Em 9 de outubro (2020), poucos dias antes da data alusiva às crianças no Brasil, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) divulgaram para debate público o relatório “COVID—19 e a educação primária e secundária: repercussões da crise e implicações de políticas públicas para a América Latina e o Caribe”. O documento destaca especialmente as lacunas educacionais na região devido ao fechamento de escolas em meio ao desafio imposto pela doença.
Em meados de agosto (2020), estimava-se que pelo menos um terço das crianças em idade escolar – 463 milhões em todo o mundo – foi incapaz de acessar o ensino remoto. Globalmente, 72% dessas crianças vivem nas famílias mais pobres de seus países.
No auge dos bloqueios nacionais e locais, quase 1,5 bilhão foram afetadas pela interrupção das aulas presenciais. Adicionando-se a isso, o UNICEF sugere como reflexão que não há garantia da efetividade de aprendizado por meio dessas plataformas devido a outros fatores: como a pressão para fazer tarefas domésticas, obrigação de trabalhar, um ambiente ruim para aprendizagem e falta de apoio para seguir o currículo online ou sua transmissão.
No entanto, faz-se importante mencionar que os dados apresentados pelo referido organismo internacional se baseiam no número de crianças potencialmente atingidas por meios de radiodifusão ou soluções de internet, ou seja, na disponibilidade de ativos relacionados (TV, rádio e internet) em casa, e não em seu uso real pelas crianças. Portanto, o número de crianças “potencialmente alcançadas” são estimativas superiores da realidade das crianças “efetivamente alcançadas”.

Em médio prazo, a lacuna entre o acesso desigual aos recursos necessários à aprendizagem e às modalidades de educação a distância de qualidade serão representadas pela expressiva perda de capital humano. No caso da América Latina e do Caribe, a Comissão Econômica para América Latina e Caribe (CEPAL) prevê um aumento da taxa de pobreza de pelo menos 14,5%, o que representa mais 28,7 milhões de pessoas.
Assim, a recomendação latente pelo PNUD e UNICEF vai ao encontro dos governos concentrarem seus esforços no planejamento da reabertura das escolas com senso de urgência. A estratégia visa o nivelamento do acesso à educação, bem como na manutenção do papel protetor das escolas, garantindo os serviços que foram interrompidos e o bem-estar emocional da comunidade educacional.
Para auxiliar no planejamento pretendido, orientações aos governos estão disponíveis nos sites das agências das Nações Unidas. A título de ilustração, seguem algumas preocupações e medidas prévias:
– Todas as escolas devem dispor de abastecimento de água e esgoto sanitário, bem como promover práticas de higiene que propiciem condições de saúde. Para isso, uma lista de avaliação foi desenvolvida para permitir uma primeira análise (clique neste link para acessar ao material);
– Promover a Busca Ativa Escolar. Trata-se da metodologia social que por meio de uma plataforma tecnológica gratuita visa apoiar municípios e estados no enfrentamento do abandono e da exclusão escolares. O guia atualizado está disponível (em português) neste link;
– Incentivar o amparo à saúde mental e apoio psicossocial de crianças e adolescentes. Orientações para profissionais da educação podem ser encontradas aqui.
Para mais informações, acesse ao relatório (em espanhol) neste link.
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Fontes das Imagens:
Imagem 1 “Impacto da pandemia na educação – Foto: PNUDLAC” (Fonte):
Imagem 2 “Reabertura segura das escolas. Fundo das Nações Unidas para a Infância – Foto: UNICEF”(Fonte):