O presidente venezuelano, Hugo Chávez, continua diversificando a busca de parcerias comerciais para Venezuela, com o intuito manter sua política externa e evitar um possível isolamento do país. Isso se mostrou necessário, à medida que os recursos vindos do petróleo diminuíram, com a queda do preço do barril, bem como à medida que as interferências do seu governo nas políticas internas dos demais países do continente começaram a ficar transparentes, mostrando as intenções geoestratégicas da política externa chavista, a qual passou a receber críticas diretas de analistas e líderes políticos da América.
Recentemente, Chávez anunciou a aquisição de 350.000 nootebooks, modelo Magalhães, da empresa portuguesa JP Sá Couto, para distribuir nas escolas da Venezuela. A idéia inicial, anunciada em 2008, era adquirir 1.000.000 de unidades para investir no sistema de educação venezuelano.
O anúncio da aquisição, prevendo negociações em futuro breve para a fabricação desses computadores no próprio país, ocorreu logo após a aprovação na Assembléia venezuelana da Lei Orgânica da Educação (semana passada), que transforma as escolas do país em “centros comunitários”. Essas escolas ficarão sob a administração de agentes políticos. Analistas crêem que o objetivo é tirar a autonomia do ensino superior, pois dará controle político à educação de base.
Com a medida, além das ações feitas em ocasiões anteriores no conteúdo programático dos cursos e no conteúdo dos livros didáticos, o governo continua cumprindo à meta de tutelar ideologicamente o povo, mantendo uma reserva de partidários jovens para apoiar seu planejamento estratégico em longo prazo.
Para Chávez, que já tem a imprensa sob controle e cuja oposição não tem unidade, nem força para confrontá-lo, é importante manter o povo apoiando-o neste momento, pois, apesar de a América do Sul estar centrada no questionamento do acordo militar entre Colômbia e EUA, também estão sendo feitas críticas aos seus investimentos nas FARC. Além disso, o presidente venezuelano está constrangido com a urgência de substituir a Colômbia como parceira comercial importante, cujo montante das trocas comerciais ocorre na casa dos US$ 7 bilhões, apesar de ela ser a grande inimiga de seu regime.
A principal alternativa tem sido a Argentina. O Paraguai também tem buscado firmar acordos comerciais com Hugo Chávez, razão pela qual Fernando Lugo, presidente paraguaio, retirou a solicitação de votação da entrada da Argentina no MERCOSUL (Mercado Comum do Sul), com receio de que a provável reprovação no Senado paraguaio inviabilizasse os acordos comerciais que Lugo tem em vista com Chávez.
A aproximação com Portugal, embora já esteja na pauta desde o ano passado, será importante no contexto de sua política externa. Outra medida que reforça seu planejamento e deve estar centrada na estratégia de substituição da importância comercial da Colômbia, é a aceitação do pagamento com feijão preto da dívida de US$ 12 milhões que a República Dominicana tem com a Venezuela, pelo fornecimento de petróleo. Os colombianos são os mais importantes fornecedores de gêneros alimentícios para a Venezuela e a troca de petróleo por feijão dominicano a partir de 2010, segundo o anunciado, auxilia taticamente ao governo de Chávez.
A medida, apesar de estar recebendo críticas internas, já era prevista estruturalmente pelo acordo da Petrocaribe, que reúne dezoito países signatários (Antigua e Barbuda, Bahamas Belize, Cuba, Dominica, Granada, Guatemala, Guiana, Haiti, Honduras, Jamaica, Nicarágua, República Dominicana, São Cristóvão e Neves, São Vicente e Granadinas, Santa Lucia, Suriname, Costa Rica e, também, a Venezuela).
Pelo acordo, cuja proposta foi feita por Hugo Chávez em 2005, o pagamento dever ser realizado com 60% no momento da compra e os restantes 40% podendo ser financiados em até vinte e cinco anos, com 1% de juros. Esse financiamento também pode ser substituído por outras formas, dentre elas fornecimento de serviços, ou produtos. Tais medidas dão fôlego ao venezuelano, pois se constituem como alternativas.
A aproximação com Portugal, também se insere nesse contexto. Ela é uma aproximação com vistas a firmar parcerias diversas daquelas já firmadas pelo venezuelano e da qual já se prevê os resultados. É o caso das parcerias feitas com os países que compõem o eixo “anti-norte-americano”. Dentre eles está o Irã, para onde Chávez já anunciou uma viagem no início de setembro.