Na última quarta-feira (19 de novembro), várias informações foram publicadas por Órgãos das Nações Unidas referentes ao combate à desnutrição. De acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e a Agricultura (FAO), apesar da América Latina e Caribe ter sido a única região do mundo a alcançar antecipadamente a meta de combater a fome nos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, a fome ainda afeta 37 milhões de pessoas na região e é a responsável pela desnutrição crônica de 7,1 milhões de crianças com menos de cinco anos[1]. O problema não se trata apenas da desnutrição, mas também da dieta, pois a obesidade afeta 23% dos adultos na região e, aproximadamente, 3,8 milhões de crianças menores de cinco anos sofrem com sobrepeso[1].
No mesmo dia, o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) denunciou números alarmantes na região do Sahel, na África, que compreende os países de Burkina Faso, Camarões, Chade, Gâmbia, Mali, Mauritânia, Níger e Senegal. Aproximadamente 24,5 milhões de pessoas sofrem de insegurança alimentar; 4,8 milhões de crianças menores de 5 anos sofrem com desnutrição moderada e 1,6 milhão de crianças padecem de desnutrição aguda[2].
Nos últimos anos, a região apresentou uma das maiores médias de crescimento econômico no mundo, porém continua como umas das mais pobres. Inúmeros problemas estruturais ligados à instabilidade política e à insegurança provocaram o aumento exponencial nas necessidades dos seus habitantes. Um reflexo disto é o considerável aumento do montante destinado estes lugares. A Organização das Nações Unidas (ONU) informa que solicitava à comunidade internacional um volume de US$ 250 milhões para aliviar os problemas na região há dez anos. Em 2014, os pedidos alcançam a marca de US$ 2,4 bilhões[2].
Por fim, após 22 anos, a FAO e Organização Mundial da Saúde (OMS) realizaram a Segunda Conferência Internacional sobre Nutrição (ICN2), em Roma, com a participação de Ministros e funcionários de alto escalão de 170 países[3]. Entre os resultados das negociações e parcerias, os atores políticos adotaram a Declaração de Roma sobre Nutrição[4] e o Quadro de Ação[5].
A Declaração de Roma sobre Nutrição consagra o direito de todos ao acesso a alimentos seguros, suficientes e nutritivos, comprometendo os governos a prevenir a nutrição inadequada em todas as suas formas, incluindo a fome, as deficiências de micronutrientes e a obesidade. Nesta Declaração, o impacto reside não apenas sobre a população carente de alimentos, mas também no público que consome alimentos industrializados e pobres em nutrientes. Nessa linha, Margaret Chan, diretora-geral da OMS, afirma que “parte do mundo tem muito pouco para comer, deixando milhões vulneráveis à morte ou às doenças causadas por deficiências de nutrientes. Outra parte come em excesso, com a propagação da obesidade a fazer cair a esperança média de vida e a fazer subir os custos com cuidados de saúde para valores astronômicos”[3]. A dualidade não está tão distante quanto se imagina, pois as diferentes formas de nutrição inadequada permitem a coexistência de pessoas com deficiências de micronutrientes e ao mesmo tempo obesas na mesma residência[3].
O Quadro de Ação reconhece o papel e a responsabilidade principal dos governos em responder aos desafios nutricionais. Entretanto, informa que um diálogo deve ser construído junto com a sociedade civil, o setor privado e as comunidades afetadas. De acordo com o diretor-geral da FAO, o brasileiro José Graziano da Silva: “Temos o conhecimento, a experiência e os recursos necessários para superar todas as formas de nutrição inadequada. […] Os governos devem liderar o caminho […], mas a pressão para melhorar a nutrição global deve ser um esforço conjunto, envolvendo organizações da sociedade civil e o setor privado”[3].
Entre as metas específicas, os países signatários devem alcançar resultados concretos até 2025, incluindo as metas para melhorar a saúde nutricional materna, jovem e infantil, além da redução de fatores de risco associados com os hábitos alimentares que levam às doenças, como a diabetes, doenças cardíacas e certos tipos de câncer.
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Imagem (Fonte):
http://www.fao.org/fileadmin/user_upload/red-icean/img/ICN2%20logo.jpg
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Fontes consultadas:
[1] Ver “Nações Unidas Brasil”:
http://nacoesunidas.org/fao-37-milhoes-de-pessoas-ainda-vivem-com-fome-na-america-latina-e-caribe/
[2] Ver “Exame”:
http://exame.abril.com.br/mundo/noticias/6-4-milhoes-de-criancas-tem-desnutricao-no-sahel-diz-onu
[3] Ver “Nações Unidas Brasil”:
[4] Ver “Declaração de Roma sobre a Nutrição”:
http://www.fao.org/3/a-ml542s.pdf
[5] Ver “Plano de Ação”:
http://www.fao.org/3/a-mm215s.pdf