Persistem ainda em pleno século XXI – a suposta era da planificação mundial[1] – muros que dividem pessoas, culturas e religiões. Para analistas internacionais e especialistas no tema, os muros que dividem os Estados Unidos do México; a Coreia do Sul da Coreia do Norte; a Espanha do Marrocos; e Israel da Cisjordânia, além daqueles que estão sendo construídos, como o muro que separará a Bulgária da Turquia[2], representam a verdadeira tentativa de algumas nações em garantirem a autonomia nacional.
Cresce agora a probabilidade de o Governo queniano erguer um muro ao longo de toda fronteira deste país com a Somália[3][4]. Segundo autoridades locais, a construção objetiva reduzir o número de ataques do grupo terrorista Al-Shabaab às cidades locais, como na cidade de Mandara, na tríplice fronteira do Quênia com a Somália e a Etiópia[5][6].
Segundo o governador do distrito de Lamu, no Quênia, Issa Timamy, a construção do muro, de extensão estimada de 682 quilômetros, “é uma boa ideia e nós [quenianos] devemos apoiá-la porque será eficiente em garantir a segurança da região fronteiriça e de todo o país”[4].
Ler a construção e manutenção de muros ao redor do mundo como política para manutenção da autonomia nacional, talvez seja uma forma correta de compreender este processo. O conceito de autonomia nacional significa, em outras palavras, as tentativas de um governo nacional em garantir o status quo econômico, social e político, prevenindo-se de comportamentos inesperados como a expansão do fluxo de imigrantes ou de ataques terroristas. Acima de tudo, significa ler este processo como manutenção do poder e da posição geopolítica favorável em relação a certa região.
Conforme se pode observar, erroneamente, alguns analisam tais situações de maneira superficial, creditando o extremismo islâmico como o principal incentivo à construção de tais muros, especialmente nos casos de Israel/Cisjordânia, Bulgária/Turquia e agora Quênia/Somália. Contudo, desde os ataques ao Charlie Hebdo, passando pelos sequestros realizados pelo Boko Haram na Nigéria e chegando finalmente aos ataques realizados em território queniano pela Al Shabaab, os jihadistas aparecem, primeiramente, como indivíduos marginalizados em seus locais. Assim, divergências religiosas aparecem muito mais como um canal de concentração de indignação e revolta pelas condições econômicas e sociais do que propriamente como causa dos ataques.
Não à toa, percebe-se que muros emergem em condições de extrema disparidade de poder, onde o lado que luta pela manutenção de sua autonomia vê a construção de muralhas como passo essencial para mitigar as ameaças externas. Dessa maneira, se o Muro de Berlim era sustentado por ideologias distintas, os muros de hoje em dia são, acima de tudo, produtos da realidade empírica do novo milênio: o mundo não é plano ou igualitário e tampouco oferece oportunidades de vida e desenvolvimento iguais a todos.
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Imagem (Fonte – Daily Newiz):
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Fontes Consultadas:
[1] Ver:
FRIEDMAN, T, L. O Mundo é Plano: uma breve história do século XXI. Editora Objetiva, 2005.
[2] Ver “The New York Times”:
[3] Ver “The New York Times”:
[4] Ver “The Guardian”:
http://www.theguardian.com/world/2015/mar/02/kenya-wall-israel-separation-barrier
[5] Ver “BBC News”:
http://www.bbc.com/news/world-africa-30288137
[6] Ver “Standard Digital News”: