ocorreram diversas as manifestações e mudanças tanto no cenário político quanto econômico e social.
Em meio à anomia do sistema internacional, a União Europeia (UE) lutou por manter certa estabilidade, passando por um processo de introspecção e reformulação, na tentativa de promover as mudanças necessárias para a consolidação do bloco, que enfrenta problemas desde a cúpula de Bratislava em 2016, e sobrevive com as indefinições do Brexit, além do impacto das políticas americanas advindas da gestão Trump.
Entre as grandes economias que disputam o eixo de poder no planeta (Estados Unidos e China), a UE passou a segundo plano no que tange aos pleitos econômicos internacionais e questões globais, submersa em suas próprias dificuldades e na incapacidade de gerar um consenso entre os países que formam o bloco.
Os sinais de desaceleração da economia alemã (que logrou esquivar uma recessão) e o desgaste social causado pelas políticas de austeridade aplicadas em países afetados pela crise econômica de 2008 foram sem dúvidas os marcos que definiram o passo de 2019 no bloco.
Em relação ao cenário internacional o maior destaque do continente foi
ocupar o vácuo de poder na agenda de desenvolvimento sustentável gerado pelo
afastamento dos EUA e ausência do Brasil e demais países latinos, envolvidos na
já chamada “primavera latina”. O que deu voz a ativistas tais como a jovem
Greta Thungberg que desde seu discurso no parlamento Sueco em fevereiro, ganhou
representatividade em todo o planeta, assim como diversas críticas. A
celebração em dezembro da Cúpula
Mundial para a Mudança Climática em Madrid,
por desistência do Brasil e posteriormente do Chile, consolidou o papel
da Europa na denominada Agenda Verde Global.
O processo de cisão do Reino Unido, ou BREXIT, com o bloco foi o grande
impasse enfrentado em 2019 pela União Europeia, cuja definição deve aguardar a
2020 sem definir ainda o impacto e os acordos derivados da separação.
Por outro lado, no panorama político interno do bloco, Portugal e Finlândia consolidaram as lideranças de esquerda e centro-esquerda em seus respectivos países, frente a um crescente movimento de direita que já começava a se consolidar em 2018. Na Espanha e na Bélgica a incapacidade de nomear um governo para liderar o país continua na lista de tarefas pendentes para o próximo ano.
A expansão da UE continua avançando em direção ao leste e sudeste do continente, embora as demoras em formar governo nas altas esferas do bloco paralisaram os processos de adesão de novos países.
A relação entre a UE e os Estados Unidos, e consequentemente com a OTAN, também foram afetadas pela inércia dos processos internos do continente e pela evolução da política externa americana, não sendo bem recebidas as ameaças feitas pela gestão Trump de aumentar as tarifas de importação em relação a diversos produtos europeus.
Assim mesmo, as relações com as nações latinas e com o Mercosul foram
destaque apenas no que se refere a troca de ofensas em discursos presidenciais,
não havendo grandes resultados nem movimentos econômicos dentro dos novos
acordos assinados com a região.
O ano de 2019 foi para a Europa um ano de articulações majoritariamente
internas, reflexo do próprio paradigma internacional e do desgaste da
população. Também foi um ano de profunda avaliação, com o 30ª
aniversário da Queda do Muro de Berlim, em um mundo cada vez mais
polarizado, e abalado por tragédias tais como o incêndio
da catedral de Notre Dame e a continuação da crise dos refugiados e
imigrantes que buscam melhores condições no bloco.
No panorama social, greves na Espanha, França, Itália e outros países, são os reflexos de que os desafios enfrentados pela Europa vão além do alinhamento político e permeia o pensamento de milhões de europeus que participaram nas eleições parlamentares do bloco no começo do ano, mas sem muitas expectativas de mudanças apesar de tudo o que estava em jogo, devido aos sinais de que o projeto europeu precisa de uma rápida intervenção ou caso contrário cederá sobre seu próprio peso. Após as eleições, a Alemanha saiu fortalecida no bloco, o que não gerou grandes mudanças em relação as diretivas da UE.
O ano de 2020 representa um anseio de mudança na Europa e no mundo,
alimentados pela campanha presidencial americana e pelo desejo de estabilidade
política nos países da América Latina após um tenso ano de 2019. O processo de
expansão e crescimento do bloco depende por um lado de estabilidade interna e
por outro da consolidação de um cenário internacional mais propício às
negociações, investimentos e comércio.