Um grupo da Missão de Apoio das Nações Unidas na Líbia (UNSMIL, na sigla em inglês), foi à capital Trípoli na última sexta-feira, dia 8 de agosto, para tentar negociar um cessar fogo entre facções rivais que têm se enfrentado com violência pelo controle do país no último mês[1]. Segundo o comunicado oficial da UNSMIL, a delegação analisará as necessidades humanitárias do país e “está trabalhando de perto com a comunidade internacional em um esforço conjunto para atingir um cessar fogo durável e sustentável”[2].
A decisão veio depois que o novo Parlamento da Líbia se reuniu pela primeira vez na última segunda-feira, dia 4 de agosto, na cidade de Tobruk, desde sua eleição em 25 de junho[3] e pediu um cessar fogo imediato a ser supervisionado pela ONU. A intervenção da Organização nesse sentido pode ajudar a fazer valer o ultimato, tendo em vista que muitas milícias e mesmo parte da população já declararam considerar o Parlamento inconstitucional[4].
Para os países ocidentais, no entanto, o Parlamento é o passo necessário para tentar criar a inclusão e o diálogo necessários entre as diversas facções que se sentem no direito de governar o país. Isso porque o Conselho Nacional de Transição (CNT), que foi substituído pelas eleições de junho, subsidiou as milícias, contratando-as como forças semioficiais para projetar sua autoridade em outras cidades e subúrbios depois da morte de Gaddafi e o subsequente vácuo político em que o país se encontrou. O que era uma forma de polícia local, em cidades estrategicamente importantes e ricas, no entanto, logo degenerou em “entidades parasitas e predatórias perigosas, buscando agendas que são, por vezes, criminais, políticas e ideológicas”[5] e que, por serem ligadas a órgãos do Estado, se sentem no direito de governá-lo[5].
Assim, pode-se dizer que parte do que vemos hoje em Trípoli e Benghazi, cidades onde a violência das últimas semanas já fez diversos países fecharem suas embaixadas e evacuarem o pessoal[6], é uma consequência da imprudência do CNT e uma falha dos países ocidentais que intervieram na Líbia armando milícias contra Gaddafi e logo se retiraram deixando apenas uma missão da ONU, limitada em número e escopo para acompanhar o processo de transição. “Os países da OTAN se entusiasmaram para livrar a Líbia de Gaddafi, de sua velha ordem, mas mostraram interesse limitado ou pouca disposição em investir para criar uma nova ordem”[7], afirma Robin Wright, autor e pesquisador do Wilson Center, nos Estados Unidos[7].
Desde então, o isolamento mundial da Líbia se acentua e o fechamento de diversas embaixadas estrangeiras no país face a espiral de violência encontrada é um atenuante à situação, já que as informações sobre a situação no local se tornam mais raras e menos confiáveis. Por outro lado, enquanto fortes confrontos pelo controle do aeroporto de Trípoli deixam o país quase inacessível e inescapável por ar, por terra, Egito e Tunísia fecharam suas fronteiras frente à massa de refugiados que as ultrapassavam todos os dias e pelo medo de que a violência os alcançasse[8].
Para limitar a ação das milícias, o Parlamento avisou que tomaria medidas contra quem desrespeitasse o pedido de cessar fogo e votou uma medida* que concede, temporariamente, certos poderes executivos à legislatura, a fim de retomar os rédeas do país[9].
No entanto, até o momento, o cessar fogo não surtiu o efeito esperado no país e pode não vir a surtir já que não há um Exército para impor a decisão. Se o novo Parlamento não for capaz de criar o diálogo esperado e acalmar os ânimos das milícias, a violência e radicalização crescentes, além de desestabilizar vizinhos**, ameaçam transformar a Líbia em um país falido[7]. Na última quarta-feira países da África e os Estados Unidos expressaram durante uma conferência em Washington grande preocupação com a situação na Líbia e pediram que a população rejeite o terrorismo e a violência e que as partes da disputa cheguem a um acordo[10].
Nesse cenário, é importante lembrar que a falta de estabilidade na Líbia e também no Iraque afeta todo o mundo, já que os dois são grandes produtores de petróleo, o que pode elevar os preços do produto e criar crises de efeito mundial[11]. Tal panorama coloca em questão também uma possível intervenção militar do Ocidente, apoiada por muitos especialistas como a única solução para o fim da crise no país. Apesar do primeiro-ministro Abdullah al-Thinni afirmar que não quer uma nova intervenção, ele pede que os países ocidentais terminem o que começaram, ou seja, ajudem a reconstruir o Estado e suas instituições, por exemplo, treinando e armando o Exército para fazer frente às milícias[12].
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*A medida é válida até que o país eleja um novo Presidente.
** Pesquisadores afirmam que muitos jihadistas que hoje atuam na Síria e no Iraque foram treinados na Líbia, sem contar que muitas armas dadas pelo Ocidente às milícias líbias foram parar em outros conflitos, como a guerra no Mali.
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Imagem (Fonte):
http://www.nbcnews.com/news/
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Fontes consultadas:
[1] Ver:
http://af.reuters.com/article/
[2] Ver:
[3] Ver:
[4] Ver:
http://www.reuters.com/
[5] Ver:
[6] Ver:
http://www.nytimes.com/2014/
[7] Ver:
http://www.nbcnews.com/news/
[8] Ver:
[9] Ver:
http://www.news24.com/Africa/
[10] Ver:
[11] Ver:
[12] Ver:
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Ver também:
http://www.un.org/apps/news/
Ver também: