A presença do presidente francês, Nicolas Sarkozy, como convidado de honra nas comemorações do dia “7 de Setembro” (Dia da Independência do Brasil), traz a sensação de que o vitorioso do Projeto Fx-2 (Projeto para a aquisição de 36 caças para a Força Aérea Brasileira) será a aeronave francesa Rafale.
Recentemente, o CEIRI apresentou reflexão sobre uma entrevista dada pelo ministro da Defesa do Brasil, Nelson Jobim, na qual, praticamente, foi excluído da concorrência o candidato norte-americano (F/A18 Super Hornet), devido ao fato de nunca os americanos transferirem tecnologia nas vendas de armamentos.
O ministro contou que, quando conversou com o negociador norte-americano, mesmo com a promessa de que os EUA assinariam a transferência (fato que está em vias de ser votado pelo Congresso estadunidense) ele apresentou para o negociador vários documentos que demonstravam a quebra de promessa e de contrato, por parte dos EUA, o que não lhes dava credibilidade acerca do que estava sendo afirmado. Na mesma entrevista, o ministro fez críticas técnicas ao Rafale, concorrente francês, deixando indícios de que o melhor equipamento era o concorrente sueco da SAAB, o Gripen.
O anúncio feito ontem, dia 3 de setembro, pelo presidente do Brasil, Luis Inácio Lula da Silva, de que a França é “o único país importante que está disposto a discutir conosco a transferência de tecnologia”, agregada à presença de Sarkozy nas comemorações do Dia da Independência, leva a crer que será anunciado o Rafale como o vencedor.
A questão precisa ser vista com cautela. Não é possível conceber que o um Chefe de Estado da dimensão do francês será submetido a constrangimentos e exposto numa data da importância do “7 de Setembro”. Os acordos entre o Brasil e França na área militar já estão avançados, com a vitória do Scorpene no projeto da Marinha brasileira para a construção em parceria de quatro submarinos convencionais de ataque e outro nuclear. Além disso, houve a aquisição de cinqüenta helicópteros de transporte franceses, dando vulto significativo ao comércio de material de defesa entre os dois países.
São elementos suficientes para homenagear o presidente Sarkozy, ou, no mínimo, não constrangê-lo perante a sociedade internacional. Mas, a questão fica problemática, diante do silêncio em relação ao Gripen, da sueca SAAB, e do fato de não serem feitas declarações completas sobre os países que têm aceitado fazer transferência tecnológica. Ao que consta, a Suécia se dispôs a autorizar a transferência total de tecnologia e, inclusive, a SAAB apresentou a proposta de transferir a fábrica de produção da aeronave para o Brasil, com o intuito de entrar com os brasileiros no mercado sul-americano e mundial. Ou seja, a França não é o único país “importante” a discutir a transferência tecnológica total, aceitando-se a importância da Suécia no cenário da Guerra Fria (período que se estende de 1945, arigor 1947, até 1989), a tradição de meio século na fabricação de armamentos e o fato de os suecos estarem entre os vinte países do mundo melhor classificados pelo IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), classificação em que a Suécia é sétima (7a), a França a décima primeira (11a), e o Brasil o septuagésimo (70o)
Tecnicamente, em termos de parceria militar e deixando de lado a tecnologia do armamento, não parece conveniente a parceria exclusiva com um único país, para a aquisição, fabricação e desenvolvimento de armamentos de duas das três Forças Armadas Brasileiras.
Independente disso, as declarações, tanto de militares quanto de especialistas têm sido convergentes em alguns pontos: primeiro, os equipamentos concorrentes são de alto nível, com diferenças e vantagens específicas para um e outro; segundo, que todos desejam que isso se encerre logo, pois o Brasil já está algumas gerações atrasado e não pode mais esperar para dar uma configuração adequada a Defesa do país e, desde que seja garantida a transferência tecnológica e respeitado o acordo estabelecido, aquele que vencer será interpretado como o melhor.