Os anúncios de acordos dos EUA com a China não causam estranhamento. A política de apaziguamento da sociedade internacional com o intuito de garantir a coordenação do sistema mostrou-se o principal foco da política externa norte-americana desde os primeiros discursos do presidente eleito dos EUA, Barak Obama.
Com relação à China, a questão não é puramente militar, mas um complemento político para dar corpo às aproximações, acordos e parcerias econômicas que os norte-americanos estão entabulando com os chineses. Isso se explica pela atual grandeza da economia desse país, pelo mercado que ela representa e a forma como os EUA estão fazendo aproximações e investimentos, seja para se associar na produção, seja para garantir um mercado significativo, quando a inclusão econômica da população estiver avançada.
O problema de Taiwan (Formosa) povoa e problematiza as relações. Desde que o comunismo se implantou na China Continental (1º de outubro de 1949 – vitória da Revolução Maoísta) que os países do Bloco Ocidental, sob a liderança dos EUA, se voltaram para Taiwan como base de apoio, com o intuito de confrontar qualquer avanço dos comunistas pelo Mar da China.
Pode-se considerar que a ilha de Formosa funcionava como um porta-aviões dos EUA na região. Além disso, também seria um amparo aos japoneses, que, da perspectiva geoestratégica norte-americana, era outro porta-aviões, mas para fazer frente ao avanço da União Soviética no Oceano Pacífico. Daí a necessidade de apoio militar, apoio político e investimento de recursos em Taiwan.
Quando do governo George W. Bush, a China ainda não tinha o PIB que tem e os procedimentos em política externa tinham retornado a um realismo no estilo da década de 60 do século XX, justificado por George W. Bush pela guerra contra o terrorismo. Naquele momento, contudo, todos criam no avanço do processo de negociação como o modus operandi da política internacional, mas aceitou-se o retrocesso devido à urgência conjuntural apresentada pelo departamento de Estado dos EUA e aceitos pela sociedade internacional: o terrorismo era financiado por alguns Estados que não estavam inseridos no novo contexto mundial.
No final do século XX e início do século XXI esse realismo era visto por grande número de agentes, líderes e intelectuais como um anacronismo, pois, de acordo com a disciplina Relações Internacionais esta concepção teórica (a realista) preconiza que a “política de poder” é a forma de ação prioritária no cenário internacional, sabendo-se que em sua forma pura ela está centralizada na força militar, ou capacidade estratégico-militar.
De acordo com a crença geral o que emergia era a “governança global”, com privilégio para a negociação. As críticas existiam e as contraposições se mantiveram até o surgimento de Barak Obama, mas a relativa aceitação aos procedimentos realistas puros não foram abandonados.
Com o novo governo, de estilo democrata (Partido Democrata do EUA), o realismo puro foi afastado, pois o atual cenário está relativizado com o desenvolvimento de formas alternativas de combate ao terrorismo, principalmente investindo mais nos serviços e análises de inteligência, para darem suporte às ações policiais especializadas.
Ademais, para entender a dimensão do novo cenário, China têm no momento o terceiro PIB mundial; a economia e as informações estão interdependentes e o mundo vive uma crise financeira global. Diante disso é prioritário aos EUA garantir a aproximação com o gigante chinês, ao invés de confrontá-lo. Os acordos militares se inserem neste contexto. Amenizam-se as conversas sobre Taiwan, já que a China Continental a considera apenas uma província rebelde, que, cedo ou tarde, será reincorporada e os EUA não podem bater na tecla, pois apenas polarizarão as discussões. A sua prioridade é acompanhar os chineses lado a lado, em todos os seus avanços políticos e econômicos, pois o salto que eles darão será gigantesco se incorporarem a ilha de Taiwan, algo não absurdo, desde que feitas às negociações corretas e adequadas. Afinal, estamos vivendo numa era de negociações. Diante da necessidade Americana na atual conjuntura mundial, o melhor é acompanhar aquele que pode ser o seu oponente na segunda metade do século XXI. Admitindo-se que os EUA continuarão sendo o que são.