Em uma corrida eleitoral marcada por extrema polarização político-ideológica, Joseph Robinette Biden Jr. se tornou o 46º Presidente dos EUA, segundo pronunciamento da agência de notícias Associated Press, realizado em 7 de novembro (2020) e,…
O Secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, iniciou seu tour de cinco dias pelo Oriente Médio. A viagem teve como objetivo exortar mais Estados árabes a assinarem tratados de paz com Israel, normalizando as relações. A visita do Secretário teve início em 24 de agosto, e teve Tel Aviv como primeiro destino.
O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anuncia à mídia o acordo com os Emirados Árabes Unidos do Salão Oval na Casa Branca, em 13 de agosto de 2020
Mapa do chamado ‘Visão para Paz’, plano de paz para o conflito Israel-Palestina apresentado por Donald Trump em 28 de janeiro de 2020
A contrapartida do acordo seria o comprometimento israelense com a suspensão da declaração de soberania sobre os 30% adicionais da Cisjordânia, áreas delineadas no plano “Paz para Prosperidade” de Donald Trump, anunciado em janeiro de 2020.
Bandeiras de Israel e Estados Unidos ao lado do slogan ‘Trump é amigo do Zion’, por ocasião dos preparativos da cerimônia de realocação da Embaixada norte-americana em Israel de Tel Aviv para Jerusalém, em 2018
Analistas apontam que o acordo tem cunho tecnológico e estratégico, viabilizando a venda de jatos F-35 dos Estados Unidos aos Emirados – o que Israel nega ter permitido – e de fortalecimento dos laços pró-ocidentais na região. Além de representar “o golpe mais recente dos Estados árabes à causa Palestina”, a normalização é acusada de ser feita às custas do legítimo direito nacional palestino, vez que ignora as violações israelenses ao Direito Internacional, sobretudo a ocupação de facto nos territórios para além da linha verde de 1967. O acordo, argumentam analistas, mira o Irã e deve ser compreendido dentro da campanha de recrudescimento de sanções e de pressão máxima de Trump contra o chamado eixo da resistência, composto, além do Irã, por Síria, Hezbollah, Hashd ash-Shabi no Iraque e Ansar Allah no Iêmen.
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Fontes das Imagens:
Imagem 1 “Michael Richard Pompeo, Secretário de Estado norte–americano” (Fonte):
Imagem 2 “O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anuncia à mídia o acordo com os Emirados Árabes Unidos do Salão Oval na Casa Branca, em 13 de agosto de 2020”(Fonte):
Imagem 3 “Mapa do chamado ‘Visão para Paz’, plano de paz para o conflito Israel–Palestina apresentado por Donald Trump em 28 de janeiro de 2020”(Fonte):
Imagem 4 “O Secretário de Estado Michael Pompeo em encontro com o Sultão de Omã, Haitham bin Tariq Al Said, em Muscat, Omã, em 21 de fevereiro de 2020”(Fonte):
Imagem 5 “Bandeiras de Israel e Estados Unidos ao lado do slogan ‘Trump é amigo do Zion’, por ocasião dos preparativos da cerimônia de realocação da Embaixada norte–americana em Israel de Tel Aviv para Jerusalém, em 2018”(Fonte):
Desde sua campanha durante eleições presidenciais de 2016, o presidente Trump vem elevando a retórica contra o Irã. Em maio de 2018, o Presidente estadunidense retirou o país do Plano de Ação Integrado Conjunto (popularmente conhecido como “Acordo Nuclear do Irã”), desde então, a relação dos Estados é marcada por uma série de medidas restritivas por parte dos Estados Unidos e mesmo de ofensivas diretas, como o ataque militar que vitimou o general Qassem Suleimani, antigo Comandante das Forças Quds (forças especiais da Guarda Revolucionária Iraniana).
O chanceler iraniano, Mohammad Javad Zarif, cumprimenta o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, durante encontro em Moscou / Página oficial do chanceler iranianoMohammad Javad Zarif, no Twitter – @Jzarif
Existe a impressão de que as demonstrações de força por parte dos Estados Unidos esperavam levar o governo iraniano a renegociar o Acordo Nuclear e a relação de uma maneira que parecesse mais favorável aos tomadores de decisão em Washington, ou mesmo a um colapso do atual regime no país.
É em meio a este cenário que o Estado iraniano negocia acordos que podem aproximar ainda mais o país da Rússia e da China, aumentando a influência de dois grandes rivais dos Estados Unidos sobre o Oriente Médio.
O renovado interesse de associação entre Teerã tanto com Moscou quanto com Beijing envolve uma série de acordos para venda de material bélico, cessão de atividades econômicos e fontes de energia.
O chanceler iraniano, Mohammad Javad Zarif, cumprimenta o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, durante encontro em Moscou / Página oficial do chanceler iraniano Mohammad Javad Zarif, no Twitter – @Jzarif
Em visita ocorrida no dia 16 de junho à Rússia, o ministro das Relações Exteriores do Irã, Mohammad Zarif, manteve diálogo com sua contraparte russa, o chanceler Sergei Lavrov. Os diplomatas discutiram o apoio de Moscou para que o Irã mantenha seu programa nuclear operante e para evitar a renovação da Resolução 2231 do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Emitida em 2015, a medida impõe uma série de restrições para a aquisição de armas e material bélico por parte do Irã. Lavrov afirmou que a Rússia faria “tudo” para manter o Acordo Nuclear com o Irã e que “Washington não tem nenhum direito de punir o Irã”.
Os chanceleres do Irã, Mohammad Javad Zarif, e da Rússia, Sergei Lavrov, realizam a troca de documentos durante declaração conjunta em Moscou / Página oficial do chanceler iraniano Mohammad Javad Zarif, no Twitter – @Jzarif
Os iranianos buscam estabilidade interna e manter a projeção de seus interesses para a região. Caso avancem ainda mais as alianças com a China e a Rússia, o país poderá garantir estabilidade comercial, apoio político, bem como o suprimento de material e tecnologia para sua indústria militar.
A Rússia possui claros interesses estratégicos no Oriente Médio, como é observado após anos de presença militar na Síria e um renovado interesse na Líbia. A China possui interesse em aumentar sua presença globalmente e o Oriente Médio é ponto central para estabelecer a Iniciativa do Cinturão e Rota.
Apesar do alto impacto causado pelas sanções, o Irã manteve firme posição ao negar a possibilidade renegociar os termos do Acordo Nuclear. Um cenário de renovada estabilidade do país e uma aliança com dois dos maiores competidores globais pode se apresentar com um dos principais desafios para a diplomacia dos Estados Unidos durante o próximo mandato presidencial.
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Fontes das Imagens:
Imagem 1 “O presidente do Irã, Hassan Rouhani, realiza videoconferência com os presidentes da Rússia, Vladmir Putin, e da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, sobre conflito na Síria / Página oficial do chanceler iraniano Mohammad Javad Zarif, no Twitter – @Jzarif” (Fonte):
Imagem 2 “Visão da videoconferência entre os presidentes do Irã, Rússia e Turquia/ Página oficial do chanceler iranianoMohammad Javad Zarif, no Twitter – @Jzarif” (Fonte):
Imagem 3 “O chanceler iraniano, Mohammad Javad Zarif, cumprimenta o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, durante encontro em Moscou / Página oficial do chanceler iranianoMohammad Javad Zarif, no Twitter – @Jzarif” (Fonte):
Imagem 4 “Os chanceleres do Irã, Mohammad Javad Zarif, e da Rússia, Sergei Lavrov, realizam a troca de documentos durante declaração conjunta em Moscou / Página oficial do chanceler iranianoMohammad Javad Zarif, no Twitter – @Jzarif” (Fonte):
A disputa pelo desenvolvimento e a oferta de tecnologia 5G vem ganhando destaque na mídia em meio à conjuntura mais ampla de tensões entre os Estados Unidos e a China. Embora as autoridades norte-americanas apontem…
A política
internacional está passando por uma conjuntura de intensas mudanças e
instabilidade. Vários fatores contribuem para isto: 1) regimes democráticos vêm
sofrendo críticas em diversos países ao redor do mundo; 2) as tecnologias,
como a inteligência artificial e o big data ainda provocarão mudanças que não
são completamente dimensionadas pelas sociedades; 3) desafios sistêmicos de
médio e longo prazo, tal como o avanço do aquecimento global; 4) maior espaço
para a atuação no Sistema internacional, destacando a proeminência da China e a
crescente
importância da Ásia enquanto polo de dinamismo
econômico.
Os Estados
Unidos ainda são a principal potência global. No entanto, um maior foco nas
suas questões domésticas, aliado à ascensão de atores como a China estão
contribuindo para este cenário dinâmico e aberto a mudanças. Especialistas apontam que o ordenamento internacional surgido no
pós-Segunda Guerra Mundial, que teve os seus valores reforçados ao final da
Guerra Fria, tem sofrido rupturas e novas ideias estão emergindo, vindas de
centros de poder localizados em outros espaços, fora da visão
de mundo estritamente Ocidental.
Mapa Físico da Ásia
Nesta
conjuntura de múltiplas narrativas e diferentes atores buscando os seus
interesses e vantagens estratégicas, a geopolítica ressurge com força. A geopolítica designa a análise da interação entre, por um lado, os
ambientes geográficos e, por outro lado, os processos políticos. Portanto, a
geopolítica consiste no uso de recursos ou elementos geográficos para atingir
objetivos políticos. A geopolítica pode ainda constituir uma série de lentes
de análise para verificar de que forma os
fatores geográficos influenciam as ações políticas, assim como a concentração
ou dispersão do poder. O desenvolvimento de tecnologias de ponta está
historicamente ligado à disrupções geopolíticas. Portanto, a expansão da
geopolítica permeia as relações, seja nas áreas política, ambiental, econômica
e tecnológica.
Tradicionalmente,
o campo das Relações Internacionais aponta três posturas possíveis no âmbito da
política internacional: competir, cooperar ou entrar em conflito*. Tendo como
foco as relações entre os Estados Unidos e a China e as dinâmicas de
competição, cooperação e conflito no âmbito da tecnologia, observa-se que a
resposta norte-americana à maior proeminência chinesa provocará diferentes
mudanças para o ordenamento global. A Guerra Comercial e a crescente disputa
pelo domínio e desenvolvimento das tecnologias que guiarão a expansão das
cadeias globais de valor nas próximas décadas são os dois principais campos de
disputa que aparecem de forma mais proeminente na mídia nacional e
internacional.
No âmbito do
domínio e desenvolvimento de tecnologia, existem três cenários possíveis acerca
da
ascensão chinesa: 1) competição, no qual as principais potências globais podem
se desconectar, cada uma buscando formar a sua próprias redes e zonas de
influência; 2) cooperação, neste ponto veríamos a concorrência, onde as
diferentes capacidades dos Estados e de suas empresas definiriam o espaço
ocupado por determinado ator no sistema internacional; 3) o cenário do conflito
poderia envolver o aprofundamento de disputas como a guerra comercial, além do
aprofundamento da diplomacia bilateral.
No cenário
competitivo, desenvolvimentos como as tensões ligadas à expansão da empresa
chinesa Huawei na área da telecomunicação 5G e os pedidos
do governo Norte-americano pelo banimento desta
empresa em diversos países sinaliza a possibilidade
de uma desconexão. Ou seja, as cadeias de
produção de bens tecnológicos poderiam se tornar mais nacionalizadas e/ou
concentradas em aliados específicos. Outras evidências que apontam para esta
possibilidade incluem a declaração
do mandatário chinês Xi Jinping de que o país
vai tentar depender menos das indústrias de tecnologia advindas dos Estados
Unidos. Este seria um cenário com posturas de balanceamento e formação de
alianças entre os grandes atores do sistema, porém onde ainda existam
eficientes canais de diálogo para promover a cooperação em algumas áreas, mesmo
que se mantenha certo grau de tensão.
Mandatários dos Estados Unidos e da República Popular da China, Donald Trump e Xi Jinping
No cenário
cooperativo a concorrência, as diferentes capacidades e vantagens competitivas
dos Estados e de suas principais empresas ditam o espaço ocupado por
determinado ator nos diversos mercados e cenários regionais. Ou seja, este
seria um cenário no qual a dispersão ou concentração de poder ocorreriam de
forma organizada, possivelmente pautados pelo diálogo, pela diplomacia
multilateral e pela ação de instituições como a ONU, o Banco Mundial, o Banco Asiático
de Infraestrutura e Investimento, o G20, entre outras.
O cenário de conflito poderia envolver o aprofundamento de disputas como a guerra comercial e talvez mesmo as guerras por procuração (proxy), onde dois ou mais agentes realizam a difusão de suas tensões, terceirizando determinado conflito para outros territórios, não diretamente envolvidos na disputa original. Além disto, um cenário com posturas mais conflitivas produziria o aprofundamento da crise da diplomacia e das instituições multilaterais, a exacerbação do uso político de narrativas nacionalistas e/ou extremistas e a preferência pela condução de diplomacia pelas vias bilaterais.
Fluxo Líquido de Investimento Estrangeiro Direto por país (1985-2018)
É provável
que a ascensão chinesa produza uma combinação de diferentes respostas por parte
dos atores tradicionais do Sistema internacional. Além das possibilidades
apontadas nos cenários traçados, é importante relembrar que, por vezes, ocorrem
os cisnes negros**, como costuma se denominar em análises de risco. Por fim,
até 2040 a Ásia
deverá representar mais de 50% do PIB mundial e
40% do consumo, ressaltando a tendência de mudança do eixo econômico global
rumo às regiões fora do Ocidente.
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Notas:
* Na análise do construtivismo wendtiano,
denominam-se estas atitudes sob três perspectivas: 1) Lockeano (competir),2)
Hobbesiano (conflito), 3) Rousseauniano (cooperar). A perspectiva acerca dos outros
atores alteraria, portanto, as ações dos Estados no Sistema Internacional. Um
exemplo claro, diz respeito à diferente maneira com a qual os Estados Unidos
lidam com o poderio nuclear do Reino Unidos e da Coreia do Norte. Apesar do
arsenal nuclear do Reino Unido ser muito mais numeroso, este ator não é visto
como uma ameaça, ao contrário da Coreia do Norte.
** Denomina-se de cisne negro, os fatos que
possuem uma possibilidade muito reduzida de ocorrer e grande impacto. Ou seja,
são fatos muito difíceis de serem previstos e que quando ocorrem têm efeitos
devastadores para os agentes envolvidos na matriz analítica.
Imagem 4 “Fluxo Líquido de Investimento Estrangeiro Direto por país (1985–2018)” (Fonte): https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Foreign_Direct_Investment_by_Country.png
O
Presidente dos Estados Unidos da América, Donald
J. Trump, está atravessando o
momento mais crítico de seu mandato. A Câmara dos Representantes
(correspondente à Câmara dos Deputados, no Brasil), controlada pelos
Democratas, o Partido de oposição, entrou com um pedido de Impeachment ao seu mandato presidencial. Na
história do país, nunca um Presidente foi impichado, e quando isto teve início
o próprio Presidente em exercício renunciou antes, caso de Richard Nixon, ou
tiveram seus processos anulados em uma segunda etapa[1].
Tentativas
de tirar o Donald Trump do cargo presidencial não são novidade, mas, o escândalo envolvendo o Presidente da Ucrânia, Vladimir Zelenski, apresenta indícios
que fizeram o assunto ressurgir com força. Denúncia interna da Casa Branca feita em setembro cita uma conversa que teria ocorrido em julho (2019), na qual Trump teria
pedido à Zelenski para investigarHunter Biden, o
filho de seu principal rival político à eleição de 2020, Joe Biden, por corrupção, quando ele fazia parte do conselho de uma
empresa de gás da Ucrânia. Joe Biden foi vice-presidente dos Estados Unidos no
governo de Barack Obama, entre
janeiro de 2009 a janeiro de 2017, e, até antes desse caso, já considerado como
escândalo por alguns analistas, era o candidato com mais chances de
derrotar Donald Trump nas eleições presidenciais de 2020.
Dias antes
da conversa ter ocorrido, Trump reteve a verba destinada à Defesa da Ucrânia, país envolvido em grave conflito
interno na região de Donbass. Na
conversa, o mandatário estadunidense acusa a União Europeia de não ajudar a
Ucrânia como poderia e, implicitamente, condiciona a liberação de fundos para
Defesa do país, cerca de 1,635 bilhão de reais[2] (que já haviam sido acertados anteriormente) à
investigação do filho de Joe Biden, Hunter Biden, por enriquecimento quando
conselheiro de uma empresa de gás naquele país. Embora a questão da ajuda
militar e econômica não estivesse mencionada explicitamente na conversa entre
os dois Chefes de Estado, a oposição entende que isto se encontrava nas entrelinhas, ao passo que o
Presidente dos Estados Unidos nega enfaticamente.
Joe Biden e Barack Obama, 2008
Para o Juiz Andrew Napolitano, o fato de Trump ter assumido que ligou
ao Presidente da Ucrânia pedindo ajuda é uma confissão de culpa, e o Presidente
norte-americano teria cometido um crime. Ou seja, independentemente de ter
havido chantagem ou não neste caso, o simples pedido de ajuda em uma
investigação para prejuízo de um rival político por um Presidente dos Estados
Unidos a um líder estrangeiro é ilegal. Mesmo Trump tendo anunciado que
revelaria a transcrição do diálogo, os Democratas consideraram
insuficiente, ao que a Presidente da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, do Partido Democrata, deu
início ao processo de Impeachment. Em suas palavras, “as ações
tomadas pelo Presidente violaram seriamente a Constituição”.
Vladimir
Zelenski também não sai ileso deste caso. Na referida conversa com Trump, ele
responde afirmativamente que nomearia um novo Promotor “100% de minha
confiança [que] investigaria
a situação”. Na
conversa, após Zelenski expressar seu desejo de comprar mísseis antitanque,
produzidos pela Raytheon[3], que são ideais para repelir ataques
dos blindados russos utilizados pelos rebeldes na guerra do Donbass, Trump
respondeu: “gostaria que
você fizesse um favor”.
Burisma Holdings
Em maio de
2014, Hunter Biden era nomeado conselheiro da empresa de gás ucraniana Burisma. Fundada em 2002, a maior produtora
privada de gás do país se apresentava como uma empresa de energia em expansão
para além das fronteiras da Ucrânia. Seu fundador, Mykola Zlochevsky, foi responsável pela expansão da corporação, ao
mesmo tempo em que era Ministro da Ecologia e Recursos Naturais da Ucrânia,
entre julho de 2010 e abril de 2012. Dentre suas atribuições estavam emissões
de licenças de perfuração de gás durante o governo de Viktor Yanukovych, até este demiti-lo[4].
Mykola Zlochevsky, 2014
A
conjuntura internacional em que Hunter Biden foi admitido no conselho era da
anexação da Crimeia pela Rússia e da insurgência de rebeldes apoiados por
Moscou no Leste. Ainda assim, havia esperanças de que o novo governo de Petro Poroshenko adotasse reformas que
combatessem a corrupção endêmica. Nesse contexto, a Burisma foi alvo de uma
investigação de lavagem de dinheiro e questionamentos sobre como
havia obtido certas licenças para extração de gás natural. A partir daí
é que a empresa nomeia Hunter Biden para seu conselho, e também a Aleksander
Kwasniewski, ex-presidente polonês, e a Cofer Black, ex-funcionário da CIA e
consultor de política externa na campanha presidencial de Mitt Romney, em uma
tentativa de melhorar sua imagem.
Acusações
como as feitas por Trump, de que Joe Biden pressionou pela demissão do antigo
promotor que investigava as ações da Burisma não foram confirmadas até então pelo governo da Ucrânia. As
investigações sobre a corrupção na empresa envolvendo o nome de Hunter Biden
datam de 2016 e dois promotores já passaram por ela sem apontar qualquer
indício de corrupção. O assunto gerou polêmica e o recém nomeado Promotor-Chefe
da Ucrânia, Ruslan Ryaboshapka,
afirmou que vai retomar as investigações, desde antes da posse de Biden, em
2014.
Mesmo que não haja indícios, há quem alegue conflito
de interesses, especialmente quando o filho de um político influente no
governo dos Estados Unidos à época recebe um cargo em uma das maiores empresas
de outro país. Tudo que se sabe de concreto sobre ganhos de Hunter Biden, até o
momento, segundo o The Wall Street Journal, é de que recebia aproximadamente 205,7
mil reais mensais (em valores atualizados)[5]
como diretor da empresa. Ao que tudo indica, a sua contratação fazia parte de
uma estratégia comercial da empresa para expandi-la, a fim de angariar
credibilidade em um governo estrangeiro, que, à época, prestava apoio internacional à Ucrânia contra a Rússia.
Em termos
políticos, ao divulgar as conversações por inteiro, analistas consideram que
Trump cometeu um erro político, pois, mesmo que o filho de Biden pudesse ter algum
envolvimento com a corrupção em outro país e se beneficiasse dela, investigá-lo
não caberia ao Presidente em exercício dos Estados Unidos, ou seja, ao Poder
Executivo, e, sim, ao Departamento de Justiça daquele país.
Se o
processo de Impeachment passar na Câmara dos Representantes, onde os Democratas
são maioria, Trump seria o terceiro Presidente da história dos Estados Unidos a
sofrer um processo deste tipo[6].
Caso o processo seja aprovado neste estágio, ele passa a ser avaliado pelo
Senado, onde os Republicanos, Partido do atual mandatário, são maioria. Neste
momento, enquanto os Senadores agem como jurados, os deputados servem como
fiscais do processo. Para Trump perder seu cargo não basta que a maioria
simples do Senado (50% mais um) vote pelo impeachment, mas, sim, dois terços da casa.
Mesmo que,
porventura, Trump seja destituído do cargo isto não significa que não possa se
candidatar novamente para as eleições em 2020. Como se trata de um político com
altos índices de aprovação (e de rejeição), é possível que a polarização
política já existente se acentue e torne o apoio a sua reeleição ainda maior,
sem que, no entanto, haja um nome proporcionalmente forte para disputar o cargo
pela oposição. O governo de Vladimir Zelenski, por sua vez, pode sofrer algum
revés dessa situação política nos Estados Unidos até que tudo seja esclarecido,
o que também pode ser um prejuízo à sua estratégia de defesa territorial,
particularmente no Donbass, para onde o Crédito de Defesa dos Estados Unidos se
destinava.
Por outro
lado, as consequências desta crise para a Ucrânia podem ser positivas. Vijai Maheshwari, escritor e empresário
baseado em Moscou, considera que novos acordos podem surgir entre Kiev e Moscou, com a
articulação de outras lideranças, como o francês Emmanuel Macron, p.ex., ou
ainda, numa tentativa de reverter seu prejuízo político, Donald Trump pode se
dedicar mais enfaticamente a um acordo de paz entre os dois países: Rússia e
Ucrânia. E, por fim, mas não finalmente, Kiev poderia jogar com estratégia para
se alinhar politicamente com mais centros decisórios, em uma ordem
verdadeiramente multipolar, reduzindo sua dependência de Washington.
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Fontes das
Imagens:
[1]Andrew Johnson e Bill Clinton foram
cassados pela Câmara dos Representantes ou Câmara Baixa, mas absolvidos pelo
Senado, também chamado de Câmara Alta. Richard
Nixon teve seu processo suspenso, uma vez que acabou renunciando antes de o
Congresso votar o caso.
[2] 400 milhões de dólares, na cotação de 8 de outubro de
2019, de acordo com o Banco Central do Brasil.
[3]Raytheon Company, a maior produtora de mísseis guiados do mundo, é
um conglomerado de empresas dos Estados Unidos que atua na área de armamentos e
equipamentos eletrônicos para uso militar e civil.
[4] Cabe observar que
Mykola Zlochevsky não foi demitido do governo, mas do cargo, sendo nomeado como Secretário
Adjunto do Conselho de Segurança e Defesa Nacional em 20 de abril de
2012.Viktor Yanukovych foi o Presidente ucraniano expulso do país durante o
processo revolucionário conhecido como “Euromaidan”,
que afasta a Ucrânia da política externa de Moscou.
Após Washington anunciar em maio de 2018 a retirada unilateral do acordo que culminou no desmantelamento do Programa Nuclear Iraniano, conhecido como Joint Comprehensive Plan of Action (JCPOA, na sigla em inglês), e que fora…
O mundo assiste novamente à escalada de
tensões entre EUA e Rússia por conta da decisão do Governo norte-americano de
se retirar do Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário (INF, sigla
em inglês*). Esse Acordo previa a eliminação e a proibição do desenvolvimento e
implantação de mísseis balísticos e de cruzeiro, sejam eles nucleares ou não,
em que o alcance estaria entre 500 e 5.500 quilômetros. O INF foi firmado ainda
na época da Guerra Fria pelos antigos líderes Ronald Reagan – dos EUA – e
Mikhail Gorbachev – da extinta União Soviética, em 1987. Desde então, o Tratado
foi responsável pelo desmantelamento de mais de 2.500 mísseis e manteve aqueles
com ponta nuclear longe do continente europeu.
Em outubro do ano passado (2018), a
Administração Trump surpreendeu os seus aliados e a própria Rússia ao anunciar
que iria se retirar do INF, visto que haveria provas de que os russos não
estariam cumprindo o Tratado. Por cinco anos, os EUA exigiram transparência
acerca de um míssil que supostamente violaria as regras do Acordo e não
obtiveram retorno. Ressalta-se, no entanto, que no governo Obama não ocorreu
uma ameaça definitiva quanto à saída do Acordo, apesar de ter ocorrido pressão
para que informações desse míssil russo fossem divulgadas.
O Secretário Geral da União Soviética, Mikhail Gorbachev, e o presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan, assinam o Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário na Casa Branca, em 1987
Após o anúncio em outubro passado (2018),
aliados dos EUA, em especial a Alemanha de Angela Merkel, destacaram a
relevância do Acordo. Eles pediram para que o Governo norte-americano
reconsiderasse sua decisão e que primeiro tentasse resolver a situação pela
diplomacia. Foi determinado um prazo de 2 meses para que delegações americanas
e russas tentassem resolver a situação através do diálogo em ambientes de
negociação internacional.
Estoques de armas nucleares dos Estados Unidos e da União Soviética/Rússia no período da Guerra Fria e após esse conflito ideológico
Visto que a via diplomática não surtiu os
efeitos desejados, o governo Trump anunciou efetivamente a retirada do país do
Tratado. A partir de fevereiro (2019), os EUA começaram a suspender suas
obrigações ditadas pelo INF e em 6 meses, portanto, em agosto (2019), sairão
por completo do Acordo. Conforme
declarou Mike Pompeo, Secretário de Estado dos EUA, a situação só se reverteria
se a Rússia honrasse com sua parte. Entretanto, o Governo russo segue
afirmando que suas ações seguem os trâmites estabelecidos pelo INF.
Em vista desse cenário, a escalada de
tensões é evidente. Segundo um legislador russo, Peter Tolstoy, a decisão dos
EUA de retirar-se do INF coloca a segurança dos países europeus em risco.
Muitos especialistas apontam que uma nova era de corrida armamentista está para
começar. Essas mesmas autoridades apontam que os EUA se retiraram do Tratado
não só por acreditar que a Rússia o está violando, mas também por não estar equiparando
seu arsenal ao da China, país que não está incluído no INF. Dessa forma, os EUA
têm a intenção de desenvolver novas armas e talvez instalá-las em suas bases
pela Europa. Mas, assim como os americanos, a Rússia também está se preparando
para o novo cenário. Putin, no dia 22 de fevereiro, declarou que novas armas estão sendo
desenvolvidas e que esses tipos de armamentos são diferentes de tudo o que há
pelo mundo.
* Tratado
INF do inglês: Intermediate-Range Nuclear Forces.
** A
Crise do Caribe mencionada por Vladimir Putin em seu discurso refere-se à Crise
dos Mísseis em Cuba em 1962. Ela foi causada pela implantação de mísseis
balísticos soviéticos em Cuba. Foi o auge da Guerra Fria, quando, por 13 dias,
o mundo assistiu aflito à possibilidade real de o escalonamento das tensões
entre EUA e União Soviética (URSS) resultar numa guerra nuclear. Em razão da
diplomacia, foi acordado que em troca da retirada dos mísseis da URSS de Cuba,
os EUA garantiriam que nunca invadiriam a ilha do Caribe e que retirariam os
seus mísseis da Turquia.
A eleição presidencial em 2020 nos
Estados Unidos pode ser considerada como uma conjuntura longeva, porém, a
movimentação social em torno do futuro pleito, o acirramento da oposição
democrata na Casa dos Representantes, após o bom resultado nas eleições de meio
de mandato (Midterm, como é conhecido
nos EUA), inspirou uma série de postulantes ao cargo máximo a anunciar intenção
em se tornar o próximo ou a próxima Presidente dos EUA pelo Partido Democrata.
Esse panorama aparentemente favorável ao Partido Democrata surgiu, segundo
recente pesquisa do PEW Research, da
condução do país pelo presidente Donald J. Trump.
Em charge, Trump se mostra preocupado com as mudanças na Casa dos Representantes, agora de maioria democrata
De acordo com a pesquisa,
no segundo aniversário da posse do atual Mandatário, as opiniões públicas sobre
o desempenho, bem como sua ética, honestidade e condução na administração
pública são decididamente negativas.
O Presidente inicia seu terceiro ano com
um índice de aprovação de 37%, e 59% o desaprovam. Dos cinco Presidentes
anteriores, apenas Ronald Reagan tinha índice de aprovação tão baixo nesse
mesmo estágio do mandato, com 54%.
Em contrapartida, mais americanos
interpretam que as políticas econômicas adotadas pela atual administração
tornaram as condições melhores (40%), do que piores (28%), enquanto 29%
disseram que não tiveram muito efeito.
Ao adotar uma comparação com a
administração de Barack Obama, nas mesmas condições da atual pesquisa, em
janeiro de 2011, portanto, no terceiro ano de seu primeiro mandato, a opinião
pública expressou visões mistas do impacto de suas políticas econômicas, com aproximadamente
31% dizendo que pioraram, contra 28% dizendo que resultaram em melhores
condições.
Outros
dois aspectos muito específicos de sua administração também foram analisados.
No que tange à questão de tornar pública sua declaração de impostos, como no passado,
a maioria, ou seja, 64%, dizem que Trump tem a responsabilidade de publicar sua
declaração de impostos, e apenas 32% entendem que ele não tem responsabilidade
de fazer tal movimento. Quase todos os democratas, ou 91%, e 32% dos
republicanos afirmam que o presidente estadunidense deveria liberar suas
declarações de impostos.
Em relação à investigação promovida pelo
Procurador Especial, Robert Muller, sobre a influência da Rússia nas eleições
de 2016, bem como o papel do Presidente na trama, conhecido como Russiagate, a confiança do público na
investigação se mostra estável. A maioria, ou 55%, continua confiante no trabalho
do Procurador e classificam como um trabalho justo.
Outra pesquisa
de relevância sobre o desempenho de Donald Trump feita pelo site Real Clear Polítics reforça o
aprofundamento da posição negativa do mandatário estadunidense, os 42,2% que
aprovam seu governo, contra 54,4% que não aprovam, criaram as bases para o
Partido Democrata já iniciar seu processo de escolha do futuro candidato a
ocupar a Casa Branca.
No destacado hall dos presidenciáveis do partido
opositor se destacada a Senadora por Massachussets, Elisabeth Warren, de 69
anos e membro da ala esquerda do partido. A Senadora se tornou a primeira
democrata a declarar sua pré-candidatura para as eleições de 2020.
Elisabeth Warren com Hillary Clinton em Manchester, New Hampshire, 2016
Em seu vídeo de anúncio, além
de apresentar suas credenciais, destaca: “Hoje,
a corrupção está envenenando nossa democracia… Os políticos olham para o
outro lado, enquanto as companhias de seguro negam aos pacientes a cobertura
que salva vidas, enquanto os grandes bancos arrancam os consumidores, enquanto
as grandes companhias petrolíferas destroem este planeta”.
Kirsten Gilliard em evento em prol dos militares estadunidenses
A também Senadora, Kirsten Gillibrand, do Estado de Nova
Iorque, foi a próxima figura importante do Partido a anunciar sua candidatura
durante uma entrevista ao programa “The
Late Show with Stephen Colbert”. A senadora Gilliard, de 52 anos, ao longo
da entrevista
sinalizou para a classe média, bem como para o rotineiro problema do sistema de
saúde estadunidense. Ela disse: “Como
jovem mãe, eu vou lutar pelos filhos de outras pessoas tão duro quanto vou
lutar por mim mesma, e é por isso que acredito que a saúde deve ser um direito e
não um privilégio”.
Kamala Harris como procuradora-geral anunciando em 2011 a prisão de líderes da Nuestra Familia
Kamala
Harris, Senadora pelo estado da Califórnia é mais uma mulher que anunciou
sua pré-candidatura, em 21 de janeiro, no dia de Martin Luther King Jr.,
durante uma entrevista ao programa “Good
Morning America” da ABC. A Senadora californiana, de 54 anos, é
ex-Procuradora-Geral do Estado e figura ascendente no Partido Democrata. No
curso da entrevista sinalizou para a luta dos direitos civis, o que deve
nortear sua campanha e atrair o voto das minorias.
Corey
Booker, Senador por Nova Jersey, anunciou pelo twitter sua pré-candidatura democrata e se tornou o segundo
afro-americano a disputar preliminarmente a Presidência. O Senador
ficou conhecido nacionalmente como Prefeito de Newark, Nova Jersey. Aos 49
anos, é graduado na Escola de Direito de Yale e, segundo especialistas, nunca
fez segredo de suas ambições de chegar à Casa Branca. Ainda segundo os mesmos
especialistas, já dispõe de estrutura de campanha em alguns Estados
importantes.
Corey Booker em evento de campanha para Barack Obama, em 2007
Booker se destacou pelo trabalho
bipartidário, no fim de 2018, para aprovar um pacote de reforma da justiça
criminal que reduziu as penas federais mínimas obrigatórias e trabalhou em
conjunto com o senador Tim Scott, Republicano da Carolina do Sul. Ambos ainda
discorrem sobre a criação de “Zonas de
Oportunidades”, uma forma de isenção de impostos em bairros de baixa renda,
tal como a Lei de Corte de Impostos de 2017.
Booker e a Senadora Kamala Harris
(Califórnia) são co-patrocinadores do projeto Medicare for all
do também presidenciável Bernie Sanders, que tem como objetivo eliminar o
seguro de saúde privado. O Senador
pelo Estado de Vermont, Bernie Sanders, a que anunciou sua entrada na disputa das
primárias, é considerado por especialistas como um dos grandes nomes do
Partido.
O Senador
tem a seu favor um programa de governo conhecido e bastante difundido, tais
como a generalização da cobertura de saúde, a educação gratuita nas
universidades públicas, a reforma do sistema penal, a reforma da política de
imigração, bem como programas de proteção ao emprego e melhoria do salário
mínimo.
O anúncio de Biden é de grande interesse
para eleitores democratas e quase todos os principais doadores de campanha,
pois, segundo analistas políticos em Washington, há maior interesse no
ex-Vice-Presidente por ser um candidato que teria maiores condições de derrotar
o atual Presidente.
No entanto, o ceticismo
de Biden sobre a nomeação vai ao encontro da empolgação encontrada na sociedade
com o número elevado de mulheres e afrodescendentes que devem concorrer, nichos
da sociedade com o qual Biden não goza de muita empatia, e muitos consideram
mais uma polarização a ser administrada em um país já dividido.
Antes do pleito Republicano Vs. Democrata
em 2020, os oposicionistas terão que definir dentre os inúmeros pré-candidatos
nas primárias. Contudo, a futura eleição, independentemente do resultado,
poderá consolidar mudanças profundas na formulação social estadunidense, pois,
tem sido observado por analistas e disseminado na mídia que a diversidade
racial, étnica e sexual de candidatos em disputa aos cargos eleitorais não é um
fato episódico e veio para ficar.
A jornada da caravana de migrantes não acabou. O México recebeu na última terça-feira (dia 29 de janeiro) o primeiro centro-americano que pediu refúgio nos Estados Unidos e aguardará, ao sul da fronteira, até o…