A Federação Russa e a União Europeia (UE) desenvolveram relações bilaterais fortes até 2014. De acordo com folhas fatuais do Parlamento Europeu, o Kremlin e Bruxelas trabalharam juntos em áreas como comércio, energia, pesquisa, cultura,…
Navios de grande porte, sejam de
passageiros ou de carga, necessitam ter um número mundial de registro como
também um registro oficial de alguma nacionalidade. Entretanto, nem sempre as bandeiras que
sustentam na popa correspondem à nacionalidade ou residência de seus
proprietários (armadores).
Além do número mundial, para navegar em
águas internacionais, cada
barco precisa ser registrado em uma nação e recebe dela um número oficial –
official number – que pode ser modificado se o armador decidir trocar o
porto de registro. Seria natural supor que uma companhia marítima grega ou
norueguesa registre todos os seus navios em um porto da Grécia ou da Noruega.
Não é o que acontece na prática, e aí surge o conceito de Bandeira de
Conveniência (BdC) ou Flag of Convenience (FoC), em inglês.
Dentre as vantagens oferecidas
pelo país estão: processo fácil e automatizado que leva um máximo de 4
horas; isenção de imposto sobre receitas do transporte; tabela de descontos
progressiva; concessão de registro provisório antes do término da inspeção.
Incentivos dessa natureza fizeram com que, nos últimos 30 anos, a quantidade de
cargueiros australianos que desfraldam a bandeira da Austrália tenha
encolhido de 100 para apenas 14, por motivo de trocas por BdC.
Segundo
o Instituto Espanhol de Estudos Estratégicos (IEEE), do Ministério da Defesa da
Espanha, diversos armadores optam pelo “registro
aberto”, que é o nome oficial da categoria. A expressão “Bandeira de Conveniência”, ainda
conforme o IEEE, é um termo
utilizado pejorativamente pelos sindicatos para se referirem ao “registro aberto” de um grupo de países.
A ITF define e expõe uma “lista de BdC”
como forma de pressão e barganha por melhoria de direitos trabalhistas.
Estigmatizado, segundo biógrafos,
como detentor de um exacerbado conservadorismo contra a degeneração moral do Ocidente,
estruturando a defesa de um “caminho
russo” em face das supostas manobras hostis do exterior e defendendo a
afirmação de uma potência eurasiana como contrapeso à esfera atlântica, aceita-se,
no entanto, que Vladimir Vladimirovitch Putin, atual Presidente da Rússia,
desenhou por mais de duas décadas uma colcha de retalhos ideológica,
apresentando, de um lado, um toque de pragmatismo político onde a objetividade,
a praticidade e a sustentabilidade eram, na sua visão, a essência da bandeira
russa, ao mesmo tempo em que, do outro lado, defendia, com a mão pesada do
Estado, ações ideológicas antiocidentais, com o objetivo de estabilizar um país
seriamente afetado pela gigantesca crise econômica e social que a abalaram em
tempos recentes, tentando erradicar as feridas de um passado tenebroso,
paralelamente à tomada de ações que garantam a defesa da soberania do país.
Em 16 de fevereiro
(2020), após a assinatura de uma vasta reforma constitucional, a Federação
Russa se prepara para novos desígnios de governança que estão se alinhando no
cenário político do país. Putin, que desde 1999 vem exercendo na maior parte do
período o comando absoluto como Chefe de Estado, poderá, através de uma Emenda
Constitucional acrescentada à reforma proposta, estender seu papel como líder
da nação eslava por mais doze anos (até 2036), após o término do seu mandato
constitucional, que se encerrará em 2024.
Para esses críticos, os
principais perdedores deste jogo político serão os “liberais do sistema” que ainda esperavam uma mudança política
incremental de cima para baixo na Rússia, começando com um sistema político
mais competitivo em 2024. Agora, muitos desses “liberais do sistema” podem estar inclinados a acreditar que têm
mais em comum com a oposição do que com o Kremlin.
Tribunal Constitucional da Federação Russa
Considerada como uma
revolução legal, as reformas propostas também sugerem Emendas Constitucionais
para ampliar as garantias sociais, como a introdução da indexação anual das
pensões entre outros benefícios socioeconômicos. A mensagem para o eleitor
russo médio parece ser que uma ordem sociopolítica mais paternalista está a
caminho, principalmente em questões ideológicas que trouxeram Deus, as crianças
e a soberania à baila das discussões, que, segundo especialistas políticos, são
uma tentativa de transformar o Putinismo* em uma instituição estatal.
As declarações
constitucionais vêm na esteira de acontecimentos globais, tais como retirada da
Rússia de um acordo com a OPEP (Organização dos Países Exportadores de
Petróleo) para limitar a produção petrolífera, desencadeando uma queda
acentuada nos preços da commodity e,
crucialmente para a Rússia, na taxa de câmbio do rublo (moeda local), além do
enfrentamento nacional contra a pandemia do COVID-19. Esses dois eventos
poderiam abalar o status quo do atual
Governo, mas, segundo apoiadores de Putin, serão parte de um episódio que
fortalecerá o convencimento de que ele deve permanecer no comando para orientar
a Rússia ainda mais através da turbulência global.
———————————————————————————————–
Nota:
* Segundo estudos
políticos, é a ideologia, as prioridades e políticas do regime de governo
praticado pelo presidente Vladimir Putin. O termo é utilizado na imprensa
ocidental muitas vezes com uma conotação negativa para descrever o sistema
político da Rússia sob Vladimir Putin como Presidente (2000-2008) e (2012-atual),
e como Primeiro-Ministro (2008-2012), em que grande parte da política e poderes
financeiros são controlados por grupos de pessoas pertencentes ao círculo de
confiança de Putin.
De acordo com a nova avaliação da Organização Internacional do Trabalho (OIT), a crise econômica e laboral provocada pela pandemia de Coronavírus (COVID 19) pode aumentar o desemprego mundial em quase 25 milhões de pessoas….
O mês de maio de 2020 marca o processo de
fortalecimento dos vínculos continentais entre África e Europa. Anunciada pela Comissão
Europeia, em conjunto do Serviço Europeu para Ação Externa, a iniciativa
estratégica para o continente africano se desenvolve de forma paralela às principais
pautas contemporâneas. Em um quadro de cinco áreas prioritárias, encontram-se a
cooperação em matéria de Parceira para Transição Verde, Acesso à Energia e
Proteção Ambiental.
A Parceria Estratégica entre União
Europeia (UE) e África está embasada no respeito ao ordenamento internacional e
na valorização das relações desenvolvidas no âmbito dos foros multilaterais.
Para tanto, a União Africana e a Organização das Nações Unidas também
desempenham um papel relevante neste processo, sendo elencadas como parceiras
na implementação dos objetivos da Parceria.
De forma específica, cabe observar que o
pilar ambiental desta iniciativa está fundamentado na execução de projetos
voltados para a transição
energética do Estados parceiros, incentivando a produção de matrizes
energéticas limpas (hidroelétrica, geotérmica, eólica e fotovoltaica). Neste
contexto, pretende-se minimizar as ameaças ao ecossistema decorrentes da
utilização de matrizes fósseis de energia.
Energia eólica
Este processo, denominado Transição
Verde, se refere à adaptação socioeconômica dos Estados para apenas a
utilização de alternativas ambientais responsáveis e autossustentáveis. No caso
da UE, esta transição também tem sido desenvolvida internamente, e a
planificação deste objetivo se dá por meio do Plano
Europeu de Investimentos Sustentáveis, ou European Green Deal. A perspectiva do Bloco é atingir neutralidade
de impacto climático até o ano de 2050, fazendo uso de investimentos públicos e
privados como instrumentos desta transição. O Plano Europeu foi lançado ao
final de 2019 e compreende uma projeção de mobilização de cerca de 1 trilhão de
euros (aproximadamente 5,6 trilhões de reais, de acordo com a cotação de 16 de
março de 2020) para a sua realização intrabloco.
A Estratégia para a África também é
mencionada no Plano Europeu de Investimentos Sustentáveis, ressaltando a
postura adotada pela UE de utilizar-se da sua estrutura diplomática, em
conjunto com os aspectos financeiros, para promover mudanças significativas nos
países parceiros. Para além da transição energética, se pretende realizar com a
África uma iniciativa de monitoramento da biodiversidade, a elaboração de uma
rede de proteção do ecossistema e a integração da sociedade civil, denominada NaturAfrica.
Central Geotérmica
Faz-se relevante observar que o modelo
adotado com a atual Parceria Estratégica vem sido utilizada desde 2007, tendo
como ponto de partida a Conferência de Lisboa, que contou com a participação de
Chefes de Estado e Governo de ambos continentes. Igualmente, nos anos de 2014-2017
se estabeleceu o modelo de agenda composta com cinco áreas prioritárias de
cooperação. Contudo, as questões ambientais não estavam explicitamente
enfocadas como pode ser observada na versão desenvolvida em 2020. Para tanto,
os cinco tópicos eram, nominalmente: Paz e Segurança; Democracia, Boa
Governança e Direitos Humanos; Sustentabilidade, Desenvolvimento e Crescimento
Integrado Continental; Tópicos Globais Emergentes.
A inserção da pauta energética em uma
perspectiva ambientalmente sustentável para a África foi inserida nas dinâmicas
tendo em vista os desafios presentes no continente parceiro no campo dos
efeitos mudanças climáticas e a relação com a produção energética, segundo o Comunicado
do Concelho e do Parlamento Europeu. Ainda assim, as consequências
decorrentes das mudanças climáticas não foram dissociadas da preocupação com o
desenvolvimento, no campo da parceria UE e África. Para tanto, além da
Transição Verde e a ampliação da disponibilização de energia para as
populações, o estímulo para a construção de soluções ecológicas na agricultura,
processamento e distribuição de alimentos, transporte, pesca, em concordância
com os princípios do Acordo de Paris.
Acordo de Paris
Neste contexto, o Acordo
de Paris expressa o compromisso dos Estado frente a necessidade de garantir
o acesso à energia sustentável para as populações de Estados em desenvolvimento,
considerando as lacunas existentes entre o nível de desenvolvimento
socioeconômico e as capacidades de resposta às mudanças climáticas.
Complementarmente, a cooperação internacional, a níveis globais ou regionais,
se apresenta como uma alternativa para o aprimoramento das ferramentas de
intercâmbio de experiências exitosas e desafios.
Tal como aponta o Secretário-Geral das
Nações Unidas, António
Guterres, na Declaração da Organização Mundial Meteorológica sobre o estado
do clima global em 2019, o caminho para a atingir as metas do Acordo de Paris
dependem dos esforços políticos dos Estados signatários. Contudo, a temperatura
global registrada na última década foi a mais alta, desde 1850. Para atingir os
objetivos do Acordo, seria necessária a redução de 45% da emissão de poluentes
no período de 2010 até 2030. A execução da Parceria Estratégica UE-África se
apresenta como uma alternativa coerente com a agenda internacional, e ressalta
aspectos do incentivo às potencialidades do continente africano na exploração
de outras matrizes energéticas além dos hidrocarbonetos.
Com um registro oficial
de mais de 145 mil infectados
e 4.900
mortes relacionadas ao vírus ao redor do mundo, sendo 3.173
fatalidades apenas na China*, o novo Coronavírus
(Covid-19/Sars-Cov-2) foi declarado
pandemia pela Organização Mundial da Saúde (OMS) na terça-feira, 11
de março de 2020. Essa decisão possui firme respaldo na velocidade pela qual o
vírus se alastra, o fato de não estar, todavia, catalogado pela medicina e não
existir tratamento direcionado ao patógeno, apenas aos seus sintomas. Ao passo
que as nações adotam medidas de segurança para proteger as pessoas sob seu
jugo, a pátria-Mãe Rússia age com cautela e determinismo na luta contra o
Covid-19.
No maior país do mundo, os casos
reportados do novo Coronavírus são relativamente baixos, figurando 59
casos até 14 de março (2020) sem nenhuma fatalidade até então. Os impactos
da pandemia não se traduzem apenas em perdas humanas, mas, também, na economia
global e na diplomacia, que devem, idealmente, encontrar um ponto de
convergência entre as consequências da instabilidade monetária e da limitação
de mobilidade das pessoas, e a segurança nacional. Situações extremas requerem medidas
(ponderadamente) extremas, e desde o início de fevereiro o Kremlin restringiu
a entrada de cidadãos chineses em território nacional e cessou a atividade de
trens que conectam Moscou a Pequim. Em 20 de fevereiro (2020), a restrição
escalou para banimento, no mesmo dia em que o Ministro das Finanças, Anton
Siluanov, declarou
uma queda de US$ 15,68 milhões** por dia
(aproximadamente R$ 76.204.000,00) no comércio entre Rússia-China.
Tabela dos casos de Covid-19 na Rússia
No âmbito da prevenção e combate ao
Coronavírus no país, a Federação Russa vem tomando medidas como a checagem da
temperatura de passageiros em aviões e estações de metrô, o fechamento de
fronteiras com a China e instituição de patrulhas voluntárias de caráter
sanitário em regiões mais remotas do país. Contudo, a aplicabilidade destas
medidas está sendo questionada, uma vez que parecem direcionar-se a pessoas de
origem étnica chinesa. As patrulhas de Cossacos na cidade de Yekaterinburg
fornecem máscaras à população e apresentam conselhos médicos sobre como evitar
contrair o vírus. Mas, os conselhos vêm, por vezes, seguidos de comentários
peculiares, conforme reportado pela CBC
News: “Coloque isso antes de entrar (no mercado), pode haver
chineses ali” – diz
o patrulheiro Igor Gorbunov, denotando uma relação intrínseca entre o Covid-19
e os chineses enquanto povo.
Reunião do Presidente Russo com investidores – 11/03/2020
Após se indispor com o Riad por razões de
autopreservação, o Kremlin segue agindo seriamente no que tange à saúde da
população russa. Além das medidas acima citadas, o governo limitou a capacidade
de grandes reuniões para 5.000 pessoas em Moscou, recomendou aos residentes não
utilizarem o transporte público durante horários de pico e requereu às pessoas
retornando de zonas afetadas pelo Coronavírus que fiquem em quarentena por um
período mínimo de 14 dias. Os moscovitas que desrespeitarem a quarentena podem
ser presos por até cinco anos, e as autoridades contam com um sistema
de reconhecimento facial e CCTV para garantir que as ordens estão sendo
cumpridas e infratores da lei serão punidos. Como prova da efetividade do
sistema de vigilância russo, cerca de 100 estudantes chineses serão deportados
ao país de origem por violarem a quarentena, conforme reportado pelo Kommersant.
Além disso, de acordo com The
Daily Mail, autoridades da capital russa alocaram cerca de 92 milhões de
libras esterlinas*** (aprox. R$ 548.320.000,00) para a rápida construção de um
hospital em área remota, copiando movimentos da China na luta contra o
Coronavírus e o próprio Parlamento foi desinfetado, após um membro do Duma
deliberadamente quebrar a quarentena por “não compreender” os reais riscos da
doença. Ainda a Rússia suspendeu
a exportação de aparatos de prevenção epidemiológica como máscaras, luvas,
curativos e trajes completos de proteção.
Aos olhos externos, muitas das medidas
adotadas pela Rússia podem parecer drásticas. Alexander Saversky, um
especialista da Academia Russa de Ciências e presidente da Liga Patsientov dos
direitos dos pacientes considera que seu país está
fazendo bem em não “fomentar histeria”
e tomar ações mais do que demonstrar que as toma. A partir de ontem,
segunda-feira (16/03/2020), o
comparecimento na escola será facultativo, outra prova de que a Rússia está
agindo cautelosamente nas tentativas de conter o vírus, sem espalhar o pânico.
Apesar dos impactos negativos do
Coronavírus na esfera global, a Rússia possui relativamente poucos casos, e por
diversos motivos (dispersão demográfica, clima, entre outros). As respostas ágeis
à ameaça patogênica podem servir para projetar a imagem de Vladimir Putin como
responsável pelo baixo impacto do vírus na saúde pública russa, possivelmente auxiliando futuros projetos de sua carreira
política.
No início de janeiro, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky e sua família chegaram a Omã de férias, onde se hospedaram no Hotel Ritz-Carlton Al Bustan Palace, na costa do Golfo de Omã, perto da capital,…
Os
direitos, deveres e expectativas que a comunidade internacional imprimiu no TNP desde a primeira proposta de “restrição nuclear”, em 19 de setembro de 1958, até a abertura do
Tratado para assinatura em 1º de julho de 1968, estarão sujeitos à considerável
debate na Conferência de Revisão. Isso ocorre porque Washington e Moscou não
compartilham os mesmos interesses e fazem interpretações conflitantes da
história do Tratado, sejam sobre as reais intenções de seus muitos redatores,
ou sobre os significados originais que eles inseriram em seu Preâmbulo e demais
onze artigos.
Assembleia Geral na sede da ONU em Nova Iorque
Esta
divergência de interpretações já era visível em 26 de abril de 1968, quando 124
delegações se reuniram na 22ª Sessão da Assembleia Geral das Nações
Unidas para deliberar sobre um projeto de Tratado de Não Proliferação Nuclear.
Naquele dia, o Embaixador dos EUA, Arthur Goldberg, e seu colega soviético,
Vasili Kuznetsov, o caracterizaram em termos totalmente diferentes.
Goldberg
caracterizou o projeto de tratado como “uma criação de todas as nações, grandes e
pequenas”. Essa façanha exemplar da
diplomacia multilateral havia produzido um pacto que refletia, aos seus olhos,
três objetivos principais, os chamados “três
pilares”: diminuir as chances de armas nucleares caírem em mãos de novos
países, construir um regime global em que a Agência Internacional de Energia
Atômica (AIEA) promoveria acesso justo e equitativo “às bênçãos pacíficas da energia nuclear”, e a busca pelo
desarmamento geral e completo.
Esse
cisma entre a “grande barganha” dos
três pilares do TNP e a predominância da regulação da tecnologia nuclear de uso
dual ainda define o discurso
do Tratado mais de 50 anos depois. Estados
Unidos e Rússia enfatizam a não aquisição de armamento nuclear pelos signatários
do Documento, enquanto, por sua vez, os países não dotados de armas nucleares
enfatizam os “três pilares” do TNP,
incluindo também o desarmamento e o acesso à tecnologia nuclear para fins
pacíficos.
O TNP
pertence ao subconjunto de acordos internacionais que reformaram uma ordem
existente, neste caso a comunidade internacional pós-1945 que a Carta das
Nações Unidas constituiu. Aconteceu em um momento em que a comunidade
internacional estava em processo de descolonização na América Latina, África,
Ásia e Oriente Médio, e os países europeus e do leste asiático que haviam sido
destruídos durante a Segunda Guerra Mundial estavam passando por renascimentos
industriais às custas da proeminência industrial dos EUA.
Guerra do Vietnã – da esquerda para a direita e de cima para baixo: Ofensiva do Tet; Fuzileiros embarcam nos helicópteros Huey na frente de combate; Massacre de civis em My Lai; Soldados incendeiam vilarejo vietnamita
Contra
esse pano de fundo pós-colonial da aceleração da globalização, os Estados
Unidos e a União Soviética (e desde 1991 a Federação Russa) forjaram uma
relação de trabalho que se tornou o coração do sucesso do Tratado. A parceria
de não proliferação EUA-União Soviética alcançou plenitude num momento que
parecia ser desfavorável, que foi a entrada dos EUA na Guerra do Vietnã em
1965. Por que Moscou e Washington fizeram uma causa comum? Há mais de uma
resposta.
O
presidente Johnson parece ter achado a questão como sendo uma maneira de
mostrar suas credenciais
de paz, já que seus esforços militares
intensificados no sudeste da Ásia incitavam uma reação doméstica. O secretário
soviético Leonid Brezhnev acreditava que isolaria a República Popular da China
e abriria uma maneira de formalizar a posição soviética na Europa, acelerando
um tratado
de paz continental há muito adiado. No entanto,
o histórico de negociações no Comitê de Desarmamento das Dezoito Nações e no
Primeiro Comitê das Nações Unidas, os dois locais onde o Tratado foi elaborado
principalmente, revela um impulso mais profundo, que era a crença de que os
inimigos ideológicos precisavam restringir sua competição para que aliados e
neutros não se aproveitassem dessas divisões.
William Chapman Foster – 1º Diretor da Agência de Controle de Armas e Desarmamento
Uma
reunião entre o principal arquiteto americano do TNP, o diretor da Agência de
Controle de Armas e Desarmamento dos EUA, William Foster, e seu colega
soviético, Semyon Tsarapkin, foi exemplar. Em 11 de fevereiro de 1964, os dois
se sentaram para discutir por que um Tratado de Não-Proliferação promoveria
seus interesses mútuos. Como Tsarapkin
colocou, “todos
os outros países, incluindo França, China, Índia, estavam jogando os EUA e a
URSS um contra o outro e tentando obter vantagem das diferenças e contradições
entre eles; se EUA e URSS concordassem
um com o outro, todo mundo não teria escolha a não ser ficar na linha”.
Quando o Comitê de Desarmamento das dezoito nações finalizou um projeto de
tratado quatro anos depois, delegados dos blocos oriental, ocidental e não
alinhado brincavam que “a
única coisa” que os contingentes americanos e soviéticos “não
faziam era ficarem de mãos dadas”.
Mais
de meio século depois, o TNP conta 188 países entre seus Estados membros. O
Tratado de Mísseis Antibalísticos de 1972 não existe mais como restrição à
competição nuclear global, enquanto o Tratado SALT de 1972 foi substituído pelo
Tratado START em 1991 e, em seguida, pelo Novo Tratado START, em 2011, que, por
si só, pode estar em risco de entrar em colapso, em 2021. Embora a extensão
indefinida do TNP em 1995 tenha diminuído as apostas no processo da Conferência
de Revisão, a reunião quinquenal ainda é uma rara oportunidade de medir a
temperatura do Tratado, bem como o regime global do qual continua sendo a peça
central.
Imagem 3 “Guerra do Vietnã – da esquerda para a direita e de cima para baixo: Ofensiva do Tet; Fuzileiros embarcam nos helicópteros Huey na frente de combate; Massacre de civis em My Lai; Soldados incendeiam vilarejo vietnamita” (Fonte): https://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_do_Vietnã#/media/Ficheiro:VietnamMural.jpg
No último
dia 5 de março (2020), em meio a uma desaceleração de acusações diplomáticas, a
Rússia e a Turquia proclamaram um novo acordo de cessar-fogo para encerrar
semanas de combate em Idlib, província da Síria localizada na porção noroeste
do país e considerada o último enclave controlado pelos grupos rebeldes que
lutam contra o Governo de Bashar al-Assad. Este “apaziguamento” entre o Presidente russo, Vladimir Putin, e o seu homólogo
turco, Recep Tayyip Erdogan, colocou a saga sobre a questão das ações militares
na região perpetrada pelos dois países, momentaneamente em modo de espera.
Para se
entender esse desbalanceamento é preciso voltar alguns dias no tempo, quando as
relações russo-turcas testemunharam um teste de estresse e esforços de
diplomacia pessoal dos dois presidentes num nível sem precedentes.
Presidente russo Vladimir Putin (esq) e presidente turco Recep Tayyip Erdogan (dir)
Os mesmos
jatos atingiram o comboio turco em ação coordenada, forçando-o a parar e os soldados
a se abrigarem em vários edifícios à beira da estrada. O que se seguiu foi
provavelmente o lançamento de bombas KAB-1500L** pelos jatos russos. Dois dos
edifícios desabaram no ataque, deixando pelo menos 33 soldados turcos mortos
sob os escombros, o que ocasionou a pior perda sofrida num único ataque pelos
militares turcos desde 1993, quando tropas turcas sofreram severas baixas
devido a confrontos com guerrilheiros separatistas curdos. Em retaliação, as autoridades
turcas reagiram de forma imediata, lançando manobras ofensivas, por unidades de
apoio terrestre e aéreo turcos, a todos os alvos conhecidos pertencentes ao
Governo sírio.
Localização de Idlib no mapa da Síria
Um dia após
a ação militar, Moscou divulgou uma nota informando que não haveria indícios de
ataques realizados por aviões russos na área, e que a Rússia fez o seu melhor
para garantir que o Exército sírio cesse o fogo para permitir a evacuação das
tropas. No entanto, na mesma nota divulgada, o Kremlin acusa que os soldados
turcos não deveriam estar na área onde as operações de contraterrorismo estavam
em andamento, e Ancara não havia repassado informações sobre sua presença com
antecedência.
Apesar da negação do envolvimento russo e de um telefonema
subsequente entre os presidentes Erdogan e Putin para arrefecimento dos ânimos,
especialistas estratégicos divulgam que a escalada parece ser um movimento
russo deliberado e bem calculado e a atitude de Moscou dificilmente poderia ser
dada como um sinal de que está disposta a recuar de seus objetivos, tanto
políticos quanto militares na região.
A Turquia,
por sua vez, se vê embrenhada em uma guerra com forças sírias apoiadas pela
Rússia, onde Ancara apela aos aliados (EUA e Europa) por um apoio em um
conflito no qual corre o risco de minar os laços amigáveis que construiu com
Moscou. O pedido é uma mudança abrupta de rumo para Erdogan depois de anos de
desagravo aos parceiros americanos e europeus, e sublinha o quanto está em jogo
para a Turquia enquanto mergulha no conflito sírio do lado oposto à Rússia.
Embora a Turquia insista que evitará qualquer confronto com as forças russas, a
pressão sobre Erdogan para responder está aumentando, à medida que o número de
vítimas turcas aumenta.
Outro ponto
negativo contra a Turquia é o impacto de um êxodo em massa ao norte da Síria em
direção às suas fronteiras de um montante entre 1 a 2 milhões de refugiados de
Idlib. Embora a Turquia planeje abrigar os que fogem da região, a situação
ainda aumentaria o seu fardo que já conta com outros 3,6 milhões de refugiados
sírios, operação esta orquestrada juntamente com a União Europeia.
Bombardeio na Síria
De acordo
com analistas, o acerto de cessar-fogo está fadado ao fracasso, tendo como base
outros acordos malsucedidos (Sochi 2018), os quais não levaram em consideração
a abordagem de uma crise humanitária que envolve um deslocamento massivo de
refugiados e também a consideração da criação de uma zona de exclusão aérea
para impedir que jatos militares bombardeassem hospitais e escolas.
Os recentes
combates na Síria vêm se somar a uma numerosa lista de fatores negativos que
desencadearam o que a Organização das Nações Unidas (ONU) diz ser a pior crise
humanitária em uma guerra que afastou milhões de suas casas e matou centenas de
milhares.
———————————————————————————————–
Notas:
* O Exército Nacional Sírio, ou mais conhecido
como Exército Livre da Síria, é o principal grupo armado de oposição ao governo
de Bashar al-Assad. Apesar das informações do Exército Livre da Síria afirmar,
em 2013, que o número de homens que formavam o grupo militar chegava aos 140
mil guerrilheiros treinados e prontos para conflitos bélicos, o número
verdadeiro de combatentes do contingente é incerto. De acordo com alguns
ativistas, o ELS vem perdendo membros gradativamente. Em sua maioria, os
soldados descontentes desertam para a Jabhat al-Nusra, força militar síria
descrita como “o braço mais agressivo e de maior êxito da força rebelde”. Este
grupo é considerado mais violento do que o Exército Livre da Síria por
apresentar uma ideologia mais próxima dos fundamentalistas islâmicos.
** KAB (Korrektiruyeskaya Aviatsionnaya Bomba),
ou bomba aérea com correção de trajetória, são bombas guiadas russas usadas
como armas de “segunda onda de ataque”. A primeira onda de ataque é feita em
conjunto com aeronaves de supressão de defesa e apenas mísseis são usados. As
bombas guiadas têm a vantagem de poderem ser lançadas a maiores altitudes, após
as defesas serem suprimidas. A segunda onda é feita mais dentro do território
contra alvos vitais, como centros de comando, pontes etc..
Após a separação oficial do Reino Unido da União Europeia, celebrada por parte da população britânica e lamentada pela outra metade, além de diversos cidadãos do Bloco europeu que moram no Reino Unido e empresas…