Especialistas consideraram repentino, mas bem planejado, os exercícios militares protagonizados pela Federação Russa entre os dias 17 a 21 de julho (2020), quando foram mobilizados cerca de 150 mil militares, 414 aeronaves e mais de 100 navios de guerra (divididos entre o Mar Negro e o Mar Cáspio) que participaram de um evento operacional, executando um total de 56 exercícios separados, em vários graus de intensidade, como parte da verificação de prontidão de combate.

O Teatro de Operações fictício se deu na região sudoeste do país, o que, pela movimentação do grande número de soldados e armamentos, deixou a vizinha Ucrânia em estado de alerta, devido ao desbalanceamento geopolítico entre as duas nações, ocasionado pelo processo de anexação da Península da Crimeia em 2014, aliado a conflitos armados entre tropas do Governo ucraniano e separatistas pró-Rússia na região de Donbass, o que rendeu para a Rússia diversas sanções político-econômicas provindas dos EUA e União Europeia (UE), desde então.
De acordo com o Ministério da Defesa russo, conforme relatado pela TASS, a inspeção foi projetada para avaliar a capacidade dos centros de comando militar de garantir a segurança no sudoeste do país, onde persistem ameaças relacionadas ao terrorismo. Os chefes também queriam avaliar a preparação das tropas e forças para o próximo comando estratégico Kavkaz-2020 (Cáucaso 2020, traduzido do russo) e exercício de pessoal que se realizará em setembro. O órgão também citou que a verificação surpresa de prontidão de combate das tropas é uma medida de treinamento e não é dirigida contra outros países, ressaltando especificamente que não estava relacionado com a situação na fronteira Armênia-Azerbaijão.
Antigas repúblicas soviéticas, Armênia, de maioria cristã, e Azerbaijão, nação muçulmana, estão em conflito constante desde as respectivas autonomias com o fim da URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas). A principal disputa, de âmbito étnico-territorialista, gira em torno de Nagorno-Karabakh, região azeri separatista situada no sudoeste da fronteira com a Armênia, que foi ocupada por azeris de origem étnica armênia, ao cabo de uma guerra, nos anos noventa, que resultou pelo menos em 30.000 mortos.
Nas últimas semanas houve diversos bombardeios pesados nas regiões setentrionais de Tovuz e Tavush, causando a morte de dezenas de militares e civis de ambos os lados. Um escalonamento do conflito se intensificou quando autoridades do Azerbaijão ameaçaram atacar uma central nuclear da Armênia, responsável pela produção de energia elétrica consumida em grande parte da região, caso ela investisse em ataques a centros estratégicos azeris.

Para analistas militares, não houve a aclamada coincidência de eventos e, sim, um tipo de aviso cautelar por parte da Rússia com sua movimentação de tropas, para que as amenidades entre os dois países sejam restabelecidas sem que ela tenha que intervir belicamente, principalmente pelo fato de que a Armênia é um grande aliado russo, a qual cedeu área para implantação de base militar russa em seu território e é membro ativo da Organização do Tratado de Segurança Coletiva (CSTO, do inglês Collective Security Treaty Organization), um bloco político-militar sob os auspícios da Federação Russa na região do Cáucaso.
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Fontes das Imagens:
Imagem 1 “Desembarque de tropas russas” (Fonte):
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/5/5c/Zapad-2009_military_exercises.jpg
Imagem 2 “Mapa da região do Cáucaso” (Fonte):
https://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%A1ucaso#/media/Ficheiro:Caucasus-political_pt.svg
Imagem 3 “Bandeira da Organização do Tratado de Segurança Coletiva” (Fonte):