O pedido feito por Fernando Lugo, Presidente do Paraguai, para que se retirasse da pauta do Senado de seu país a votação da entrada da Venezuela como membro permanente no MERCOSUL, deve ser visto mais como mudança tática, ou pequeno recuo estratégico, ou apenas uma alteração de procedimentos, para alcançar os mesmos objetivos estratégicos da entrada da Venezuela no Bloco.
Para que os venezuelanos entrem é necessário que os Congressos dos quatro países membros permanentes aprovem à solicitação. Uruguai e Argentina já o fizeram por razões específicas suas e não para auxiliar na construção do Mercado Comum. No Brasil, há oposições significativas, tanto no Senado, quanto na Câmara dos Deputados, existindo possibilidades de que não seja aprovada a entrada venezuelana.
O Paraguai passa pela mesma situação. A oposição no Senado detém a maioria e tem pronunciado que a presença dos venezuelanos será um agente desestabilizador político, podendo, ademais, não trazer benefícios econômicos, tanto diretos, quanto indiretos.
Como utensílio para o argumento, a oposição tem afirmado que o desrespeito chavista pela Democracia é o principal impeditivo. Já o pronunciamento dos situacionistas é de que a oposição está centrando o foco no presidente Chávez, ao invés de olhar para a Venezuela, que se mostra como um grande mercado para eles e tem condições de auxiliar nas questões energéticas, além de dar suporte ao Paraguai nas contendas que este possa ter com o Brasil.
Lugo, no entanto, está mais preocupado em não sair derrotado da disputa e o pedido que fez configura-se como uma retirada estratégica. Como a oposição está mais bem colocada no Congresso, o presidente espera por uma oportunidade adequada para agir em prol da Venezuela e isso pode ocorrer se algumas condições se apresentarem: o sucesso nas negociações entre Paraguai e Brasil, pode dar força política ao presidente para enfrentar os seus opositores internos; a mudança na configuração do congresso paraguaio e os resultados positivos nas negociações comerciais entre Argentina e Venezuela, pois obrigará aos congressistas paraguaios reverem posicionamentos para que seu país possa também realizar acordos com vistas a pegar o mercado venezuelano que deseja se afastar da Colômbia, abrindo um campo de oportunidades.
De qualquer forma, a solicitação feita por Fernando Lugo não modifica seu posicionamento, nem sua convicção ideológica, apenas altera o procedimento estratégico, senão apenas o tático.