Na Líbia, quem saiu de casa para as eleições da última quarta-feira, 25 de junho, encontrou locais de votação silenciosos, sem fila e alguns fechados. Homens armados apreenderam urnas na cidade de Al Jemil e, por questões de segurança, as eleições não foram mantidas em Derna, ao leste, e na região de Kufra, ao sul do país.
No resto da Líbia, o comparecimento foi longe da festa e das longas filas de 2012, quando 2,7 milhões de pessoas se registraram para votar nas primeiras eleições democráticas da sua história. Este ano, dos 3,5 milhões de cidadãos habilitados a votar, apenas 1,5 se registraram e menos da metade realmente compareceu ao pleito[1].
Essa é a terceira vez que o povo líbio é chamado às urnas desde que o ditador Muammar al-Gaddafifoi retirado do poder e morto, em 2011. Desta vez, o voto era para eleger 200 nomes entre os 1628 candidatos para o novo Parlamento, que substituirá o Conselho Nacional de Transição (CNT), enfraquecido por sua aparente ineficiência em resolver o caos reinante no país[2].
Após a revolução de 2011, grupos islamistas armados, liberais e chefes locais lutam pelo poder em um país fortemente dividido e com grande tradição tribal, especialmente ao sul. O Conselho Nacional de Transição, até o momento, foi incapaz de reunir todos os grupos sob seu guarda-chuva e domar as milícias que provocam a violência e a instabilidade política e econômica na Líbia.
Para desestigmatizar tal Governo, dito ineficiente, duas medidas foram adotadas: foi proibida a filiação partidária dos candidatos e a sede do Parlamento foi transferida para Bengasi, segunda maior cidade do país. A decisão foi tomada para tentar reforçar a autoridade estatal na região, já que esta se tornou o santuário de milícias fortemente armadas após a queda de Gaddafi, estimulando uma onda de violência sem precedentes. Sem contar que não podiam mais ser ignoradas a insatisfação do povo local com o Governo central e a crescente dissidência, a mesma que deu origem à revolução de 2011. Ressalte-se ainda que a região foi literalmente ignorada durante anos pelo governo Gaddafi[3].
No entanto, a segurança em Bengasi está pior desde que, há um mês, o general Khalifa Haftar lançou uma campanha contra militantes islamistas, ditos terroristas, que recebeu apoio de partes do Exército e das Forças Armadas, transformando partes da cidade em um verdadeiro campo de batalha[4].
As notícias de ataques e explosões provocadas por militantes são constantes na região. Na quarta-feira, por exemplo, sete soldados que estavam se deslocando para fazer a segurança de urnas em Bengasi foram mortos em um ataque realizado por um grupo armado islâmico e 53 soldados do comboio ainda foram feridos[5].
Outra vítima da violência e do extremismo político foi Salwa Bughaighis, uma proeminente advogada e ativista pela democracia e os direitos humanos, assassinada em sua própria casa na quarta-feira, após chegar das urnas. A morte de Salwa chocou a comunidade internacional e os próprios líbios, levando a declarações tocantes por parte de líderes mundiais como o secretário da ONU, Ban Ki Moon, e a Conselheira de Segurança Nacional Americana, Susan Rice[6].
Em outras partes da Líbia a violência também marcou a quarta-feira. Na cidade de Beida, um carro bomba explodiuem frente ao prédio onde um grupo está trabalhando para redigir a nova Constituição do país, mas ninguém foi ferido[7].
O resultado das eleições deve ser divulgado nos próximos dias, mas, para muitos analistas, essa é a última possibilidade para se reaproximar da democracia. “A eleição é realmente a última chance para ter um acordo de partilha de poder, algum tipo de governo democrático que funcione, a alternativa é um impasse prolongado e erupções de violência”[8] – afirmou Mattia Toaldo, do Conselho Europeu de Relações Internacionais.
Os Estados Unidos, que ajudaram os rebeldes a derrotar o regime de Gaddafi, também estão esperançosos de que esse é apenas o primeiro e grande passo na construção de um futuro melhor para a Líbia. Em declaração oficial o presidente Barack Obama parabenizou o país e afirmou que o novo Governo deve focar em construir o consenso e se esforçar para resolver problemas de segurança, serviços públicos e participação política[9].
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Imagem (Fonte):
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Fontes Consultadas:
[1] Ver:
[2] Ver:
[3] Ver:
http://www.theguardian.com/world/2014/jun/25/libya-revolution-democracy-confusion-voters
[4] Ver:
[5] Ver:
http://allafrica.com/stories/201406270872.html
[6] Ver:
[7] Ver:
[8] Ver:
http://www.theguardian.com/world/2014/jun/25/libya-revolution-democracy-confusion-voters
[9] Ver:
http://www.einnews.com/pr_news/211206236/statement-by-the-president-on-the-elections-in-libya
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Ver também:
http://online.wsj.com/articles/prominent-activist-slain-in-libya-1403784113
Ver também:
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