No último dia 2 de dezembro (2019), um dos mais ambiciosos projetos na área energética, que a Federação Russa vinha estruturando através de sua empresa estatal Gazprom, tomou corpo com a entrega do gasoduto “Poder…
O
Secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, e o Secretário de Defesa, Mark
Esper, alertaram o Ministro da Defesa egípcio, Mohamed Ahmed Zaki Mohamed,
sobre a possível resposta dos Estados Unidos. A ação norte-americana estaria
amparada na Countering America’s Adversaries Through Sanctions Act (CAATSA)
(Lei de Combate aos Adversários da América por Sanções). Aprovada no dia 27 de
julho de 2017, impôs sanções ao Irã, Coréia do Norte e Rússia. Dessa forma, os
países que realizam transações com esses Estados podem receber sanções
secundárias. No caso russo, relaciona-se aos setores de Defesa e Inteligência e
teve sua justificativa pela sua contínua participação nos conflitos com a
Ucrânia e Síria, e acusações de interferência na eleição de 2016.
Nos
últimos anos também ocorreu interrupção da assistência militar ao Egito pelas
preocupações dos EUA sobre violações de direitos humanos no país. Assim, há uma
maior aproximação entre Egito e Rússia. Em 2017 foi autorizada a utilização de
bases aéreas por aeronaves militares russas e, no decorrer
dos dias 1 a 8 de novembro, ocorreu exercício militar entre os países.
O Ministro da Defesa da Federação Russa, Sergei Shoigu, em visita a Cairo, no
dia 12 de novembro, para a sexta sessão da Comissão de Cooperação em Defesa, concentrou-se
em debates sobre segurança regional e maior cooperação em Defesa.
Também comentou sobre a disposição para auxiliar no fortalecimento das Forças
Armadas egípcias, assim como em sua capacidade defensiva.
*
A Turquia realizou a compra do sistema de
mísseis de defesa anti-aérea S-400 da Rússia no início do ano (2019), levando a
uma resposta dos EUA. O presidente norte-americano Donald Trump parou de impor
sanções à Turquia, mas declarou ao presidente turco Recep Tayyip Erdogan que,
para manter a relação entre os países, seria necessário que o sistema fosse
destruído, compartimentado ou devolvido a Rússia.
Com o ardiloso uso das redes sociais para espalhar fakenews, a desinformação tornou-se uma ferramenta poderosa de controle das massas. A velocidade e a quantidade de dados que trafegam diariamente em nossas páginas iniciais não permitem um escrutínio necessário. Por vezes, o receptor crê em títulos bem elaborados ou textos passionais, sem analisar o conteúdo. Rússia e China se beneficiam desta estratégia.
Especialistas na área de fakenews e desinformação comparam a abordagem chinesa com a abordagem russa em trabalhar informações jornalísticas, e concluem que são diferentes em estilo e técnica, em parte pelas perspectivas e objetivos divergentes dos países. Enquanto a China “é mais sobre autodefesa, a Rússia é mais sobre ativamente sair a campo, mirando em eventos estrangeiros”, diz o professor Haifeng Huang, do campus Merced da Universidade da Califórnia. Nesse sentido, para ele, na guerra da desinformação a China “se comporta melhor” aos olhos do mundo.
Russia Operação INFEKTION de desinformação
A Rússia conta com uma agência de propaganda chamada Agência de Pesquisa da Internet (Internet Research Agency), sobre a qual há acusações de ser responsável por travar uma guerra de memes* para dividir os Estados Unidos. Isso demonstra um alto nível de conhecimento de causa e, pode-se concluir, se as acusações forem corretas, que os russos se preparam com “meses e meses de antecedência” para criar o paradigma perfeito para espalhar as notícias que querem que o mundo saiba, e, de pronto, a própria influência.
Pelo que tem sido disseminado e apontado por analistas, as informações e (des)informações da Federação Russa são mais críveis que o conteúdo forçado desenvolvido pela China. O Kremlin tem mais habilidade em se infiltrar onde lhe aprouver. Ressalte-se que os escopos são diferentes e não parece que isso mudará tão cedo. Enquanto Beijing olha para dentro, Moscou concentra-se para fora, especialmente agora com a nova Lei da Internet Soberana, que lhe dá a segurança interna de que necessita.
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Nota:
* Meme: imagem, conceito ou frase que se espalha rapidamente no meio virtual, com o objetivo de causar impacto, normalmente de maneira humorada.
Considerada uma gigante global do ramo das telecomunicações e pioneira na criação da tecnologia 5G*, a empresa chinesa Huawei (traduzido do mandarim: flor), desde 2012 vem sendo acusada pelo Governo norte-americano de ser uma “ferramenta”…
A função básica das instituições
militares de qualquer Estado é proteger a integridade territorial e
proporcionar a garantia da soberania dos países. O treinamento das Forças
Armadas envolve atividades de defesa e de ataque com o objetivo de proteção e
resguardo dos interesses do Estado. Na atualidade, a maioria dos países não
participa de guerra declarada contra terceiros, todavia, apesar de esta ser uma
opção, o mundo de hoje apresenta ameaças diferentes e insere na realidade
desafios em relação ao uso militar em situações específicas.
O combate a incidências criminosas e
contrárias ao Direito Internacional, tais como aquelas relacionadas ao terrorismo,
por exemplo, constitui-se na preparação de equipes capazes de corresponderem à
altura. Diante de ações diversas e de caráter transnacional, a Federação Russa
resolveu fazer modificações no treinamento de seu Corpo de Fuzileiros Navais. A
Ideia é adaptar os militares para enfrentarem ambientes para além do uso do
rifle de assalto Kalashnikov.
O treinamento dos fuzileiros navais
russos ou “boinas negras” consiste na
proteção da costa do Estado eslavo e na condução de operações locais de
desembarque, todavia, a partir de agora eles também estão sob à preparação para
atuarem como forças expedicionárias em qualquer lugar do mundo. A ênfase recai
não mais em hostilidades contra um Exército regular, mas no exercício de papéis
de abrangência político-militar. Ou seja, o uso dos “boinas negras” também está atrelado nas missões de paz, na
evacuação de cidadãos russos, e em ações de interesse da Federação Russa em
conflitos locais.
Militar Russo – trabalho retirado do site do Ministério da Defesa da Federação Russa, conforme especificação obrigatória de licenciamento para uso
O jornal Izvestia trouxe a afirmação do
professor associado Alexander Perendzhiev, da Universidade Econômica Russa de
Plekhanov, o qual declarou sobre o assunto que “a
tarefa do fuzileiro naval é desembarcar do navio. E essa costa pode ser
estranha”.O objetivo é
ilustrar que o “boina negra” deve
aprender a se comportar e interagir com a população local. Em outras palavras,
o fuzileiro naval russo precisa ser um pequeno diplomata e falar a linguagem
local para alcançar seu objetivo e não apenas a linguagem do rifle.
Os analistas entendem a mudança no
treinamento militar dos “boinas negras”
como um fator positivo para o uso em missões internacionais. É preciso
sensibilidade e compreensão da cultura político-cultural-religiosa local para
obter a melhor solução possível sem o uso da força. Todavia, salientam que o
uso do poder suave (soft power)*
representa uma forma de conquista de uma determinada comunidade por meio da
simpatia e identificação de valores. Essa abordagem possui múltiplos meios de
uso e pode ser vista como benéfica, diante do combate a uma ameaça em comum, ou
mesmo maléfica perante um olhar mais nacionalista
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Nota:
* Poder
suave: o poder suave, poder brando, ou no original em inglês, soft power, é uma expressão da
disciplina de Relações Internacionais criada pelo teórico Joseph Nye na década
de 1980. O termo descreve a habilidade de um Estado para influenciar
indiretamente o comportamento de outros atores políticos mediante meios
culturais ou ideológicos.
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Fontes das
Imagens:
Imagem 1 “Corpo de Fuzileiros Navais Russos da Frota do Pacífico – trabalho retirado do site do Ministério da Defesa da Federação Russa” (Fonte): http://mil.ru/et/news/[email protected]
Há três décadas, a antiga União das
Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) entraria num processo de seletividade
geopolítica, culminando com um afastamento de seus antigos aliados africanos no
governo de Mikhail Gorbatchev (último líder soviético entre 1985 e 1991). Os principais motivos seriam a má
administração local, a corrupção e os deslocamentos pela ruptura repentina de
relações econômicas com os antigos poderes coloniais, produzindo, na maioria
desses países, fracassos econômicos de ampla escala.
Reunião de Cúpula Rússia-África em Sochi – Outubro 2019
Em 23 de outubro (2019) foi inaugurada,
na cidade russa de Sochi, a primeira reunião de cúpula Rússia-África, que
arregimentou 43 governantes africanos, além de 3 mil participantes, onde foram
tratados assuntos como a duplicação do comércio, em 5 anos, entre África e a
Federação Russa, além do perdão de dívidas de países africanos com a União
Soviética, em torno de US$ 20 bilhões (aproximadamente R$ 80,16 bilhões*).
Enquanto isso, em Pretória, capital da
África do Sul, dois bombardeiros nucleares russos Tu-160 (denominação OTAN:
Blackjack), aterrissavam na base da Força Aérea de Waterkloof, em uma “rara” demonstração de cooperação militar
entre as duas nações.
Bombardeiro Tupolev Tu-160
Considerado o maior e
mais pesado bombardeiro estratégico do mundo e, segundo analistas militares, a
maior plataforma avançada de dissuasão nuclear do planeta, a aeronave tem
capacidade de se deslocar entre continentes com velocidade supersônica,
carregando em suas baias até 40 toneladas de armamentos que podem variar entre
mísseis de cruzeiro, bombas de gravidade nuclear
e mísseis hipersônicos de longo alcance. Esses bombardeiros já tiveram
participação em eventos recentes, tais como a inserção militar na guerra da
Síria e a visita à Venezuela, em intercâmbio de voos
operativos para elevar o nível de operações dos sistemas de defesa aeroespacial.
Além dos bombardeiros
Tu-160, o grupo aéreo da Força Aeroespacial Russa que atualmente permanece na
África do Sul também inclui aeronaves de transporte militar Ilyushin Il-62
(denominação OTAN: Classic) e Antonov An-124 Ruslan (denominação OTAN: Condor).
Os militares russos e especialistas que chegaram ao país participarão de um
Workshop que será organizado pelo Ministério da Defesa da África do Sul. O
Workshop discutirá as questões de realização de operações de combate,
efetivação de medidas de busca e resgate.
Segundo analistas
internacionais, a Rússia entra numa corrida geopolítica contra a China e os EUA
para estabelecer laços sólidos com a África em questões comerciais, políticas e
militares. O continente, que abriga em torno de 1,5 bilhão de habitantes,
possui algumas das economias que mais crescem no mundo.
Uma nova fase da guerra deflagrada em território sírio se desenvolveu a partir do último dia 6 de outubro (2019), quando o Presidente norte-americano, Donald Trump, declarou a retirada de tropas militares estadunidenses do noroeste…
Entre os dias 2 e 5 de outubro de 2019, o
Presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, esteve na Rússia, como convidado de
honra para participar do Clube de Discussão Valdai, fórum global no qual o
Presidente da Rússia, Vladimir Putin, expressa
suas ideias relativas à política externa. Duterte também foi levado em um tour
pelo Kremlin e recebeu um título honorário. Os Mandatários filipino e russo concordaram
em fortalecer os laços de defesa e comércio, e Duterte pediu
para as empresas russas investirem em ferrovias e infraestrutura de transporte
nas Filipinas como parte do seu programa “Construir,
Construir, Construir”, que visa incentivar o crescimento do país, informa
o jornal South China Morning Post.
A viagem de Duterte foi apenas uma das
várias visitas de Chefes de Estado de países do Sudeste Asiático à Rússia, que
ocorrem em meio aos esforços de Moscou em fortalecer os laços com a região.
Desde o ano 2000, a Rússia tem procurado se engajar
com a região de forma bilateral e por meio de diversos fóruns, como a
Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) e a Organização para
Cooperação de Xangai (SCO).
Contudo, a visita de Putin à Cingapura em
novembro de 2018 indicou que Moscou passou a se focar na região. Na ocasião,
Putin participou
pela primeira vez da Cúpula do Leste da Ásia (EAS), encontro anual que reúne os
líderes dos países da ASEAN e de oito Estados parceiros. Após o evento, a ASEAN
assinou um memorando para aumentar o comércio com o corpo executivo da União
Econômica Eurasiática, que é capitaneada pela Rússia.
Mapa dos países do Sudeste Asiático
Em maio de 2019, o Primeiro-Ministro
vietnamita, Nguyen Xuan Phuc, visitou
Moscou para celebrar os 70 anos de laços diplomáticos entre a Rússia e o
Vietnã, e, em setembro de 2019, o Primeiro-Ministro da Malásia, Mahathir
Mohamad, viajou
à Vladivostok para participar do Fórum Econômico do Oriente, uma plataforma
anual que o Governo russo utiliza para atrair investimentos para as suas
províncias na Ásia e no Ártico. Em outubro de 2019, o governo de Cingapura assinou
um Tratado de Livre-Comércio com a União Econômica Eurasiática.
Analistas dizem que os esforços da Rússia para construir vínculos em toda a região fazem parte de sua política de diversificação, pois aumenta o comércio e fortalece sua economia, que é a 12ª maior do mundo, alcançando a marca de 1,6 trilhão de dólares (pouco mais de 6,57 trilhões de reais, de acordo com a cotação de 11 de outubro de 2019), de acordo com o Fundo Monetário Internacional. A pesquisadora Sharana Rajiv, da Carnegie India, de Nova Délhi, destaca: “O foco da Rússia no Leste marca uma mudança do foco no lado europeu das fronteiras da Rússia. Moscou reconhece que não pode ter um interior pouco desenvolvido na fronteira com a Ásia”. A estratégia de engajamento russo na região inspirou-se no modelo chinês, que opta por uma posição de não-interferência nos assuntos domésticos das nações parceiras e que visa a promoção de comércio, investimento e venda de armamentos e recursos energéticos sem a imposição de uma ideologia.
Contudo, a China ainda possui uma
influência maior no Sudeste Asiático, exatamente pelo fato de a região se
encontrar no seu entorno estratégico. Moscou ainda não é capaz de substituir e
nem de concorrer com Pequim no que concerne ao fornecimento
de uma ampla variedade de bens, serviços e tecnologia às nações da região. Além
disso, a China exerce grande pressão no campo da segurança regional, devido aos
seus esforços no processo de militarização
do Mar do Sul da China, o que acaba causando litígios territoriais com os
estados da ASEAN. Segundo
o pesquisador da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, Dmitry Gorenburg,
“existe um grande ceticismo entre
os países do Sudeste Asiático acerca da capacidade da Rússia defender seus
interesses frente à China, o que faz com que eles evitem uma aproximação
demasiadamente forte de Moscou em assuntos de defesa”.
No dia 19 de agosto (2019), o Presidente
da Rússia, Vladimir Putin, desembarcou em Fort de Brégançon, na Riviera
Francesa, onde encontrou-se com o Presidente da França, Emmanuel Macron, em sua
residência de verão. A reunião entre os dois líderes ocorreu às vésperas da
Cúpula anual do G7, a qual, este ano (2019), ocorrerá também no sul da França.
Em 2014, após a reincorporação da Crimeia, a Rússia foi suspensa do grupo, que
antes era chamado de G8. Observadores internacionais destacaram que o gesto
francês de recepcionar os russos nesta semana é bastante significativo para as
relações exteriores do país europeu, colocando-o numa posição de liderança no
apaziguamento das relações entre o Ocidente e a Rússia.
A Conversa entre Macron e Putin era
bastante antecipada pela mídia por conta de a pauta de discussão envolver não
apenas questões bilaterais, como também assuntos de interesse internacional,
que outrora seriam discutidos num ambiente de negociação multilateral. Assim, a
situação na Ucrânia, na Síria e questões internas da Rússia foram abordadas no
diálogo entre os líderes.
O Presidente da Rússia, Vladimir Putin, o Presidente da França, Emmanuel Macron e a Primeira-Dama da França, Brigitte Macron em Fort de Brégançon, na França
Em relação à Ucrânia, Moscou e Paris
concordaram em retomar as negociações sobre a crise no país que envolve
movimentos separatistas e a reincorporação da Crimeia à Rússia. Para tanto, ambos
os lados consentiram que o Formato de Normandia seja revisitado, o qual envolve
Alemanha, França, Rússia e Ucrânia nas discussões de um possível Acordo.
Há ainda questões a serem convergidas
entre os dois países. Em muitos aspectos, Rússia e França se distanciam em sua política
externa e até interna. Entretanto, como tem sido apontado por especialistas, é
importante que o diálogo entre os dois permaneça. Da mesma forma, aponta-se ser
relevante, também, que a França esteja tomando partido em se aproximar mais do
Governo russo em um período marcado por conturbações entre o Ocidente e a
Rússia. Observa-se que a disposição para a realização de encontros bilaterais
já destaca um avanço na relação diplomática não só entre os dois países, como
entre a Europa e a Federação Russa.
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Notas:
* A
Província de Idlib, na Síria, é uma região situada no noroeste do país e um dos
últimos redutos dos rebeldes que lutam pela saída do Presidente sírio, Bashar
al-Assad, do poder.
No dia 8 de agosto (2019), ocorreu uma explosão em uma base militar na Rússia em Nyonoksa, localizada ao norte do país, no Mar Branco. A companhia nuclear estatal russa, Rosatom, logo emitiu um comunicado…