Desde que a organização Mundial de Saúde (OMS) decretou estado de pandemia global, em 11 de março (2020), não só tiveram início os protocolos internacionais de segurança, como, também, o início de vários trabalhos de…
Com um registro oficial
de mais de 145 mil infectados
e 4.900
mortes relacionadas ao vírus ao redor do mundo, sendo 3.173
fatalidades apenas na China*, o novo Coronavírus
(Covid-19/Sars-Cov-2) foi declarado
pandemia pela Organização Mundial da Saúde (OMS) na terça-feira, 11
de março de 2020. Essa decisão possui firme respaldo na velocidade pela qual o
vírus se alastra, o fato de não estar, todavia, catalogado pela medicina e não
existir tratamento direcionado ao patógeno, apenas aos seus sintomas. Ao passo
que as nações adotam medidas de segurança para proteger as pessoas sob seu
jugo, a pátria-Mãe Rússia age com cautela e determinismo na luta contra o
Covid-19.
No maior país do mundo, os casos
reportados do novo Coronavírus são relativamente baixos, figurando 59
casos até 14 de março (2020) sem nenhuma fatalidade até então. Os impactos
da pandemia não se traduzem apenas em perdas humanas, mas, também, na economia
global e na diplomacia, que devem, idealmente, encontrar um ponto de
convergência entre as consequências da instabilidade monetária e da limitação
de mobilidade das pessoas, e a segurança nacional. Situações extremas requerem medidas
(ponderadamente) extremas, e desde o início de fevereiro o Kremlin restringiu
a entrada de cidadãos chineses em território nacional e cessou a atividade de
trens que conectam Moscou a Pequim. Em 20 de fevereiro (2020), a restrição
escalou para banimento, no mesmo dia em que o Ministro das Finanças, Anton
Siluanov, declarou
uma queda de US$ 15,68 milhões** por dia
(aproximadamente R$ 76.204.000,00) no comércio entre Rússia-China.
Tabela dos casos de Covid-19 na Rússia
No âmbito da prevenção e combate ao
Coronavírus no país, a Federação Russa vem tomando medidas como a checagem da
temperatura de passageiros em aviões e estações de metrô, o fechamento de
fronteiras com a China e instituição de patrulhas voluntárias de caráter
sanitário em regiões mais remotas do país. Contudo, a aplicabilidade destas
medidas está sendo questionada, uma vez que parecem direcionar-se a pessoas de
origem étnica chinesa. As patrulhas de Cossacos na cidade de Yekaterinburg
fornecem máscaras à população e apresentam conselhos médicos sobre como evitar
contrair o vírus. Mas, os conselhos vêm, por vezes, seguidos de comentários
peculiares, conforme reportado pela CBC
News: “Coloque isso antes de entrar (no mercado), pode haver
chineses ali” – diz
o patrulheiro Igor Gorbunov, denotando uma relação intrínseca entre o Covid-19
e os chineses enquanto povo.
Reunião do Presidente Russo com investidores – 11/03/2020
Após se indispor com o Riad por razões de
autopreservação, o Kremlin segue agindo seriamente no que tange à saúde da
população russa. Além das medidas acima citadas, o governo limitou a capacidade
de grandes reuniões para 5.000 pessoas em Moscou, recomendou aos residentes não
utilizarem o transporte público durante horários de pico e requereu às pessoas
retornando de zonas afetadas pelo Coronavírus que fiquem em quarentena por um
período mínimo de 14 dias. Os moscovitas que desrespeitarem a quarentena podem
ser presos por até cinco anos, e as autoridades contam com um sistema
de reconhecimento facial e CCTV para garantir que as ordens estão sendo
cumpridas e infratores da lei serão punidos. Como prova da efetividade do
sistema de vigilância russo, cerca de 100 estudantes chineses serão deportados
ao país de origem por violarem a quarentena, conforme reportado pelo Kommersant.
Além disso, de acordo com The
Daily Mail, autoridades da capital russa alocaram cerca de 92 milhões de
libras esterlinas*** (aprox. R$ 548.320.000,00) para a rápida construção de um
hospital em área remota, copiando movimentos da China na luta contra o
Coronavírus e o próprio Parlamento foi desinfetado, após um membro do Duma
deliberadamente quebrar a quarentena por “não compreender” os reais riscos da
doença. Ainda a Rússia suspendeu
a exportação de aparatos de prevenção epidemiológica como máscaras, luvas,
curativos e trajes completos de proteção.
Aos olhos externos, muitas das medidas
adotadas pela Rússia podem parecer drásticas. Alexander Saversky, um
especialista da Academia Russa de Ciências e presidente da Liga Patsientov dos
direitos dos pacientes considera que seu país está
fazendo bem em não “fomentar histeria”
e tomar ações mais do que demonstrar que as toma. A partir de ontem,
segunda-feira (16/03/2020), o
comparecimento na escola será facultativo, outra prova de que a Rússia está
agindo cautelosamente nas tentativas de conter o vírus, sem espalhar o pânico.
Apesar dos impactos negativos do
Coronavírus na esfera global, a Rússia possui relativamente poucos casos, e por
diversos motivos (dispersão demográfica, clima, entre outros). As respostas ágeis
à ameaça patogênica podem servir para projetar a imagem de Vladimir Putin como
responsável pelo baixo impacto do vírus na saúde pública russa, possivelmente auxiliando futuros projetos de sua carreira
política.
O coronavírus é uma família de vírus que
causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus (nCoV-2019) foi descoberto em
Wuhan, na China, em 31 de dezembro de 2019, pouco antes do feriado do Ano Novo
Lunar, o período da maior migração anual de seres humanos na Terra. O pico da
nova epidemia na China pode ocorrer neste mês (fevereiro de 2019) e acarretar
graves consequências
geopolíticas e geoeconômicas.
O surto de coronavírus coincidiu com uma desaceleração
econômica, já que a China enfrenta o aumento da dívida, queda da demanda
doméstica e as pesadas tarifas dos Estados Unidos. A taxa de crescimento do
Produto Interno Bruto de 6,1% em 2019 aproximou-se do limite da meta de Pequim
e caiu acentuadamente em relação aos 6,6% de 2018. Em 15 de janeiro de 2020,
chineses e americanos assinaram
um acordo comercial provisório, os primeiros passos para o fim da guerra
comercial Estados Unidos-China. Mas a celebração durou pouco, pois poucos dias
depois a gravidade do coronavírus começou a ficar clara.
A primeira consequência deriva do fato de
Wuhan, capital da província de Hubei, localizar-se no centro do coração
industrial chinês. Esta cidade encontra-se bem no meio do “Quadrilátero Industrial” do país, a área delimitada por
Pequim/Tianjin, Chengdu/Chongqing, Macau/Hong Kong e Xangai. A província de
Hubei abriga sete
zonas econômicas cruciais: a Zona de Desenvolvimento de Alta Tecnologia do
Lago Leste de Wuhan (o maior centro de produção de produtos óptico-eletrônicos
da China); a Zona de Desenvolvimento Industrial de Alta Tecnologia de
Xiangyang; a Zona de Desenvolvimento Industrial de Alta Tecnologia de Yichang;
a Zona de Desenvolvimento Industrial de Alta Tecnologia de Xiaogan; a Zona de
Desenvolvimento de Nova e Alta Tecnologia de Jingmen; a Zona de Desenvolvimento de Alta Tecnologia
de Xiantao; e o Parque Industrial de Alta Tecnologia de Suizhou. Wuhan também
possui o maior porto fluvial da China e o maior aeroporto da China Central.
Enquanto na economia nacional chinesa houve
uma desaceleração do crescimento em 2019, Wuhan teve um crescimento que atingiu
o patamar de 7,8%. De acordo
com o governo da Província de Hubei: “Estima-se
que o valor agregado dos setores de alta tecnologia e economia digital
represente 24,5% e 40% do PIB [Wuhan]”. As perspectivas de Wuhan
pareciam brilhantes para 2020. O governo de Hubei também declarou:
“Mais de 300 das 500 maiores
empresas do mundo se estabeleceram em Wuhan. O número de empresas de alta
tecnologia recém-instaladas atingiu um recorde, com um aumento líquido de cerca
de 900 empresas”. O relatório de trabalho do governo, apresentado no
14º Congresso Popular Municipal de Wuhan, estimava
que o PIB de Wuhan cresceria entre 7,5% e 7,8% em 2020, e haveria a geração de
220.000 novos empregos.
Se o surto se expandir, poderá
interromper o tecido da economia global. Pequim já demonstrou que é capaz
de mobilizar milhões de pessoas com o objetivo de conter o vírus e,
simultaneamente, isolar milhões de seus cidadãos. A província de Hubei, com uma
população de 58 milhões de pessoas, foi praticamente isolada
de todo o país.
Segundo, o surto de coronavírus coloca em
risco o crescimento do PIB chinês e, como consequência, a economia
internacional como um todo. A Unidade de Inteligência da Revista TheEconomist
(EIU, em inglês), de Londres, estima
que o novo surto de coronavírus na China pode reduzir o crescimento real do PIB
em 2020 entre 0,5 e 1 ponto percentual. As primeiras vítimas econômicas foram
transportadoras aéreas e empresas de viagens; as indústrias de viagens e
turismo serão duramente atingidas. A taxa de crescimento projetada
pela EIU para a China foi de 5,9% e, se a epidemia atingir o status de Síndrome
Respiratória Aguda Grave (SARS, em inglês), que atingiu o mundo nos anos de
2002 e 2003, o PIB chinês poderá cair para 4,9%. O coronavírus já infectou mais
pessoas do que o SARS, mas o último foi mais
letal: o SARS, em 2003, matou 9,6% dos portadores do vírus, enquanto o
surto atual tem uma taxa de mortalidade de 2% dos infectados. Note-se que em
2003 o PIB chinês era de 1,66 trilhão de dólares (aproximadamente 7,13 trilhões
de reais, de acordo com a cotação de 14 de fevereiro de 2019) contra 14,3
trilhões de dólares em 2019 (aproximadamente 61,42 trilhões de reais ainda de
acordo com a cotação de 14 de fevereiro de 2019). Em 2003, a economia chinesa era a sétima
maior; agora é a segunda maior economia do mundo. O papel da China no
mercado global é indispensável.
O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, encontra o Presidente da China, Xi Jinping (2017). O surto de coronavírus poderá enfraquecer a China na guerra comercial com os Estados Unidos
Terceiro, o coronavírus está se
espalhando em meio à guerra comercial com Washington e à desaceleração geral da
economia chinesa. Para enfrentar esse grande desafio, os chineses precisam
mobilizar os recursos de toda a nação e seus 1,4 bilhão de habitantes. No
entanto, esses recursos agora devem
ser desviados para combater uma epidemia, que pode eventualmente forçar a sua
economia a “hibernar” e até mesmo
exigir uma retirada
temporária da política mundial. Além disso, os Estados Unidos têm sido um dos
grandes beneficiários do surto, apesar dos riscos que ele impõe à saúde
pública. A desaceleração econômica chinesa continuará
e, temporariamente, o equilíbrio de poder pode mudar em favor dos Estados
Unidos. O Secretário de Comércio estadunidense, Wilbur Ross, chegou a afirmar:
“Acho que isso ajudará a acelerar o
retorno de empregos para a América do Norte”.
Atualmente, grupos de
países soberanos lutam por políticas externas independentes, o que muitas vezes
contradiz a visão dos Estados Unidos. Em particular, Irã, China, Rússia e agora
a Turquia acreditam
que, quando se unirem em um “grupo”,
todos os membros serão capazes de resistir aos americanos e ao Ocidente em
geral. Mas, se um país for expulso, especialmente do arranjo tripartite China-Rússia-Irã,
o equilíbrio global de poder tenderá
a favor do Ocidente. Assim, o recuo da China do cenário internacional seria
um
pesadelo para a Rússia e o Irã, especialmente.
Por fim, o resto do
mundo está respondendo com uma onda crescente de segregação contra os chineses
e, de fato, contra todos os povos do Leste da Ásia, porque muitas pessoas ao
redor do mundo geralmente não fazem distinção entre as nações asiáticas. Na
mídia, existem
inúmeros relatos sobre a reação racista e o estigma contra a diáspora chinesa
em países como os Estados Unidos, o Canadá e o Reino Unido. Em particular,
cidadãos franceses de ascendência asiática se queixam de abusos no transporte
público, na mídia e na internet. Isso inspirou o uso da hashtag “JeNeSuisPasUnVirus”
(“Eu não sou um vírus”). Se o
coronavírus não for interrompido em um futuro próximo, é alta a probabilidade
de testemunharmos mais xenofobia e racismo em relação ao povo chinês, que, por
sua vez, poderá inflamar o nacionalismo e o ressentimento na China.
Após a construção de
diversas cadeias internacionais de valor em torno do gigante asiático durante
quatro décadas, a desaceleração da segunda maior economia do mundo não deixará
ninguém intocado. Mesmo que o coronavírus seja bloqueado com sucesso no resto
do mundo, a economia global vai sofrer com a economia da China.
O blockchain foi originalmente concebido para a moeda digital Bitcoin, possibilitando registrar todas as transações envolvendo bitcoins em uma espécie de livro-razão eletrônico imutável e criptografado. Por fornecer registros transparentes e instantâneos de transações, a…