O futuro da agricultura e a garantia da segurança alimentar, em contraste aos desafios experienciados na contemporaneidade, compõem um debate que permeia o continente africano como um todo. A preocupação consiste na criação de políticas que se adaptem aos fenômenos socioeconômicos atuais, que considerem as necessidades da população, ao mesmo tempo em que ofereçam oportunidades de desenvolvimento aos países africanos.
Nesta perspectiva, a 10º edição do Fórum da Revolução Verde Africana contemplou este diálogo, voltado para garantia da disponibilidade de alimentos em uma sociedade em crescente urbanização. Intitulada Feeding Africa’s Cities, o fórum ocorreu no mês de setembro (2020), sediado em Ruanda e transmitido virtualmente, contando com a participação de Chefes de Estados, Ministros, empresários e representantes da sociedade civil.
Além dos aspectos de produção, também foi debatida a inclusão de uma agenda que compreenda o papel fundamental desempenhado pelos mercados tradicionais na distribuição de alimentos, que corresponde a 80% do varejo no continente. Como evidencia o relatório desenvolvido para esta edição do fórum, há aproximadamente 60 milhões de fazendas na África, que deverão se adaptar e suprir a demanda da população urbana em expansão, cuja prospecção de crescimento evidencia um processo que tem ocorrido nos últimos cinco anos.

Tal perspectiva acompanha as pautas advogadas pela agroecologia, como vertente de pensamento para o desenvolvimento sustentável aplicado à realidade da agricultura local.
Especificamente, a agroecologia combina o conhecimento científico com práticas tradicionais, buscando criar autonomia socioeconômica e inclusão das minorias étnicas e de mulheres e jovens.
Nesse sentido, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, sigla em inglês para Food and Agriculture Organization) estabelece que os elementos que compõem a agroecologia estão interligados e são interdependentes. Em síntese, entre estes encontram-se: a busca pela diversificação dos produtos; sinergia da produção com o ecossistema; inovação com recursos locais; a busca por alternativas com o menor impacto ambiental; proteção e justiça social da população do campo; preservação da tradição alimentar e cultural local.

As experiências do oeste africano, no quadro de produção e distribuição de alimentos, se deparam com diversos desafios específicos das vivências desta sub-região. De acordo com o Painel Internacional de Especialistas em Sistemas Alimentares Sustentáveis, os aspectos climáticos e suas consequências ao meio ambiente, somado às pressões causadas por instabilidades políticas, socioeconômicas e a presente crise ocasionada pela pandemia comprometem a resiliência do sistema de produção agrícola.
Este panorama torna-se complexo tendo em vista a estrutura da produção de alimentos na África Ocidental, ainda que a produção em grande escala para a exportação seja presente. Majoritariamente, o mercado interno é suprido pelas pequenas propriedades agro-silvo-pastoris, que se veem mais vulneráveis aos desafios já mencionados.

Complementarmente, a Organização Internacional para Migrações (IOM, sigla em inglês para International Organization for Migration) salienta que o oeste africano é uma sub-região marcada pelas movimentações migratórias, e o fenômeno migratório sazonal e permanente poderia se tornar mais acentuado com as mudanças climáticas, os efeitos na agricultura e, consequentemente, teria impacto na renda das populações.
A alternativa apresentada pela Organização e pelo Painel Internacional de Especialistas em Sistemas Alimentares considera a agroecologia o caminho mais eficiente para desenvolver resiliência diante das transformações vivenciadas. Para tanto, a adaptação para sistemas produtivos agroecológicos não só beneficiaria o meio ambiente como também proveria as comunidades marginalizadas a maior acesso à justiça social e autonomia. Neste contexto, a agricultura periurbana, ou seja, as produções que ocorrem na periferia de grandes cidades, também devem ser consideradas nas dinâmicas da agroecologia, tendo em vista que desempenha um papel importante na suplementação do abastecimento da cidade.
Os princípios da agroecologia residem na esfera de elaboração de políticas que priorizem a preservação ambiental, a proteção da tradição alimentar característica da região e a segurança alimentar. Contudo, por ser uma área extensa, que interage com diferentes níveis da sociedade, a elaboração de políticas também deve considerar a criação de meios que facilitem o produtor a ter acesso à regulamentação de venda, ao espaço no mercado interno, a financiamentos, à aquisição de sementes, entre outros.
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Fontes das Imagens:
Imagem 1 “Agricultura, imagem ilustrativa” (Fonte):
http://www.sustainapedia.com/wp-content/uploads/2014/05/agroecology.png
Imagem 2 “Logo da FAO” (Fonte):
Imagem 3 “Localização do oeste africano, realçado em verde” (Fonte):
https://en.wikipedia.org/wiki/West_Africa#/media/File:Africa-countries-WAFU-UFOA.png
Imagem 4 “Logo da Organização Internacional para Migrações” (Fonte):